Somos todos Charlie Hebdo
09-01-2015 - Jean d'Ormesson
A emoção domina Paris, a França, o mundo. Desde há muito que sabíamos, que a barbárie viria ao de cima. Deparámo-nos com imagens cheias de crueldade e ira. Uma compaixão, ainda que distante, prendeu-nos. A selvajaria, desta vez, tocou-nos no coração. Doze mortos, talvez mais. Jornalistas mortos no cumprimento do seu dever. Polícias feridos e friamente assassinados. A guerra é entre nós. A partir de agora cada um de nós, esteja onde estiver, no mercado, no transporte, no cinema, no teatro, no emprego, é um soldado desarmado.
Tivemos adversários. Agora temos um inimigo. O inimigo não é o Islão. O inimigo é a barbárie servindo-se de um Islão que é desonrado e traído. Os mais altos responsáveis do Islão em França denunciaram e condenaram este horror. Devemos reconhecer a sua atitude.
Vivemos todos, mesmo os mais infelizes de nós, numa falsa segurança. Somos forçados a ser corajosos.
A força dos terroristas está no facto de não terem medo de morrer. Vivemos todos, mesmo os mais infelizes de nós, numa falsa segurança. Somos forçados a ser corajosos. A união faz-se na liberdade dos mártires de um jornal que defende posições que nem sempre são as nossas. Jornalistas morreram pela liberdade de imprensa. Eles deixam-nos um exemplo e uma lição. Longe de todos os lugares comuns e de todas as maldades com que somos confrontados, os nossos olhos abrem-se sob a força de um violento golpe. Somos todos republicanos e democratas ligados aos seus ideais de liberdade. Melhor será viver na dignidade e na liberdade em vez de viver com medo e negação. Perante a violência e a crueldade, somos todos Charlie Hebdo.
Jean d'Ormesson é escritor. Membro da Academia Francesa.
Voltar |