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Depois do "Russiagate", eurodeputados criticam o "Chinagate"

26-04-2024 - Jorge Liboreiro/Euronews

Os membros do Parlamento Europeu reagiram com críticas fortes à notícia de que um assessor parlamentar é suspeito de espiar a favor da China. É mais um escândalo depos do recente caso com suspeitos de aceitarem serem vozes da propaganda pró-Rússia.

Com o chamado "Russiagate" ainda a provocar ondas de choque, os legisladores apressaram-se a denunciar o emergente "Chinagate" e a pedir uma investigação interna. A questão foi brevemente debatida em plenário, em Estrasburgo, antes do reinício das votações.

"Estas questões estão relacionadas com o facto de os regimes autocráticos estarem a tentar influenciar a definição de políticas, utilizando o Parlamento Europeu para o efeito e, potencialmente, também para influenciar as eleições europeias", afirmou Terry Reintke, copresidente do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, durante uma conferência de imprensa, alertando para o facto do assistente poder ter tido acesso a procedimentos confidenciais e a interacções com dissidentes chineses.

O suspeito é Jian Guo, assessor de Maximilian Krah, eurodeputado alemão de extrema-direita eleito pelo Alternativa para a Alemanha, em 2019, e que tem assento no grupo Identidade e Democracia (ID).

“Os eleitores têm de ter a oportunidade de tomar as suas decisões, sabendo muito bem se alguns políticos têm estado ativamente a perseguir os interesses chineses em vez de representarem os seus eleitores.”

Reinhard Bütikofer
Eurodeputado, verdes, Alemanha

O ministério público federal da Alemanha disse que o suspeito é acusado de ser "um funcionário dos serviços secretos chineses", bem como de "transmitir repetidamente informações sobre negociações e decisões no Parlamento Europeu ao seu cliente dos serviços secretos".

Numa curta declaração, Krah disse que teve conhecimento da detenção "através da imprensa", terça-feira de manhã, e que não tinha "qualquer informação adicional" para partilhar.

"A espionagem a favor de um Estado estrangeiro é uma acusação grave", disse o eurodeputado, "se as alegações se revelarem verdadeiras, o Sr. Guo deixará imediatamente de trabalhar comigo".

"Já há algum tempo que havia suspeitas. Agora que as autoridades alemãs actuaram, espero que haja um esclarecimento rápido", disse à Euronews Reinhard Bütikofer, o eurodeputado alemão dos Verdes que preside à delegação do Parlamento Europeu para as relações com a China.

"Os eleitores têm de ter a oportunidade de tomar as suas decisões, sabendo muito bem se alguns políticos têm estado ativamente a perseguir os interesses chineses em vez de representarem os seus eleitores", acrescentou.

"Russiagate" também envolve Maximillian Krah

Como o nome de Maximillian Krah já está envolvido no "Russiangate", Terry Reintke argumentou que as duas investigações devem estar "ligadas". Krah negou ter recebido dinheiro pelas suas intervenções na Voz da Europa, a empresa noticiosa sob escrutínio.

Krah é um dos seuspeito de ter recebido dinheiro desta agência com ligações ao governo da Rússia para divulgar narrativas favoráveis ao Kremlin.

O caso é conduzido pelas autoridades belgas e checas e envolve políticos da Alemanha, França, Polónia, Bélgica, Países Baixos e Hungria.

"Os pagamentos em dinheiro não tiveram lugar na Bélgica, mas a interferência sim", disse o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, há alguns dias. "Como a Bélgica é a sede das instituições da UE, temos a responsabilidade de defender o direito de todos os cidadãos a um voto livre e seguro."

“A extrema-direita europeia diz que faz a defesa das nossas nações e dos nossos concidadãos. Na realidade, os interesses que defendem são os de Moscovo e de Pequim.”

Valérie Hayer
Eurodeputada, liberal, França

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse à Euronews que está disposta a levantar a imunidade dos suspeitos, mas só depois de receber mais informações das autoridades policiais.

Outras críticas às "ligações" com  Rússia e China

Valérie Hayer, eurodeputada francesa e líder da bancada liberal Renovar a Europa,  exortou os cidadãos a fazerem ouvir a sua voz nas próximas eleições europeias de junho, para  evitar a ascensão da extrema-direita prevista pelas sondagens.

"A extrema-direita europeia diz que faz a defesa das nossas nações e dos nossos concidadãos. Na realidade, os interesses que defendem são os de Moscovo e de Pequim", afirmou Hayer, nas redes sociais.

"Soberania à venda!", escreveu o seu colega belga Guy Verhofstadt, da mesma bancada, nas redes sociais.

Anna Fotyga, eurodpeutada polaca, membro do partido ultraconservador e populista Conservadores e Reformistas Europeus (CRE), disse que "não ficou surpreendida" com a detenção do assistente de Krah.

"Depois de ter passado 10 anos em Bruxelas e de ter emitido alertas sobre ameaças provenientes da Rússia, da China, do Irão e de outros regimes hostis, sei bem que não se trata de um caso isolado", afirmou Fotyga, nas redes sociais.

Embora o CRE e a ID partilhem linhas ideológicas, como uma forte aversão ao Pacto Ecológico Europeu e ao Pacto da UE para a Migração e Asilo , divergem frequentemente sobre a forma como a UE deve responder às ameaças da Rússia e da China. 

Krah afirmou que a estratégia de "desacoplamento" conduziria a uma recessão, em declarações feitas em dezembro passado. "Dedesacoplamento" em relação à China é um conceito que visa implementar, progressivamente, uma estratégia de diminuição das dependências económicas e industriais, mas mantendo as relações político-diplomáticas com o país.

"A China é chinesa. Gostamos disso? Não. Podemos mudar isso? Não. Beneficiamos com o recurso a conflitos, sanções e guerras económicas? Temos de aceitar o mundo tal como ele é, mesmo que não gostemos dele, e tirar o melhor partido dele para os cidadãos da Europa", disse Krah.

China reage contra "desinformação"

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China classificou as últimas notícias, incluindo a detenção de três cidadãos alemães na segunda-feira , como "desinformação" e uma "difamação maliciosa" destinada a "minar a atmosfera de cooperação" entre a China e a Europa.

"Esperamos que as pessoas relevantes na Alemanha abandonem a sua mentalidade de Guerra Fria e deixem de utilizar a chamada ameaça de espionagem para se envolverem numa manipulação política anti-China", disse o porta-voz, citado pela Associated Press.

O "Russiagate" e o "Chinagate" não são os únicos escândalos de ingerência estrangeira que atingiram o Parlamento Europeu durante a atual legislatura: em dezembro de 2022, o hemiciclo foi abalado por alegações de que funcionários do Qatar e de Marrocos tinham corrumpido atuais e antigos eurodeputados de centro-esquerda.

O chamado "Qatargate" desencadeou um frenesim mediático e prejudicou gravemente a imagem do Parlamento Europeu, que se viu obrigado a introduzir novas regras de transparência e conduta.

 

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