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HISTÓRIAS – XIII

19-04-2019 - Henrique Pratas

O episódio que vos quero contar aconteceu por volta de 1978, tinha acabado de entrar para a Faculdade, Instituto Superior de Economia e logo no primeiro ano conheci três amigos, dois faziam parte da minha turma, outro não era de uma turma diferente mas oriundo do Algarve, da mesma vila, como era o que frequentava as aulas na minha turma.

Desde muito cedo estabelecemos relações de amizade fortes, porque tínhamos os mesmos interesses e apesar de existirem algumas divergências politicas com um deles que se assumia, como sendo da LCI – ML, para quem não se recorda deste partido era a (Liga Comunista Internacionalista – Marxista-leninista). Os seus militantes eram muito ativos, eram poucos mas com muita atividade política, fazendo por estar sempre na linha da frente.

Eu que fui sempre avesso a obediências partidárias, a dogmas, ideias pré-concebidas, nunca fui filiado em nenhum partido político para poder ter sempre a distância necessária para poder ter um espirito crítico em relação a tudo sem ficar preso a militâncias ou quaisquer outro tipo de preconceitos, nunca gostei que pensassem por mim e sempre gostava de emitir a minha opinião e não aquela que quisessem que emitisse.

Vivíamos um período em que as querelas político-partidárias eram diárias e constantes, por dá aquela palha fazia-se uma reunião de alunos ou uma greve às aulas se os professores não faziam o que pretendíamos, em algumas situações tínhamos razão noutras não. Dou-lhes um exemplo, ao tempo solicitámos aos professores que elaborassem sebentas para podermos estudar, muitos deles não estavam de acordo com esse pedido e não o faziam, movimentámo-nos no sentido que os mesmos fizessem o que lhe tínhamos pedido, conseguimos alcançar e criámos um hábito salutar do meu ponto de vista, porque existiam professores que iam lá apenas para debitar a matéria e receber o seu dinheirinho no final do mês e não contribuíam em nada para que nós alunos, saíssemos no final do curso os mais habilitados possíveis para o exercício de uma profissão, para a qual nos queríamos preparar muito bem, para dar o nosso melhor a este País, era esse o nosso pensamento.

Ora logo nesse primeiro ano e para delimitar os campos de ação as “lutas” políticas eram mais do que muitas, quase diárias, discutiam-se muito as teorias políticas, as formas de ação e as práticas por dá cá aquela palha “armava-se o baile”. Discutia-se ou se quiserem conversava-se mais intensamente e colocavam-se mais em causa as diferentes opções politica, muito mais do que hoje, atualmente e contrariamente ao que acontecia, já não se discute ou se põe em causa nada, acomodámo-nos com todas as desvantagens que isto tem para nós, mas ao tempo era assim e como eu lhes costume escrever nós somos um Povo que é tudo ou nada, agora estamos na fase do nada e na altura na fase do tudo, será que algum dia conseguimos encontrar o equilíbrio?

Mas como lhes descrevi fizemos logo amizade no primeiro ano e logo nas primeiras férias escolares fomos convidados para ir passar uns dias com os nossos amigos de Alcantarilha. De Lisboa era eu e um outro amigo do Algarve eram eles os dois, como na altura quem tinha carro era eu, fomos na minha viatura, até ao Algarve, a viagem correu às mil maravilhas, o pior estava para acontecer logo no dia da chegada.

Eu fiquei em casa de um dos meus amigos de origem algarvia e outro meu amigo em casa do outro amigo algarvio, a janta foi em casa onde eu ia ficar, nesse jantar estava sentado há mesa o padrinho desse meu amigo nosso, que era padre, o clima aqueceu porque se começou a falar de política como era inevitável ao tempo.

O meu amigo alfacinha e LCI convicto ao tempo, foi coerente e argumentou com o senhor padre até às últimas consequências, defendo sempre as ideias que lhe tinham “vendido” ou que ele tinha comprado sem saber o que estava a comprar.

A discussão politica aqueceu e de que maneira, eu como sempre fui mais comedido, tendo em consideração, três fatores que me pareciam muito importantes, por um lado o facto de o senhor ser padre, por outro lado a sua idade e ainda o fator de estar na condição de convidado, não me pereceu nem achei que valia a pena argumentar muito ou quase nada calei-me há maior parte das coisas que foram ditas por aquilo que lhes disse e pelo facto de entender que não iria mudar a forma de pensar em nada o senhor padre. O jantar decorreu neste clima tenso até que terminou, já mais calmo porque também o meu amigo, deixou de contra-argumentar e só olhava para mim há espera que eu desse “andamento” ao processo, entendi pelas razões que lhes descrevi que não valia a pena, não iria conseguir mudar nada e estava num “ ambiente” que não era o meu e nem me era favorável, mas não deixou de estar em desacordo com que o senhor padre dizia, mas por vezes com foi o caso entendi que não era o local nem o momento próprio para argumentar.

Terminada a refeição e para que desanuviássemos daquele jantar que tinha sido “pesado” sugeri que fossemos beber um copo e questionei os meus amigos algarvios onde é que havia um bar. Eles prontamente me disseram vamos ali a Albufeira que há lá um bar onde podemos conversar há vontade e beber uns copos à vontade.

Assim que nos metemos no meu carro o meu amigo de Lisboa que tinha estado a argumentar com o senhor padre, destratou-me e disse-me que era um cobarde, incoerente enfim tudo o que lhe veio à cabeça, pois tinha acabado de perder uma guerra que à partida estava perdida, mas que ele não entendeu que assim era e como os “mandamentos” que defendia lhe “exigiam” que se comportasse da maneira como o fez achava que os outros o deviam ter feito da mesma forma, como eu não embarquei nesse processo, porque não valia a pena e não gosto de perder nem a feijões, a única coisa que me preocupei foi que não me faltassem ao respeito, como isso não aconteceu e como qualquer intervenção minha seria despropositada, calei-me e assobiei para o ar.

Como lhes diziam esse meu amigo cansado, um pouco desiludido com o seu “empenho”, mas com a “guerra” perdida, descarregou a sua frustração toda em cima de mim, eu nada lhe disse, é que nem reposta lhe dei, estava noutra e percebi o estado em que estava, na viagem chegou a dizer-me que o carro era meu e se eu quisesse que no regresso estava à vontade para não lhe dar boleia, enfim as baboseiras que se dizem quando estamos furiosos. Aqui sim eu tive que lhe responder e foi de forma firme e dura, “Olha meu caro, eu não me pauto por esse tipo de comportamento, tu vieste connosco e entendo que deves ir connosco se entendes que deves fazer o contrário a decisão é tua, por mim não altero em nada o que combinámos”. Aí calou-se e meteu a viola no saco.

Chegados ao tal bar, a “Pipa”, em Albufeira, que julgo que já não existe hoje, pedimos uns copos eu estava na fase da “cuba-libre” e depois de beber umas três, aí sim, desengatei o que me ia na lama e disse tudo o que eu tinha a dizer ao meu amigo sem mas nem meio mas, invoquei-lhe as razões que já vos descrevi anteriormente e perguntei-lhe no final e foi com isso que ele se calou de vez, “ O que é que conseguiste modificar ou alterar?”, fiquei sem resposta e continuámos a beber até o bar fechar e julgo ter conseguido que esse meu amigo deixasse de ter ideias preconcebidas, pois uns anos mais tarde viria a casar, pela Igreja, no Mosteiro dos Jerónimos, como a mulher pretendia e aí que tenho boa memória quando o padre se havia alguém tinha alguma coisa para dizer eu levantei-me e em alto e bom som lhe disse, com todos os convidados a ouvirem

“ Então eras tu que dizias que não casavas pela Igreja e que não participavas em cerimónias religiosas e que entendias que a Igreja era uma instituição conservadora e inibidora das liberdades?”, nem uma mosca se ouviu, mas as coisas são para ser ditas nos locais certos e há uma coisa que desde cedo aprendi uma pessoa nunca deve dizer “nunca”, porque depois acontecem coisas na vida em que se é apanhado em contrapé.

O tempo é bom conselheiro não podemos, nem devemos ser intempestivos, por vezes é necessário saber esperar pelos momentos certos, foi o que fiz.

Henrique Pratas

 

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