Mulheres atacam Paulo Portas depois do discurso em Vagos
18-09-2015 - Lusa
O discurso de Paulo Portas feito no domingo, em Vagos, durante uma acção de campanha, está a gerar polémica por causa das declarações que fez sobre as mulheres. O vice-primeiro-ministro traçou o retrato de uma verdadeira fada do lar e há quem o acuse de ter parado no tempo.
“As mulheres sabem que têm de organizar a casa e pagar as contas a dias certos, pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos.” Eis a frase da polémica que saiu da boca de Paulo Portas durante o seu discurso, improvisado, em Vagos.
Nem o facto de o líder do CDS-PP ter relevado o papel da ministra Assunção Cristas no actual governo, notando que foi ela “que levou a que os pagamentos à agricultura estivessem em dia”, ameniza as críticas que lhe são feitas.
O Expresso tentou falar com a própria Assunção Cristas sobre a polémica frase, mas não conseguiu.
Conseguiu sim falar com outras mulheres, com carreiras profissionais, que se manifestam revoltadas com a posição de Paulo Portas.
“Não nos podemos admirar com estas declarações. Afinal, correspondem à matriz ideológica da Direita, que defende que a mulher deve cumprir o seu papel biológico”, diz Manuela Tavares, doutorada em Estudos sobre as Mulheres e membro da direcção do movimento União de Mulheres Alternativa e Resposta, ao Expresso.
“Salazar já dizia que a boa dona de casa tinha sempre muito que fazer. E quanto mais mulheres estiverem em casa, menos dinheiro o Estado terá de gastar em infraestruturas sociais”, acrescenta Manuela Tavares.
“O ministro Paulo Portas parou no tempo“, lamenta ao mesmo jornal a presidente da organização Mulher Século XXI, Maria Isabel Gonçalves, notando que “as mulheres não são mais aquelas retratadas nas suas afirmações”.
A professora de Literatura da Universidade de Lisboa Isabel Allegro de Magalhães confessa-se, por seu lado, um pouco surpreendida, lembrando que Portas tem “uma mãe economista, escritora, que não é exactamente aquilo a que antes se convencionava chamar de ‘dona de casa’ típica”.
Já a professora de Direito da Universidade Nova de Lisboa Teresa Pizarro Beleza recomenda ao vice-primeiro-ministro que “leia com atenção a Constituição da República, que certamente jurou cumprir quando tomou posse do cargo que ocupa”.
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