Marques Mendes apanhado a pedir favores nas escutas dos vistos GOLD
29-01-2014 - N.A.
As escutas telefónicas ao caso dos Vistos Gold detectaram Marques Mendes a solicitar favores ao presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo, um dos principais arguidos do processo.
Um dado avançado pelo jornal Público que destaca que o actual comentador político e ex-líder do PSD foi “escutado”, no âmbito das gravações dos registos telefónicos de António Figueiredo, a interceder pela atribuição da nacionalidade portuguesa a duas familiares de empresários estrangeiros.
Em causa estariam a esposa do empresário moçambicano Salimo Abdula, que não terá até hoje obtido a desejada nacionalidade portuguesa, e a nora do fundador do grupo brasileiro Pão de Açúcar, Geyze Marchesi Diniz, que conseguiu mesmo a dupla nacionalidade.
O Público nota que Marques Mendes“intercedeu” pela agilização dos dois processos, “tendo-se disponibilizado, num dos casos, para falar sobre a questão com o ministro da Economia, António Pires de Lima“.
O comentador político confirmou ao jornal esta abordagem a Figueiredo, notando que “o caso arrastava-se há mais de um ano sem que os serviços dessem qualquer informação”.
Marques Mendes defende-se ainda com o facto de a tal mulher do empresário moçambicano continuar sem a nacionalidade portuguesa, apesar de “ter condições para ser solucionado face à lei”, sublinha.
Pediu favor pela filha que ia casar
O ex-líder do PSD ainda terá solicitado a António Figueiredo ajuda para resolver um problema relacionado com o Cartão de Cidadão da filha, passando por cima dos habituais procedimentos nestes casos.
Marques Mendes justifica no Público que o caso da filha “era uma situação de emergência” porque “ia casar e não conseguia fazer a escritura da casa sem resolver o assunto”.
O comentador político terá também estado envolvido no processo que resultou naisenção do pagamento de 1,8 milhões de euros de IVA por parte de uma empresa de Jaime Gomes, seu sócio e também arguido dos Vistos Gold.
Jaime Gomes é ainda amigo do ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, também acusado no processo, nomeadamente no âmbito desta isenção de IVA num negócio relacionado com o acolhimento em Portugal, de doentes líbios para tratamentos hospitalares.
Marques Mendes diz no Público que, neste caso, a sua intervenção foi meramente no âmbito de consultor da Abreu Advogados e que apenas colocou Jaime Gomes “em contacto com uma especialista em direito fiscal”.
Relvas pediu ajuda e em menos de duas horas Figueiredo resolveu
O Público nota ainda que também o ex-ministro Miguel Relvas recorreu a António Figueiredo, uma vez que a sua esposa precisava de uma certidão do registo criminal para conseguir um visto para Angola, onde ia a um casamento.
Em menos de duas horas, o então presidente do instituto terá resolvido a questão, enviando “um motorista do IRN” levar o documento em mão à casa do ex-ministro, nota o jornal.
António Figueiredo terá também intercedido depois de um pedido do secretário de Estado da Segurança Social, Agostinho Branquinho, no sentido de agilizar a actualização da caderneta predial de um imóvel que este e a mulher queriam vender.
E até a actual ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, terá tentado resolver o problema de uma familiar sua angolana, que queria obter a nacionalidade portuguesa, através de Figueiredo.
Ao Público, a ministra confirma que, quando era Procuradora-Geral Distrital de Lisboa, falou com o presidente do IRN sobre o caso e que este a levou a uma conservadora que, contudo, não resolveu a situação desta familiar que é filha de portugueses, mas que nasceu em Angola quando o país ainda era uma colónia portuguesa.
Apesar do desfecho neste caso, o Público refere que “António Figueiredo fazia com que os almejados documentos surgissem nas mãos do interessado quase que por milagre, de um momento para o outro”.
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