Edição online quinzenal
 
Quarta-feira 15 de Maio de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Funcionários do Banco de Portugal, uma casta diferente

18-10-2013 -

Sabiam que o Banco de Portugal comparticipa (Eu diria, paga) a 100% as despesas de saúde dos seus funcionários? Quem paga isso? Somos nós os contribuintes, enquanto a ADSE paga só aquilo que nós sabemos. Eu não sei. Só sei que o meu sistema de saúde é o SNS. Discordo completamente que haja vários sistemas de saúde.
É por isso que funcionários do Banco de Portugal fazem implantes dentários e os “outros implantes" que estão agora na moda às funcionárias e às mulheres dos funcionários.

Como é isto possível?

E nós, que somos os pagantes, ficamos calados?

Neste país há investigadores universitários que estudam todos os dias até altas horas da noite, que trabalham continuamente sem limites de horários, sem fins-de-semana e sem feriados. Há professores universitários que dão o seu melhor, que prepararam cuidadosamente as suas aulas pensando no futuro dos seus alunos, que dão o melhor e sem limites pelas suas universidades. Há polícias que ganham miseravelmente, que não recebem horas extraordinárias, que pagam as fardas do seu bolso e para sobreviverem têm de prestar os serviços remunerados.

Toda esta gente, e muita mais que poderia ser referida, foi eleita como a culpada da crise, denunciada como gorduras do Estado, tratada como inutilidade social, acusada de ganhar mais do que a média, desprezada por supostamente não ser necessária para a direita se manter no poder. Mas há uns senhores neste país que ganham muito mais do que a média dos funcionários públicos, que têm subsídios extras para tudo e mais alguma coisa, que cumprem com incompetência as suas funções, que recebem pensões chorudas, que vivem do dinheiro dos contribuintes como todo o Estado, mas que não foram alvo de nenhuma das medidas de austeridade que até hoje foram aplicadas aos funcionários públicos. São os meninos e as meninas do BdP.

Ainda as pessoas mal estavam refeitas do anúncio da pilhagem aos seus rendimentos e já um tal Costa, governador do Banco de Portugal, vinha defender que as medidas deste OE deveriam prolongar-se para além de 2014. Isto é, o senhor defende que os cortes se tornem definitivos. No mesmo dia a comunicação social informava que as medidas de austeridade aplicadas aos funcionários públicos não seriam aplicadas aos funcionários do Banco de Portugal, sendo argumento para tal situação o da independência do banco.

Mas se o Governo não pode nem deve interferir na gestão do BdP e o senhor Costa se comporta como um cruzamento entre a ave de rapina e o Medina Carreira, o mínimo que se espera é que ele dê o exemplo, pois nada o impede de aplicar aos seus, (incluindo os pensionistas do BdP) a austeridade que exige aos outros. No caso do BdP o senhor Costa não só estaria a adaptar as mordomias dos funcionários públicos e pensionistas do BdP à realidade do país como estaria a dar um duplo exemplo, um exemplo porque aplica aos seus a austeridade que exige aos outros e um exemplo porque chama os seus a responder pela incompetência demonstrada enquanto entidade reguladora de bancos como o BPN ou o BPP.

Porque razão um professor catedrático de finanças ganha menos do que um quadro do BdP, não recebe subsídio para livros como este, e na hora da austeridade perde parte do vencimento e os subsídios, enquanto o funcionário público do BdP não corta nada e, muito provavelmente, ainda recebe um aumento?

E já que falamos no BdP, que tanto se bate pela transparência das contas públicas e do Estado, enquanto o seu governador anda por aí armado em santinha das finanças, porque razão os vencimentos e mordomias do BdP não aparecem no seu site de forma a que sejam conhecidas pelos contribuintes que as pagam? Todas as colocações, subidas de categoria e remunerações dos funcionários públicos são divulgadas no Diário da República, mas o que se passa no BDP é segredo, muito provavelmente para que o povo não saiba e assim manterem o esquema.

Ainda a propósito de transparência, seria interessante saber porque razão os fundos de pensões da banca vão ser transferidos para o Estado e o do Banco de Portugal fica de fora. O argumento da independência não pega, o que nos faz recear que o fundo de pensões seja abastecido de formas pouco aceitáveis para os portugueses. Seria interessante, por exemplo, saber a que preço e em que condições uma boa parte do imobiliário que o banco detinha por todo o país foi transferido para o fundo de pensões dos seus dirigentes e funcionários.

É por estas e por outras, que o senhor Costa não tem autoridade moral para propor o mais pequeno sacrifício seja a quem for e deveria abster-se de aparecer em público.

Este texto foi escrito por um professor universitário e investigador.

 

Voltar 


Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome