Ganhar cada vez menos para pagar cada vez mais impostos
12-09-2014 - Francisco Louçã
A política tem destas coisas, em que lembra a banha-da-cobra: quando o Orçamento Rectificativo confirma a maior factura de impostos da história de Portugal, as conversas enchem-se de insinuações de subtis divergências entre os parceiros governamentais … acerca da redução de impostos futuros (para o ano de eleições, ou simplesmente para prometer, em tempo de eleições, que num dia fausto se baixarão os impostos).
O facto é que pagamos mesmo o máximo de impostos, ao mesmo tempo que os salários (e a pensões) continuam a ser reduzidos. Para que não haja dúvidas, a OCDE publicou há dias o seu relatório anual sobre o emprego, que demonstra que, considerando todos os países mais desenvolvidos, vamos em quatro anos de estagnação salarial. Mas isso nem sequer é igual para todos: como se vê no gráfico (clicar para ampliar), em que a linha azul indica a percentagem da queda salarial desde 2009, Portugal é um dos recordistas na perda de rendimentos de quem trabalha. Espanha vem a seguir (e a Grécia nem é citada).
Os números são claros. Pagamos cada vez mais com cada vez menos salário. Por isso, tem todo o sentido o que escreve João Galamba: entre as medidas que Draghi anunciou, só falta a única verdadeiramente importante, o relançamento da procura para sustentar uma recuperação real do investimento e do emprego. Sem o fim da austeridade, o futuro é igual ao passado e a crise arrastar-se-á langorosamente.
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