Qual Guerra Santa?
12-09-2014 - Francisco Pereira
Ao que foi veiculado, por alguns jornais, existirão pelo menos doze aves raras, portadoras de passaporte português associadas aqueles indigentes intelectuais que defendem um estado islâmico radical e que andam lá pelo Iraque e pela Síria a cometer todo o tipo de barbaridades em nome de um qualquer deus de quem não se conhecem evidências de existência, como aliás de todos.
São muitas as razões para o surgimento deste bando de sevandijas sanguinários. Primeiro, porque o Islão é efectivamente, e sempre foi, um projecto político hegemónico de conquista, que se socorre da religião para mais facilmente alienar o povinho, que assim fanatizado melhor prossegue os objectivos das chefias, ou será que já alguém viu algum dos sheiks do Hizbollah fazer-se explodir, pois não, os que se fazem explodir provém sempre da “ralé”, são os pobres que continuam a morrer pelos ricos e poderosos e isso é válido para o Islão como para qualquer outro sistema político religioso ou não.
O surpreendente aparecimento do denominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante ou mais recentemente Estado Islâmico (EI), como se queira, não é assim tão surpreendente, para quem se interessa um pouco por estas questões, em 2010 um livro de um jornalista espanhol conhecido com António Salas, nome fictício, com o título «O Palestiniano», já alertava para o possível surgir deste tipo de fenómeno, acaso as condições estivessem reunidas.
Ora depois do delírio mais ou menos imbecil de Bush e da sua pandilha, sancionado por Portugal, com o papel de «rapaz dos cafés» desempenhado na perfeição por essa figurinha execrável chamada Durão Barroso, seria de todo expectável que algo do género acontecesse, como agora se constata. O EI é uma amalgama de descontentes, maioritariamente jovens, que fazem a despesa do conflito, são a carne para canhão de um conflito a que o mundo dito civilizado tarda em reagir, é um conflito entre duas mentalidades aparentemente opostas, Islão e Cristianismo, entre Ocidente e Oriente, mas que tem muito mais em comum do que aquilo que há primeira vista se possa pensar.
Como é natural os cordelinhos são puxados por emires bem instalados em palácios de mármore ou em bons apartamentos em Nova Iorque ou em Paris, o dinheiro flúi em torrentes, não apenas de um sistema não informal chamado «al waqf» a que todos os crentes estão obrigados, mas também através de gente rica e poderosa do Quatar, do Iémen, do Kuwait, da Arábia Saudita e de outros países e regiões do Golfo Pérsico. Ora com todo este potencial financeiro não faltam negociantes de armamento dispostos a vender de tudo a esta turba de selvagens.
O capital humano reflecte uma série de falhanços estruturais das duas sociedades aparentemente em oposição. Os países muçulmanos, a população jovem, desempregada, sem perspectivas, esmagada pelos sistemas religiosos que visam apenas manter o estatuto de quem está no poder, viram nessa possibilidade um caminho redentor de se apropriarem dos seus destinos. Mais uma vez se prova que um sistema político repressor baseado na religião é o mais capaz motivador de uma implosão social e da criação de tensões e barbárie.
Nos países Ocidentais, o falhanço da Educação, o falhanço e as mistificações feitos à volta da multiculturalidade, da tolerância e outros temas tão caros às esquerdas progressistas europeias, criaram isso sim viveiros de desenraizados, dispostos à conversão e a lutarem por algo que, talvez, acreditem que possa destruir a sociedade ocidental que odeiam, que os ostracizou, que os ludibriou e à qual nunca se conseguiram adaptar. Todos estes falhanços e muitos outros que por exiguidade de tempo não podemos aludir, deveriam fazer pensar os construtores destas duas sociedades, duvidamos que o façam, mas seria bom o mundo parar para reflectir.
Pela positiva, destacaremos que se tudo correr bem, o mundo ficará livre de uns milhares de alucinados asquerosos e nojentos que não fazem cá falta nenhuma, sendo certo que apenas morrerão os pobres parolos que se deixam encantar por idiotices religiosas. Pela negativa, estamos em crer, que este fenómeno é um teste, primeiramente um teste para os seus promotores, daqui extrairão importantes lições tácticas e estratégicas, para a próxima que tentarem algo de semelhante, isso será levado em linha de conta. É também um teste ao Ocidente, à sua capacidade de união e de combate a sistemas retrógrados e selvagens, mas como se tem visto até agora, muito pouco parece ter sido feito, como de costume a União Europeia rasteja titubeante, sendo historicamente responsável pelo actual estado das coisas em especial França e o Reino Unido, os Estados Unidos reagem, mas ainda assim com contenção, dado que estão ainda muito frescas as feridas abertas com a Guerra do Golfo de 2003.
Para ajudar à festa, Putin e a sua demente noção de ressuscitar o desígnio imperial da Rússia, veio trazer um dispensável motivo de distracção, quando o Ocidente precisa de estar alerta e disponível, eis que a perspectiva de uma guerra às portas da Europa, patrocinado por Putin e pelos mentecaptos que o apoiam vem baralhar a equação e fazer piorar a situação, como se pior fosse possível.
Francisco Pereira
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