Edição online quinzenal
 
Quarta-feira 24 de Abril de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Não há tempo

21-08-2020 - Armando Alves

Entendesse que é tarde de mais. As horas já passaram, o tempo já mudou, o ponteiro dos minutos já passa o meio, enfim, já não vale a pena. É que toda a gente sabe que para ser é logo cedinho, mas amanhã também não dá que tenho um compromisso de manhã e pronto, perde-se logo o dia todo. Mas olha, logo fazemos, não fica esquecido, ah isso é que não. É para se fazer. Depois diz-me alguma coisa. Mas esta semana que vem não vale a pena que estou muito ocupado. A vontade é imensa, ah isso sim, vontade não falta, não é por aí, só que não dá jeito. Só se for depois, depois há tempo para tudo, primeiro é preciso tratar do resto. Isso mesmo, primeiro está o resto que é para depois estarmos descansados.

E assim, os minutos galgam as horas com pressa de ser dias e não se faz nada, porque os entre tantos são para preencher com tolices que não acrescentam coisa nenhuma. E no fim foi uma pena, podia ter sido, devíamos ter feito. Um dia há de se fazer. Um dia é o maior inimigo da mente humana. Uma espécie de ansiolítico para os sonhos que oferece um perigoso descanso. E o sonho lá fica, dormente, descansadinho sem chatear. Porque sonhos toda a gente os quer ver realizados até perceberem que realizar é um verbo que implica acção. Depois queixamo-nos. Não tenho tempo! Diz-se por aí que não há tempo. Esquecem-se é que com o nariz nos ecrãs o tempo também passa. Há sempre tempo para mais um episódio, é num instantinho, e quando olhamos para trás está uma dúzia de horas investidas em nada.

“Já viste aquela série?”

“Já.”

“E então?”

“Nada de especial.”

Desperdício. Depois queixam-se que já têm esta ou aquela idade, que diferença faz se não for para fazer nada? “Lembras-te há dez anos atrás?” Lembro-me. Estavas igual, nem para a frente nem para trás, o mesmo logo se vê, o mesmo hoje não dá jeito. E daqui a outros dez há de ser a mesma coisa se não arranjares um tempinho hoje. Assusta-te o dia? Investe a hora. É uma hora, caramba, tens vinte e quatro. Dorme menos uma, vê menos um episódio, larga o telemóvel e só aí já tens três por onde escolher. Ao fim do ano são trezentas e sessenta e cinco horas. É mais que muitos cursos. Ao fim de uma década podes dizer, lembras-te à dez anos atrás? Tinha menos três mil seiscentas e cinquenta horas aplicadas no meu sonho, e olha para mim agora!” Vai valer bem mais a pena do que andares a por gostos nas fotos do cão do Gouveia ou dos bolos da Dona Ludemila, que se valessem alguma coisa estavam numa pastelaria.

Enfim, não há tempo, o tempo não dá para nada. Tenho isto e aquilo e a vida vai passando.

Armando Alves

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome