Carpintarias, educação e outras águas
15-08-2014 - Francisco Pereira
Os períodos estivais em que muito justamente, se retemperam as forças, são sempre fonte de situações que figuram nos anedotários familiares, no artiguelho de hoje, trataremos de uma dessas situações. A educação vem do berço. Muitas vezes ouvi dizer esta frase, assim como a expressão “nascer em berço de oiro”, ambas interessantes do ponto de vista sociológico, e de estratificação social, dado que os berços eram elaborados por artesãos carpinteiros, obras-primas da arte de trabalhar a madeira, a que só gente endinheirada, logo pretensamente “educada” conseguia chegar.
A globalização e a manufactura em série democratizaram o berço, o plástico atirou as madeiras às malvas, as carpintarias fecharam e os carpinteiros emigraram, decorrendo daí que os berços já não são o que eram, se alguma vez o foram, enquanto sinónimo de educação, e por educação entenda-se respeito pelos outros, civismo e urbanidade.
O episódio conta-se rapidamente. Num recanto de uma praia, uma dezena de famílias irmanadas em manada, como gostam, afastadas do povinho, famílias daquelas em que todos se tratam por você, onde os rapazes tem sempre “Maria” no nome e as raparigas alcunhas ridículas e foneticamente desagradáveis como Pituxa, Babuxa ou Bibá, além de que sofrem horrores dos adenóides e tem sempre vozes roucas, não sei se o ministério da saúde está atento a esta característica que pode indiciar algum perigo para a saúde pública. Para rematar os fedelhos da récua tratam os adultos por “Tio” ou por “Tia” e apresentam sempre aqueles comportamentos birrentos e irritantes que nos levam a detesta-los tão prestes lhes pomos os mirones em cima.
No meio desta verdadeira «elite», uma família que ignorando que as praias têm dono, assentou sossegadamente arraiais ali no meio, suficientemente recatados ali estavam a apreciar a beleza do entardecer dos areais do sul, nisto, as galinhas adolescentes do grupo das famílias de bem, toma conta do areal, demarcando com riscos na areia e com toalhas um campo improvisado de “baseball, e começa a chinfrineira, as bolas a cair e a areia a entrar pelos olhos dos outros, numa atitude verdadeiramente imbecil, que impressionou pela falta de educação e de civismo, a pontos de o jogo só parar quando se informou que a polícia marítima chegaria para colocar na ordem aquela algazarra cretina.
A alguns metros dois “tios” conversavam e berravam invectivações para o jogo, quando este acabou, um deles pergunta o porquê, uma das fedelhas contou que uma “mulher” ameaçara chamar a polícia, e o “tio” olhou para a miúda e falou bem alto, que se isso acontecesse mandasse a “mulher” falar com ele, devia ser o dono da praia ou pelo menos comportava-se como se o fosse!
Não admira que os fedelhos desta “elite” desta verdadeira “creme de la merde” se comportem como uns energúmenos boçais e arrogantes tendo em conta o exemplo dos adultos da manada. Verdadeiramente a educação não vem do berço nem do dinheiro, a educação tem de ser cultivada, alimentada e praticada, e aquela gentalha, não é por se tratarem por «você» que são educados, bem antes pelo contrário.
Junto aquelas calmas águas do sul, onde o Atlântico já tem cheiros e cores do Mediterrâneo, experimentámos o que é viver num bairro da lata, onde gentinha boçal, que se trata por você, faz o mesmo que qualquer animal primitivo, urinando para marcar o território, ai daqueles que lhes invadam o perímetro que acham que lhes pertence, os tão educados “tios”, tratarão de expulsar os intrusos com um jogo de qualquer coisa, e com uma fantástica demonstração daquilo que é ser labrego, mal-educado, pouco civilizado e asno. Aquele episódio fez-nos lucubrar numa séria interrogação, será que Darwin se equivocou, ao não contemplar na sua teorização a possibilidade de existir um fenómeno de “downgrade” evolutivo e que afinal os Neandertal sobreviveram, entrando num processo de “desevolução”, tornando-se “tios”, fisicamente parecidos com o Homo Sapiens sapiens, mas mantendo as características comportamentais rudes, boçais e primitivas do Neandertal?
Esta questão hipotética, faz-nos ter dó daquela maralha, todos a tratarem-se por você, com toda aquela falta de educação e boçalidade, os problemas dos adenóides a rouquidão, as alcunhas ridículas e aqueles ares de rafeiros perdidos são verdadeiramente dignos de dó.
Francisco Pereira
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