Mario tem 1,14 biliões de euros para injectar na economia
23-01-2015 - NA/Edgar Caetano/Nuno André Martins
É um dia histórico para a zona euro. O BCE anunciou um plano de injecção de liquidez através da compra de dívida pública de 60 mil milhões de euros por mês. Compras vão durar enquanto forem necessárias.
O BCE vai avançar já em março com um programa de compra de ativos abrangente: 60 mil milhões de euros por mês. No total, serão mais de 1,1 biliões de euros comprados até setembro de 2016. No entanto, Mario Draghi também indicou que esta intervenção no mercado irá decorrer “enquanto for necessário” para assegurar que a inflação se aproxima do objetivo. O presidente do BCE acredita que o plano será “eficaz” e irá “aumentar as expectativas de inflação no médio prazo e vão responder à situação económica da zona euro”.
As compras serão feitas pelos bancos centrais nacionais, – o Banco de Portugal, no nosso caso – na medida da quota de cada país no BCE (a de Portugal no BCE é de 1,74%). No caso de perdas, haverá um sistema de partilha de perdas, com a seguinte fórmula: o BCE assume 20% de eventuais perdas e os bancos centrais nacionais os restantes 80%. Houve um consenso unânime sobre esta fórmula, mas o programa de expansão monetária não foi aprovado por unanimidade, apenas por uma “grande maioria“.
As compras não podem ultrapassar os 33% da dívida de cada país e 25% de cada emissão, e só serão compradas dívidas com maturidades entre os dois e os 30 anos.
Draghi considera que este programa é “grande“, mas alerta que “seria um erro se os governos achassem que que a existência deste programa era um incentivo para expansão fiscal”, ou seja, para aumentar o endividamento. “O que a política monetária pode fazer é criar bases para o crescimento. Mas para que a economia cresça é preciso investimento. Para haver investimento tem de haver confiança. Para haver confiança tem de haver reformas estruturais”, atirou.
O euro está em forte queda nos mercados, na reação às palavras de Draghi. O euro-dólar esteve a cair mais de 1% para a casa dos 1,14 dólares. As taxas de juro da dívida pública na zona euro também estão em queda, com mínimos históricos na taxa de juro de Espanha.
“Mais uma vez, Draghi corresponde às expectativas”, escreve Christian Schulz, economista do Berenberg Bank, em nota enviada aos clientes. “As expectativas subiram consideravalmente nos últimos dias, mas o BCE conseguiu mesmo assim superar a expectativa da maioria”, diz o economista.
Draghi compra mais dívida do que o que tinha sido noticiado
É a “bazuca” que há vários meses muitos analistas dizem que Mario Draghi teria de utilizar, vencendo a oposição no seio do próprio Conselho de Governadores do BCE, para evitar que a zona euro seja confrontada com uma “inflação demasiado baixa por demasiado tempo”, como diz Draghi, ou, mesmo, o risco de deflação
O plano é maior que o avançado esta quarta-feira pela Bloomberg, que dizia que o plano em cima da mesa era de ter a instituição a comprar 50 mil milhões de euros de ativos por mês a partir de março até ao final de 2016, um total de um bilião de euros em ativos que seriam maioritariamente dívida pública. Afinal o programa tem um volume maior de compras por mês, mas termina mais cedo, em setembro de 2016.
Esta é uma decisão que se tornou cada vez mais provável sobretudo desde que, a 21 de novembro, Mario Draghi afirmou que o BCE irá “fazer o que tiver de fazer” para subir a inflação. Inflação que, segundo o Eurostat, caiu para terreno negativo em dezembro, afastando-se cada vez mais do objetivo de “perto, mas abaixo, de 2% no médio prazo” que corresponde ao mandato exclusivo do BCE.
Perante a perspetiva de compras por parte do BCE, os juros da dívida pública na zona euro têm caído para mínimos históricos e a moeda única afundou face à divisa norte-americana, chegando aos 1,16 dólares. Só esse facto poderá ser muito importante para melhorar os resultados e a competitividade das empresas exportadoras da zona euro.
Os últimos dados económicos a saírem na zona euro foram um pouco mais animadores, o que deu força a quem acha que não era necessário enveredar por um programa controverso como este, mas não se pode excluir que alguma desta melhoria se tenha devido à expectativa de que o BCE iria, mesmo, avançar. Até porque há vários argumentos contra o recurso ao chamado quantitative easing (QE), como pode ler neste texto.
Juros baixam nos empréstimos a mais longo prazo
Para além do programa de compra de dívida, o Banco central Europeu anunciou também que vai reduzir os juros cobrados nos empréstimos de mais longo prazo. As Target Long Term Refinancing Operations (TLTRO), os empréstimos a mais longo prazo com contrapartida de empréstimos à economia, custavam mais 10 pontos base, ou 0,1 ponto percentual, que os empréstimos concedidos aos bancos nas operações normais de cedência de liquidez.
Com esta decisão, os juros serão iguais aos cobrados nas operações a uma semana, atualmente nos 0,5%, e que servem de indicação ao custo do dinheiro no mercado.
Fonte: Observador
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