Jerónimo admite que “este não é um programa do PC”
04-12-2015 - ZAP
“É verdade que este não é um programa do PCP”, afirmou Jerónimo de Sousa no segundo dia de debate do novo programa de Governo, quando as zonas cinzentas do acordo de esquerda foram postas a descoberto e os partidos aproveitaram para chamar a atenção de Costa para as divergências.
Na sua intervenção durante o debate no Parlamento, o líder comunista realçou que “este é um programa do Governo do PS que reconhece que foram erradas as políticas dos últimos anos. Registamos a vontade de mudança”, mas que “é verdade que este não é um programa do PCP”.
O deputado do PCP salientou que o programa terá de enfrentar a “contradição entre a concretização dos seus objectivos estruturantes”, como o crescimento do emprego e o desenvolvimento económico, e o “quadro dos constrangimentos externos que nos são impostos“, nomeadamente instrumentos de política financeira como o tratado orçamental. “É necessário ultrapassar a divergência entre uma realidade aprisionada em regras draconianas e constrangimentos estéreis e a necessidade de afirmar o nosso desenvolvimento soberano”
No entanto, destacou Jerónimo de Sousa, o Governo socialista “acolheu um conjunto de propostas que na sua concretização podem contribuir para melhorar, ainda que de forma limitada, a vida de milhões de portugueses”, como a reposição de rendimentos, dos feriados, a tendência para a gratuitidade de manuais escolares e das taxas moderadoras na saúde.
Para já, reforça, a prioridade é “a resposta a problemas mais urgentes dos portugueses, ao mesmo tempo que colocamos a necessidade evidente de uma política patriótica e de esquerda.”
Depois de sublinhar que a derrota da direita representou também a “derrota da ideologia das inevitabilidades, que tudo justificava e impunha”, Jerónimo de Sousa desafiou Costa: “Está aberta uma janela de esperança, aquela que não fica à espera. Estará de acordo, Sr. primeiro-ministro, que é necessário concretizá-la.
Já antes o deputado comunista João Oliveira tinha reforçado que o acordo de incidência parlamentar “só inclui o possível”, salientando a “contradição” para o PS entre o que promete no seu programa e o “quadro dos constrangimentos internacionais” a que Portugal está sujeito – sendo o da dívida pública “o mais importante”.
“Cá estaremos para que políticas mudem e possam chegar a tempo… ao contrário do CDS”, provocou o parlamentar comunista.
Notando que este “não é o programa do PCP, mas incorpora matérias” que resultaram das negociações para “responder a problemas como emprego, recuperação de rendimentos”, João Oliveira enumerou as propostas que os comunistas defendem e ficaram de fora do programa.
“É verdade que têm de ser feitas opções – tem de ser encontrada novas respostas que não em mais cortes”, disse.
Esquerda BFF
António Costa aproveitou a deixa da crítica à direita para realçar que esta tem “dificuldade em compreender que a esquerda, apesar de ser plural, consegue entender-se naquilo que é essencial. A pluralidade e as nossas diferenças não são factores de fraqueza, pelo contrário: é a identidade própria de cada uma que dá força a este colectivo e a esta convergência que foi possível realizar”, afirmou o primeiro-ministro.
Por sua vez, Paulo Portas critica a convergência à esquerda e afirma, com desdém, que Costa depende do PCP.
“Ficam escolhidos hoje os seus BFF – Best Friend Forever“, brincou, referindo-se ao termo que significa “melhores amigos para sempre”.
“Catarina best friend de António, António best friend de Jerónimo e Jerónimo – só isso não é novo – best friend de Heloísa. Com eles escolheu governar, neles se apoiará, neles poderá tropeçar, dependendo deles ficará ou cairá. É a vida”, rematou, referindo-se aos dirigentes do BE, PCP e PEV.
O ex-vice-primeiro-ministro começou por insistir na ilegitimidade política de António Costa, afirmando que “é ainda o primeiro caso em democracia de um político que tinha que ser primeiro-ministro à viva força para aspirar a manter-se como líder do seu partido. Habitualmente acontece o inverso: os líderes candidatam-se para poderem ser primeiros-ministros”.
Portas afirmou ainda que Costa está numa “precariedade” por ter “abusado” do intervalo de não se poder convocar eleições e salientou a dependência do PS para governar, considerando que a maioria parlamentar de que dispõe será “até quando o politburo o entender e até quando quiser”, numa alusão ao órgão máximo do Partido Comunista na antiga União Soviética. O Bloco, por sua vez, “já está na lapela de António Costa”.
O líder democrata-cristão defende, assim, que “é a vontade do Partido Comunista que decidirá o destino do Governo de Portugal”.
Catarina recusa “ambiguidade” face a acordo com PS
O Bloco de Esquerda questionou no Parlamento o ministro das Finanças, Mário Centeno, sobre o sistema financeiro e o seu risco para Portugal, mas advertiu a direita para que não veja nestas perguntas uma “ambiguidade” face ao acordo estabelecido com o PS.
“Escusa a direita de querer ver nesta afirmação qualquer ambiguidade do BE face ao compromisso que assumimos com o PS e com todo o país”, sublinhou a porta-voz do Bloco, Catarina Martins.
A líder bloquista recordou que o sistema financeiro “continua a ser um risco para o país”, e “quando se sabe das dificuldades do Banif e do Novo Banco a prioridade tem de ser mesmo não repetir os erros do passado”, advertindo que o executivo “não pode esconder-se no Banco de Portugal, nem o Banco de Portugal continuar a apresentar pela calada facturas cada vez mais pesadas aos contribuintes portugueses”.
O Bloco exigirá “com a mesma determinação”, afirma, um governo capaz de travar o empobrecimento mas também disponível para uma “clara prestação de contas sobre o sistema financeiro e a defesa intransigente dos interesses do Estado e do erário público face a uma banca e a um regulador que falharam vezes demais”.
E acrescentou: “O BE não faltou, nem faltará, a nenhum compromisso com a recuperação de rendimentos do trabalho e a defesa do Estado social. E esse é um trabalho para a legislatura”.
Catarina Martins acusou ainda a direita de “fraude eleitoral” na última campanha eleitoral, referindo-se à bloquista à “sobretaxa que afinal não é devolvida”, à “economia estagnada” ou ao “falhanço da meta do défice”.
ZAP
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