Garantias de segurança para a Ucrânia detalhadas em 10 dias, compra de armas aos EUA e tropas da NATO: o pós-reunião na Casa Branca
22-08-2025 - Ana França, João Miguel Salvador, João Pedro Barros
Líderes europeus, Estados Unidos e aliados asiáticos articulam uma nova arquitectura de segurança para a Ucrânia. Kiev admite compra de armamento norte-americano e Macron defende um exército ucraniano “robusto”. Depois da reunião entre Zelensky e Trump na Casa Branca, os principais líderes mundiais posicionam-se
As imagens do final do encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky mostraram como o encontro entre os dois chefes de Estado foi diferente do anterior . O esforço de paz de Trump foi reconhecido também pelos líderes europeus, numa segunda-feira - e madrugada de terça-feira na Europa - onde não faltaram reações à reunião ocorrida na Casa Branca .
De acordo com Volodymyr Zelensky, citado pela Reuters , as garantias de segurança para o seu país serão detalhadas nos próximos 10 dias e Kiev está pronta para se reunir com Putin em qualquer formato e a cimeira deve decorrer sem quais quaisquer pré-condições.
Zelensky também confirmou a notícia avançada pelo "Financial Times" : a Ucrânia está pronta para comprar armas aos EUA, no valor de 100 mil milhões de dólares , e essa compra servirá como moeda de troca nas garantias oferecidas por Washington. Os aliados europeus seriam responsáveis por financiar Kiev , que poderia ainda fechar um acordo de 50 mil milhões de dólares para a produção de drones com empresas ucranianas.
O papel da NATO
Mas o caminho não se fará apenas a dois. Os passos rumo a uma paz duradoura estão a ser dados também na dimensão supranacional, com o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, a afirmar ainda segunda-feira que os Estados Unidos se envolverão num esforço de cerca de 30 países para garantir a segurança da Ucrânia no quadro de um acordo de paz com a Rússia .
O responsável holandês, ressaltou, porém, que na reunião esta segunda-feira na Casa Branca não foi acordado o envio de tropas da NATO para o terreno nem foi concretizado o papel dos Estados Unidos . Após o encontro do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, Rutte declarou em entrevista com o canal de televisão Fox News que a Administração norte-americana "quer estar envolvida" num esforço internacional para garantir a segurança da Ucrânia, liderado pelo Reino Unido e pela França e que inclui nações como o Japão e a Austrália .
Isso não contempla a adesão da Ucrânia à NATO, mas sim "garantias de segurança do tipo do Artigo 5.º", a regra que estipula que uma agressão armada contra um membro da organização atlântica é um ataque contra todos os seus membros, esclareceu Rutte. "O que os Estados Unidos disseram agora é que querem estar envolvidos nisto. O que significará exatamente essa participação? Isso será discutido nos próximos dias», disse o líder da Aliança Atlântica.
Macron quer exército ucraniano robusto
O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou na segunda-feira que uma das garantias de segurança para a Ucrânia , a acompanhar qualquer acordo de paz com a Rússia, será um exército ucraniano suficientemente "robusto" para impedir novos ataques de Moscovo .
"Pude voltar esta tarde ao conteúdo dessas garantias de segurança, que são um exército ucraniano robusto, capaz de resistir a qualquer tentativa de ataque e dissuadi-lo, e, portanto, sem limitações em número, capacidade ou armamento", disse Macron aos jornalistas após reuniões na Casa Branca com os presidentes norte-americano, Donald Trump, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, e ainda vários líderes europeus.
"Enquanto ele achar que pode vencer através da guerra, ele fá-lo-á", alertou o Presidente francês, referindo-se ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, que Donald Trump recebeu na sexta-feira no Alasca e com quem voltou a falar na segunda-feira.
Encontro entre Putin e Zelensky nas próximas duas semanas
Friedrich Merz prestou declarações no final das conversações na Casa Branca. De acordo com a Reuters, o chanceler alemão adiantou que o encontro entre Putin e Zelensky deve acontecer nas próximas duas semanas e que as expetativas que tinha para esta cimeira foram superadas.
Merz aproveitou para elogiar Trump pelo facto de ter conseguido do Presidente russo o compromisso de uma reunião com o homólogo ucraniano, algo que aconteceu graças à já confirmada chamada telefónica feita a meio da reunião com os líderes europeus.
No entanto, o alemão também passou deixou transparecer algum ceticismo: "Não sabemos se o Presidente russo vai ter coragem para comparecer em tal cimeira. Por isso, é necessária persuasão".
O Presidente finlandês sublinhou a mesma desconfiança : Putin não merece confiança e Alexander Stubb está ainda cético relativamente ao comprometimento do Kremlin com o processo.
Trump inicia preparativos
Donald Trump iniciou os preparativos para um encontro entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky , "numa localização a determinar", isto após ter falado com o primeiro. A informação é dada num post da rede social do Presidente dos EUA, Truth Social , e na mesma acrescenta-se ainda que a essa reunião seguir-se-á uma discussão trilateral, com a participação de Trump e dos dois Presidente envolvidos na Guerra da Ucrânia.
"Discutimos garantias de segurança para a Ucrânia, que garantias seriam dadas pelos vários países europeus, com a coordenação dos EUA. Todos estão muito contentes com a possibilidade de PAZ para a Rússia/Ucrânia", pode ler-se
No post, Trump diz que se trata de um "primeiro passo" para terminar com a guerra e que o vice-presidente JD Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o enviado especial Steve Witkoff irão coordenar o assunto entre os dois países .
O Kremlin confirmou que Trump ligou para Putin nesta segunda-feira, avançou a Reuters. Os chefes de Estado conversaram sobre a possibilidade de elevar o nível dos representantes russos e ucranianos nas conversas pelo fim da guerra na Ucrânia.
Japão com participação limitada
O Japão , fez saber, pelo voz do seu primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, que irá considerar qual o papel que irá desempenhar na prestação de garantias de segurança à Ucrânia dentro das limitações legais impostas pela Constituição do país . "Desempenhamos o nosso papel de forma adequada, tendo em conta o que podemos e devemos fazer dentro do nosso quadro legal e das nossas capacidades", afirmou Ishiba em declarações à imprensa.
"Neste momento, não podemos dizer especificamente o que vamos fazer", acrescentou. A atual Constituição japonesa , que entrou em vigor em 1947 durante o período de ocupação norte-americana após a Segunda Guerra Mundial, só permite o uso da força em defesa própria, o que limita as ações do país no exterior .
Fonte: Sapo.pt
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