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A promessa da IA no mundo em desenvolvimento

02-11-2018 - Tej Kohli

Uma das falsas perceções mais comuns entre os observadores das tendências digitais é que os consumidores nos países em desenvolvimento não beneficiam dos avanços da tecnologia. Seja para ter o smartphone mais recente ou para “contratar” robôs de limpeza, a capacidade de se aceder à inovação é uma das diferenças mais visíveis entre os países ricos e os pobres

Este fosso tornou-se ainda mais pronunciado com a chegada da inteligência artificial (IA). Por exemplo, a imensa maioria dos assistentes pessoais   “alto-falantes inteligentes”   para lares, como a assistente Alexa da Amazon, é expedida para os países ricos. Em 2017,   mais de 80%   dos envios mundiais de alto-falantes inteligentes foram para a América do Norte.

Mas embora a tecnologia possa agravar a desigualdade mundial, tem também o potencial de atenuá-la. Isso acontece porque a IA pode fazer muito mais do que potencializar dispositivos; também pode revolucionar a forma como os serviços de saúde, assistência em catástrofes, finanças, logística, educação e serviços comerciais são fornecidos no Sul Global.

Em todo o mundo, a IA já está a transformar os países em desenvolvimento. No Nepal,   a aprendizagem automática   está a mapear e a   analisar   as necessidades de reconstrução após terramotos. Por toda a África, professores de IA estão a   ajudar os jovens estudantes a ficar atualizados   nos trabalhos. Agências de ajuda humanitária estão a utilizar    análises   de dados importantes para otimizarem a entrega de produtos   aos refugiados que fogem de conflitos e de outras adversidades. E no meu país, Índia,   os agricultores rurais utilizam aplicações de IA   para melhorarem o rendimento das colheitas e aumentarem os lucros.

Inovações como estas fazem com que que fiquemos mais próximos de alcançar os   Objetivos de Desenvolvimento Sustentável   das Nações Unidas, em assuntos como a erradicação da pobreza, acabar com a desigualdade nos cuidados de saúde, aumentar o acesso à escolaridade e combater o aquecimento global. E, no entanto, o mundo está apenas a começar a constatar o que a IA pode fazer pelo progresso humano. Para aproveitar todo o poder da IA para fazer progredir o desenvolvimento, temos de encontrar novas formas de aplicá-lo.

Por exemplo, com o apoio adequado, os céus sobre os países em desenvolvimento poderiam encher-se com   drones   a distribuir produtos médicos em hospitais remotos. Isto já acontece nas zonas rurais do Ruanda, onde uma   parceria inédita   entre o ministério da saúde e a Zipline, uma empresa de tecnologia que está no arranque inicial, baseada em Silicon Valley, está a dar aos médicos que estão em clínicas de difícil acesso a possibilidade de pedirem sangue através de mensagens de texto e de esse pedido chegar de paraquedas num espaço de minutos. Desde que o programa foi   lançado, em outubro de 2016, os tempos de entrega foram reduzidos em até cinco vezes e   centenas de vidas foram salvas.

Ainda assim, embora as inovações de IA como esta sejam impressionantes, não podemos tê-las como garantidas. A menos que combatamos os medos descabidos, mas bem publicitados, de que todos os transtornos da IA   serão piores   do que as recompensas, o incrível progresso que as empresas de tecnologia estão a fazer no Sul Global será travado.

Há uma série de passos que podem ser dados para se evitar este desfecho. Para começar, os programas como a campanha   “ AI for Good ”   das Nações Unidas, que tem como objetivo promover o diálogo sobre o uso benéfico da tecnologia para o trabalho humanitário, deve receber o total apoio dos governantes. Para aqueles que entre nós estão envolvidos no desenvolvimento da tecnologia também têm de continuar a identificar os projetos, as iniciativas, os grupos de reflexão e as organizações que beneficiariam da cooperação com empresas de IA –como a Zipline, no Ruanda.

Mas o mais importante é que as conversações sobre o desenvolvimento da IA para fins humanitários não podem ser realizadas de forma independente por organizações de saúde, instituições de caridade e governos. Quem investe na tecnologia também deve ter um lugar à mesa.

Durante muito tempo, os empreendedores tecnológicos focaram-se na solução de problemas no Norte Global, ao mesmo tempo que ignoravam os problemas tradicionalmente associados aos países em desenvolvimento. Mas a tecnologia móvel está a abrir novas portas de oportunidades e agora faz sentido, a nível humanitário   e   económico, direcionar as soluções de IA para outros países muito além dos ocidentais.

É por isso que estabeleci a   Rewired, um veículo de investimento de cem milhões de dólares que apoia empresas de IA e de robótica embrionárias, que estejam envolvidas em enfrentar questões sociais importantes. A Rewired trabalha com empresas que estão na vanguarda da perceção de máquinas - a capacidade de os robôs entenderem e interpretarem o mundo físico. Investimos em empresas que estejam a trabalhar para reproduzir o olfato humano, desenvolver próteses acessíveis e hábeis, e criar máquinas portáteis projetadas para melhorar os processos de fabricação.

O nosso objetivo é financiar tecnologias com potencial para melhorarem a qualidade de vida em todos os países do mundo. E acredito que isso será a característica unificadora da IA. As máquinas que criamos hoje não serão apenas lucrativas; elas também aproximar-nos-ão da resolução de alguns dos maiores desafios do mundo.

TEJ KOHLI

Tej Kohli é empresário de tecnologia, empresário e filantropo e fundador da Kohli Ventures, uma empresa de capital de risco com foco em tecnologia .

 

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