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FRANÇA:
A clareza ou a revolta, Hollande deve escolher

01-11-2013 - Eric Le Boucher

Com uma fraca posição nas sondagens, criticado pela esquerda e pela direita e a enfrentar uma forte vaga de protestos sociais, o Presidente francês está encostado à parede. A sua única saída é “desmarxizar” finalmente a esquerda, considera um editorialista. Excertos.

Já aconteceu. Chegámos ao momento-chave do movimento estratégico iniciado por François Hollande. Este encontra-se sob fogo cruzado, vindo do seu próprio campo e da direita. Conseguirá sobreviver?

Penso que é tarefa de François Hollande reagir finalmente à conversão do socialismo francês à social-democracia. Deve desmarxizar a esquerda. Mas [Hollande] herdou um partido que, por culpa de todos os dirigentes socialistas – entre os quais ele próprio –, faz uma análise da crise invertendo os seus termos: uma análise que apela ao regresso da luta de classes! O trabalho “contra” o capital! O Partido Socialista (PS) não avançou para o século XXI: refugiou-se no século XIX. Para ele, a questão central é a desigualdade: é preciso tributar os ricos. O Hollande eleito está rodeado de conselheiros e ministros que pensam isso. Tem um Parlamento no qual muitos deputados pensam isso.

Como candidato, percebeu que a crise era sem dúvida mais complexa do que estes raciocínios ociosos. Fez poucas promessas. Ousou dizer que o começo do mandato seria duro e que os frutos só poderiam ser distribuídos depois, na segunda parte. Foi prudente;  hesitante, diriam alguns.

O problema de François Hollande é não ser um intelectual. É esse o seu drama fundamental. Falta-lhe uma visão. Como é realista e pragmático, compreendeu rapidamente que o motor socialista está morto. Mas, para o substituir, não há nada além de um processo de tentativa e erro e o seu gosto pelos compromissos. Vai tateando as relações de força. Homem de sínteses modestas, falta-lhe uma grande Síntese entre socialismo e modernidade.

Vocabulário político do séc. XIX

É essa falta que explica que, apesar do seu programa prudente, tenha seguido em duas direções erradas. Rodeado por um aparelho socialista que clama contra as desigualdades, os bancos e o CAC40, não viu de imediato que o principal problema da França era a sua fraca competitividade. As empresas não ganham demasiado dinheiro: ganham demasiado pouco!

No entanto, emendou rapidamente a mão, no verão de 2013, com o relatório Gallois [sobre a competitividade da indústria francesa]. O PS engasgou-se! Muitos não se recompuseram e ainda encaram essa “política da oferta” como um “presente” que foi dado ao patronato. Um vocabulário do século XIX.

Com um crescimento nulo em 2012, algumas considerações keynesianas justificadas preconizavam que não se reduzisse demasiado a despesa pública

O outro erro é de ordem orçamental. No início, o mesmo motor PS levou a que se aumentassem os impostos, os dos ricos, para reduzir o défice. Tributar os ricos, dar aos outros e tudo iria correr melhor! Além disso, em matéria de redução das despesas, a outra possibilidade de uma política de austeridade, o Presidente tinha pouca margem de manobra. Sendo socialista, não queria atingir os seus eleitores funcionários. E, por outro lado, os economistas aconselhavam-no a agir delicadamente. Com um crescimento nulo em 2012, algumas considerações keynesianas justificadas preconizavam que não se reduzisse demasiado a despesa pública. A França correria o risco de, à semelhança da Itália, cair na recessão. O pedido de um prazo a Bruxelas para regressar às regras de Maastricht era legítimo e foi aceite.

Esta política, em que se misturam uma base de preconceito contra os ricos, uma ideologia keynesiana e eleitoralismo, produziu o “choque fiscal” de 2012: 30 mil milhões de impostos. Mas, num país com um recorde de taxas e impostos, acendeu-se a chama da  revolta fiscal. Em 2013, um terço dos esforços incidiram sobre a redução das despesas, mas dois terços continuaram a dizer respeito à tributação e, desta vez, não apenas dos ricos, mas de toda a gente, incluindo a classe média.

Em 2014, o Governo espera a chegada da retoma, as considerações keynesianas terão menor peso e 80% dos esforços incidirão sobre as economias e 20% sobre os impostos. Em 2015, prometeu Hollande, 100% do rigor orçamental recairá sobre a despesa.

Ausência de pedagogia

Um clima de saturação fiscal que raia a insurreição

A viragem seria total em três anos, mas é demasiado tempo. François Hollande acabaria por chegar a uma linha de política económica sã: a competitividade e a redução estrutural da despesa. Contudo, a “ambiguidade” teria durado demasiado tempo e a “pedagogia” estaria ausente. Temos, por um lado, uma maioria que protesta e vocifera, de manhã à noite, na televisão, contra um Presidente social-democrata, e, por outro, um clima de saturação fiscal que raia a insurreição.

Que pode fazer François Hollande? Com risco de atacar pelas costas o PS e a sua maioria, deveria acelerar no novo rumo tomado. A competitividade francesa não foi restabelecida, longe disso, e é preciso ir mais longe. A redução das despesas deveria constituir uma oportunidade de obter ganhos de eficácia nos serviços públicos.

Queria ser  social-democrata? Que o seja abertamente. Os políticos e os contribuintes já não aguentam mais.

 

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