Espião apanhado a falar com Sócrates sobre bastidores do PS
23-01-2015 - Sílvia Caneco
Almeida Ribeiro, quadro do SIS e ex-estratego de Sócrates, foi chamado a conselheiro de Seguro. Por telefone, fazia briefings ao ex-governante sobre o que se passava no partido.
Mesmo em Paris, e alegadamente afastado da vida política, José Sócrates continuava a saber tudo o que se passava nos bastidores do Partido Socialista. Uma das suas fontes directas seria José Almeida Ribeiro, o espião do SIS que foi secretário de Estado adjunto de José Sócrates e que, depois de uma curta passagem pelo SIED, voltou à política, desta vez como conselheiro político de António José Seguro.
Almeida Ribeiro foi um dos alvos apanhados nas escutas ao ex-primeiro-ministro no âmbito da Operação Marquês: o profissional da confiança de Sócrates, averiguou o i junto de fontes próximas do processo, fazia briefings quase diários ao ex-governante sobre o que se passava no PS.
Contactado pelo i, Almeida Ribeiro não se dispôs sequer a ouvir as informações que careciam de contraditório, limitando-se a dizer: “Não estou minimamente interessado. Não a conheço.”
A integração de Almeida Ribeiro como conselheiro político de António José Seguro causou enorme surpresa nos corredores da política. Afinal o espião com origem no Serviço de Informações e Segurança (SIS) foi um dos principais conselheiros dos governos de Sócrates e António José Seguro é um eterno adversário do ex-primeiro-ministro. Almeida Ribeiro, por sinal, nem terá sido o único homem da confiança do ex-governante de quem Seguro se fez rodear. Também Luís Bernardo, ex-assessor e estratego de Sócrates, foi chamado a reforçar a comunicação política no Largo do Rato quando o partido já estava nas mãos de Seguro.
Contratações que, de acordo com informações recolhidas pelo i, numa primeira fase terão deixado Sócrates furioso.
À semelhança de Luís Bernardo, que trabalhou com Manuel Maria Carrilho quando o professor ocupava a pasta da Cultura, e na recta final da campanha para a Câmara de Lisboa, também Almeida Ribeiro trabalhou com o ex-ministro da Cultura: Carrilho escolheu-o para seu chefe de gabinete. Ambos são formados em Filosofia.
Metade da vida de Almeida Ribeiro foi feita nos serviços de informações, a outra metade nos meandros da política. Entrou para os quadros do SIS em 1989, desempenhando quase sempre o cargo de analista de informações no Departamento de Contrasubversão, responsável por monitorizar os movimentos de extrema--direita e de extrema-esquerda.
O cruzamento com a política deu-se pela primeira vez em 1991, quando integrou como espião a campanha de Cavaco Silva. Na década de 90 passou pelo gabinete de Mário Pinto, militante histórico do PSD e então ministro da República para os Açores. Na década seguinte voltou a sair do SIS para apoiar Carrilho. Voltaria aos Serviços de Informações para trabalhar por um curto período no gabinete de Rui Pereira, e voltaria a abandonar as secretas, anos depois, pela mão de José Sócrates, que lhe daria os cargos de maior relevância política. Almeida Ribeiro começou por trabalhar na sombra, como estratego político e um dos homens que faziam os discursos do ex-primeiro-ministro – é conhecido como o homem dos sound bites –, acabando por ser promovido a secretário de Estado adjunto já no segundo governo de Sócrates.
Com a derrota eleitoral do ex-primeiro-ministro, em Junho de 2011, Almeida Ribeiro estava de volta às secretas: desta vez pediu transferência do SIS para o SIED. Mas a passagem pela secreta externa foi curta. Foi requisitado pelo ISCTE em 2012, onde ainda hoje é professor na IPSS-IUL, a escola virada para as políticas públicas. É primo de Luís Antero Reto, reitor do ISCTE-IUL. Ambos são membros da mesma loja maçónica: a Universalis, considerada a mais poderosa do Grande Oriente Lusitano (GOL).
O motorista, cordão humano e o grupo Lena
Recurso de motorista
O ex-motorista de José Sócrates vai hoje recorrer da obrigação de permanecer em casa com pulseira electrónica. João Perna – que esteve um mês em prisão preventiva – conseguiu que o procurador Rosário Teixeira alterasse em Dezembro a medida de coacção, mas o seu advogado defende que esta ainda não é a medida adequada. Em declarações ao i, Ricardo Candeias explicou no mês passado que a alteração da medida de coacção aconteceu após terem surgido novos factos que diminuíram o perigo de fuga, entre os quais a rescisão do contrato de trabalho que ligava Perna ao ex-primeiro-ministro. O ex--motorista de José Sócrates foi detido no âmbito da Operação Marquês, que levou igualmente à prisão preventiva do ex-primeiro-ministro e do seu amigo de longa data e empresário Santos Silva, num processo que envolve suspeitas de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais. João Perna foi o único arguido que viu alterada a medida de coacção.
Cordão humano
Pelo menos cem pessoas da região da Covilhã são esperadas no domingo em Évora para participarem numa acção solidária com o ex-primeiro ministro, que ali se encontra detido preventivamente. A iniciativa, marcada para as 15h00 em frente à cadeia de Évora está a ser organizada por um empresário covilhanense, “amigo de longa data” de Sócrates, que apresenta esta acção como “uma onda de solidariedade, absolutamente apartidária, pacífica e respeitadora”.
Grupo Lena reage
3 287 600 euros. Terá sido este o montante total pago por empresas do grupo Lena, entre 2005 e 2010, a empresas detidas por Santos Silva, suspeito de ser o testa-de-ferro de Sócrates. É esta a versão oficial avançada pela empresa, em comunicado. O Grupo Lena nega ter pago dinheiro a Sócrates – ou a Carlos Santos Silva – em troca de favorecimentos em negócios, ao contrário do que já foi noticiado. C.D.S.
Fonte: Jornal i
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