Vice-almirante Ernesto de Vasconcelos, recentemente homenageado pela Câmara Municipal de Almeirim
24-10-2014 - N.A./CMA
Tendo em conta que é para a esmagadora maioria dos Almeirinenses uma figura desconhecida, aqui fica uma breve nota sobre a vida do Vice-almirante Ernesto e Vasconcelos, cuja placa toponímica com o seu nome foi descerrada no passado sábado dia 18 de outubro na cidade de Almeirim.
“Nascido em Almeirim em 1852, o Vice-almirante Ernesto e Vasconcelos foi certamente um dos filhos mais ilustres desta terra.(…) Era filho do médico-cirurgião António Germano Falcão de Carvalho e de sua esposa, Maria Amália Lobão de Vasconcellos. Foi, porém, seu avô materno, um distinto capitão-de-fragata, que o inspirou a seguir a carreira militar como oficial da Armada e a quem acabou por seguir as pisadas.
Após ter feito os estudos preparatórios em Almeirim e Santarém, Ernesto de Vasconcelos assentou praça na Armada Portuguesa aos doze anos de idade, situação que era usual à época. Aos vinte e três anos, foi promovido ao posto de guarda-marinha, tendo-se especializado com o curso de engenheiro hidrógrafo.
Ernesto de Vasconcelos participou em importantes levantamentos hidrográficos como os destinados à elaboração da carta da barra de Lisboa e do rio Guadiana.
Efetuou o levantamento hidrográfico do rio Zaire, a ele se devendo a descoberta de um vale submarino no prolongamento daquele rio. Com Hermenegildo Capelo, procedeu aos trabalhos geográficos destinados ao estabelecimento das fronteiras de Timor.
Também em África, participou nas comissões de delimitação de fronteiras em várias colónias portuguesas, nomeadamente a que permitiu resolver a questão do Barotze, em Angola, renegociando o convénio fronteiriço com a África do Sul. Tratou-se de um litígio que se inseria nas rivalidades que então mantínhamos com a Inglaterra e que levaram inclusivamente a ser sujeito à arbitragem por parte do rei Vítor Emanuel III, de Itália.
Conselheiro do Reino ao tempo de D. Carlos e D. Manuel II, o Vice-almirante Ernesto de Vasconcelos foi membro da Sociedade de Geografia, Presidente da Comissão de Cartografia e professor da Escola Naval e da Escola Colonial.
A ele se deve o projeto de uniformização internacional dos serviços de farolagem, produzido em 1887 e enviado a todos os países marítimos.
Foi ainda diretor da Revista Portuguesa Colonial e Marítima e deixou vasta obra, da qual se destaca “Astronomia Fotográfica” publicada em 1884 e 1886, “Uniformidade Internacional de Bóias e Balizas Marítimas” em 1887, “Relação dos Mapas, Cartas, Plantas e Vistas Pertencentes ao Ministério da Marinha e Ultramar, com Algumas Notas e Notícias” em 1892 e “Subsídios para a História da Cartografia Portuguesa nos sécs. XVI, XVII e XVIII”, em 1916.
Para além da sua carreira militar e científica, o Vice-almirante Ernesto de Vasconcelos foi um cidadão ativo, tendo-se também interessado pela atividade política. Eleito deputado, foi Vice-presidente da Câmara dos Deputados e, por diversas vezes, chefe de gabinete de vários ministros e exerceu o cargo de Diretor-geral no Ministério das Colónias
Foi pelo Rei D. Carlos agraciado com a “Carta de Conselho”, nomeação que automaticamente lhe concedia nobreza hereditária e simultaneamente grande proximidade e influência junto do soberano na transmissão de pareceres sobre os mais importantes negócios do reino.
Com a implantação da República, manteve a sua atividade na Sociedade de Geografia e na Escola Colonial, tendo então aderido à Maçonaria.
Os seus elevados serviços continuaram a ser requisitados, a partir de então pelas autoridades do novo regime. Foi o que sucedeu em 1911 quando o Presidente da República, Bernardino Machado, o nomeou para integrar a comissão destinada a estudar os interesses do território de Macau ou, em 1912, quando passou a presidir à comissão encarregada de estudar a reorganização do Colégio das Missões Ultramarinas.
Ao longo da sua vida e brilhante carreira, o Vice-almirante Ernesto Júlio de Carvalho e Vasconcelos foi sobretudo um patriota que serviu Portugal com o seu enorme talento diplomático e saber científico. Orgulhamo-nos, naturalmente, de o ter como um dos vultos que mais prestigiaram a Marinha Portuguesa e ter sido os dos seus mais notáveis hidrógrafos. (…)”
Esta informação foi retirada de parte da Alocução do capitão-de-mar-e-guerra, Alberto Ova Correia, em representação do Contra Almirante Diretor-geral do Instituto Hidrográfico e da Marinha, na cerimónia de inauguração da exposição sobre a vida e obra do Vice-almirante Ernesto de Vasconcelos, realizada na Biblioteca Municipal de Almeirim em 13 de outubro de 2014.

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