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HISTÓRIAS – XV

03-05-2019 - Henrique Pratas

Este episódio que vos vou descrever aconteceu há muito pouco tempo. Em tempos num dos meus textos fiz menção a um senhor que tinha uma taberna na Carregueira que nos meus tempos de jovem, preparava uns passarinhos fritos que eram uma delícia, bem temperados a puxar para beber mais uns copos de vinho de excelente qualidade enfim prazeres que tive outrora. Este senhor era amigo do meu pai e do meu tio materno, passávamos por lá muitas vezes para petiscarmos e éramos visitas de casa.

Criou-se uma grande amizade ora desde os meus 16 anos até aos 62 anos, deu tempo necessário e suficiente para nos conhecermos muito bem, éramos amigos, independentemente da diferença de idades ele deu-me a oportunidade de provar petiscos levados da breca típicos da nossa zona e eu estou-lhe grato por isso, foi uma pessoa que estava atrás do balcão e nunca o vi beber, apesar de ser muitas vezes solicitados para o fazer, nunca o concretizava, para enganar quem lhe fazia estes pedidos por vezes enchia um copo de vinho e colocava debaixo do balcão, para quem não estava atento pensava que ele bebia, mas não o copo era sempre o mesmo e o liquido também, porque aqueles que o viam fazer o gesto de encher o copo não reparavam no que fazia ao conteúdo do mesmo. Como lhes descrevi, colocava o copo debaixo do balcão para uma nova “investida” do mesmo género, isto repetia-se vezes sem conta ao dia.

Ele só bebia ou com o meu pai ou com o meu tio e só quando fechava a casa e ficávamos só nós, às vezes tarde.

As conversas agradáveis foram muitas, de tal modo que criei por ele uma amizade e respeito enorme e as nossas relações mantiveram-se por muitos e bons anos.

Ele era casado mas não tinha filhos, chegado a uma altura em que lhe surgiram uns problemas de coração, decidiu e bem, na minha opinião por fim àquela vida, vendeu o café ou taberna como quiserem, mas a amizade continuou e eu por várias vezes passava por casa dele para ver se o encontrava, ele ficava feliz e eu também.

Isto aconteceu até há uns meses atrás, a mulher faleceu-lhe, eu ainda fui lá a casa para lhe falar e ele aí não me deixou ver a mulher que gostava muito de mim, mas protegeu-a porque estava a sofrer horrores com uma doença terminal, entendi e respeitei a sua posição, deixei-lhe os meus contatos, no caso de ser necessário alguma coisa, era o mínimo que podia fazer.

Depois de a mulher ter falecido, nunca mais o consegui encontrar apesar das tentativas que fiz e que foram muitas, passei por casa dele e nunca o encontrei, ele tinha-me dito que depois da morte da mulher passava pouco tempo em casa e que estava mais tempo no Lar da Carregueira. Ele tinha uma carrinha de caixa aberta típica e distinguível de todas as outras, calcorreei os caminhos onde o podia encontrar mas nunca o encontrei, andei nisto mais de 4 meses e todas as semanas, porque nesta fase da minha vida decidi ir mais vezes para o Arripiado, aldeia de onde os meus avós são naturais e como isto era recorrente, num dos dias do fim de semana lá ia eu há procura da pessoa que queria encontrar. Como não gosto de fazer perguntas podia ter conhecimento da situação mais, mas esta era uma coisa minha e jamais me passaria o desfecho que tive conhecimento há duas semanas.

Há duas semanas fui há Carregueira fazer um pagamento relativo há limpeza dos terrenos e fiz-me acompanhar de um primo meu, depois de ter pago, questionei-o se não se importava de passar por casa da pessoa que eu procurava, ele respondeu-me imediatamente que não. Uma vez mais o resultado desta minha atuação não produziu efeitos, não o encontrei, voltámos para o Arripiado, pois as horas de almoço estavam perto e como é hábito nestas aldeias a seguir ao almoço há sempre uma paragem para um descanso, bons hábitos.

Esse meu primo depois de ter feito a sesta, deslocou-se de modo próprio até ao local onde as pessoas se colocam para conversar, por volta das 17h bate-me à porta e pergunta-me se me pode dizer uma coisa e se eu não vou ficar aborrecido com ele, eu respondi-lhe que sim, pois a noticia que me iria dar jamais me passava pela cabeça. Ele insistiu mas Henrique não, vais ficar aborrecido, disse-lhe que não e foi aí que ele me disse que a pessoa que andava há procura tinha falecido, não quis acreditar, mas como lhe tinha dito que não iria ficar aborrecido, tentei demonstrar o que não sentia, ele que não é parvo apercebeu-se e no dia seguinte comentou com a minha mulher, que não imaginava que eu ficasse tão abalado e que estava preocupado comigo.

Tudo isto para vos dizer elas surgem de onde menos esperamos mas quando de facto existe amizade entre as pessoas é um “pedrada” de uma enormidade inigualável, apesar de tudo isto e como era amigo dele, obviamente que andei um dia sem falar com ninguém, mas a minha consciência estava tranquila, o que eu pensei foi que estou a perder os meus amigos e que qualquer dia pode chegar a minha vez e não me agrada nada pensar nisto, talvez seja um pensamento egoísta, mas ainda tenho tanto para fazer que não sei se terei tempo para o concretizar.

O que lhes posso escrever meus amigos é que viva a amizade, mas aquela em que nos zangamos, discordamos, somos solidários e onde o maior valor que prevalece é de facto a amizade pura e dura, o resto faz parte de uma relação saudável, que não perturba em nada o sentimento mais puro A AMIZADE.

Henrique Pratas

 

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