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Finalmente tivemos futebol na Televisão

07-07-2017 - Henrique Pratas

Até que enfim ontem tivemos futebol na televisão, eu que já não conseguia ver os canais de informação da televisão portuguesa ontem pela primeira vez ao fim de duas ou três semanas consegui ver um programa que passou na RTP 1 o jogo de futebol entre o Chile e Portugal. Isto escrito desta forma pode-vos parecer uma coisa já vista ou mesma recordar-vos do tempo da outra senhora em que só tínhamos futebol na televisão, ontem dei por mim como lhes escrevi a ligar o canal de televisão para ver o jogo de futebol e apressei-me a ligar para um amigo meu a informá-lo que já podíamos ver televisão, pois estava a dar o jogo Chile e Portugal.

É estranho mas é verdade, fartei-me da televisão, nomeadamente dos canais portugueses onde nos últimos tempos só passaram imagens da desgraça que aconteceu em Pedrógão Grande e arredores, cansei-me de ver no primeiro dia as reportagens que os diferentes canais emitiam, acho que o que se fez não foi informação, foi circo, será que voltámos ao tempo da Roma antiga, a 753 a.C., onde a política do Pão e circo (panem et circenses, no original em Latim) como ficou conhecida, era o modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. Esta frase tem origem na Sátira X do humorista e poeta romano Juvenal (vivo por volta do ano 100 d.C.) e no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos, e só se preocupava com o alimento e o divertimento.

Com a sua gradual expansão, o Império Romano tornou-se um estado rico, cosmopolita, e sua capital, Roma, tornou-se o centro de praticamente todos os acontecimentos sociais, políticos e culturais na época de seu auge. Isso fez naturalmente com que a cidade se expandisse, com gente vindo das mais diferentes regiões em busca de uma vida melhor. Como acontece até hoje em qualquer parte do mundo, pessoas humildes e de poucas condições financeiras iam se acotovelando nas periferias de Roma, em habitações com conforto mínimo, espaço reduzido, de pouco ou nenhum saneamento básico, e que eram exploradas em empregos de muito trabalho braçal e pouco retorno financeiro.

Esses ingredientes, em qualquer sociedade são perfeitos para detonarem revoltas sociais de grandes dimensões. Para evitar isso, os imperadores optaram por uma solução paliativa, que envolvia a distribuição de cereais, e a promoção de vários eventos para entreter e distrair o povo dos problemas mais sérios na fundação da sociedade romana.

Assim, nos tempos de crise, em especial no tempo do Império, as autoridades acalmavam o povo com a construção de enormes arenas, nas quais realizavam-se sangrentos espetáculos envolvendo gladiadores, animais ferozes, corridas de bigas, quadrigas, acrobacias, bandas, espetáculos com palhaços, artistas de teatro e corridas de cavalo. Outro costume dos imperadores era a distribuição de cereais mensalmente no Pórtico de Minucius. Basicamente, estes "presentes" ao povo romano garantia que a plebe não morresse de fome e tampouco de aborrecimento. A vantagem de tal prática era que, ao mesmo tempo em que a população ficava contente e apaziguada, a popularidade do imperador entre os mais humildes ficava consolidada.

Para os espetáculos eram reservados aproximadamente 182 dias no ano (para cada dia útil havia um ou dois dias de feriado). Os espetáculos que foram se desenvolvendo em cada uma dessas férias romanas, tinham sua origem na religião. Os romanos nunca deixavam de cumprir as solenidades, porém não mais as compreendiam e os festejos foram deixando de ter um caráter sagrado e passando a saciar somente os prazeres de quem os assistia.

Foi isto mesmo que senti um circo montado à volta da desgraça alheia onde não faltaram jornalistas, repórteres de imagem, políticos, secretários de estado, ministros e presidente da república e demais “mirones” mais ou menos encartados e com vontades/veleidades de assumir cargos públicos, foi mau de mais para ser verdade. Na minha opinião foi exemplo acabado do que vos descrevi sobre o funcionamento do circo na Roma Antiga, fiquei magoado com tanta falta de senso e de respeito pela desgraça alheia, entendo que para alcançar qualquer objetivo seja ele politico ou financeiro não vale tudo, mas não foi isto que aconteceu, ninguém respeitou a memória dos que faleceram naquela tragédia, montaram um circo mediático com aparições públicas tempos de antena e especulação, a vontade de escarafunchar nas feridas abertas foi mais do que muita, em vez de recato, de eficácia e de eficiência assistimos à mais vergonhosa desinformação que poderia ter acontecido. O que vi no primeiro dia bastou-me e decidi não ver mais nada tamanha foi a desilusão que tive ao ver como a situação estava a ser tratada pelos canais de televisão. No primeiro dia assisti a uma repórter de imagem de um canal de televisão a insistir que tinha caído um avião Canadair e repetiu tantas vezes esta suposta informação até à exaustão, mesmo depois do briefing que foi realizado e onde se disse que não tinham informação que tivesse caído nenhuma aeronave, pois de acordo com a informação que possuíam todas estavam a voar, por ela a aeronave teria mesmo caído, com que objetivos o que é que ela lucrava com isso, não entendi, irritei-me e até ao dia de ontem em que deu o jogo de futebol entre o Chile e Portugal não vi mais nada, mas não fiquei a leste do paraíso sempre fui ouvindo que o presidente do PSD, afirmou que pessoas se tinham suicidado no meio desta tragédia, mais uma informação falsa que lhe foi soprada pelo seu correligionário e candidato à Presidência do Município onde a desgraça ocorreu, veio depois pedir desculpas por ter dado uma informação errada, será que a personagem e os repórteres de imagem e jornalistas não sabem o que são fontes fidedignas e vale tudo.

Seria bom que antes de produzirem informações verificassem se as fontes são verdadeiras, consistentes porque com a vida das pessoas não se brinca, muito menos quando acontece uma tragédia desta enormidade. A forma como esta situação foi e continua a ser tratada demonstra a nossa pequena pequenez, a nossa falta de senso e o estado em que nos colocaram os políticos que nos Des) Governaram desde que o 25 de abril de 1974 aconteceu no nosso País.

Entretanto e no meio da tragédia que se abateu, levantam suspeitas sobre o SIRESP, que é o sistema por onde se devem fazer todas as comunicações relacionadas com a segurança e caos de emergência, mais uma manobra de diversão, pois é do conhecimento público que o referido sistema foi auditado por uma empresa de auditoria externa, KPMG, o Tribunal de Contas e a Procuradoria-geral da República, o Ministério Público, intervierem no processo em tempo oportuno e quando tal se justificou, o sistema pode não estar perfeito, não estou a fazer a sua defesa porque entendo que as coisas podem e devem evoluir com o tempo, mas servirem-se deste pretexto para fazer acusações infundadas e inoportunas só por motivos políticos parece-me de muito mau gosto, no momento em que foi feito. Há que analisar e ver o que está bem e o que está mal, mas acho que ainda não é o momento certo e concomitantemente entendo que este assunto não deve ser tratado na praça pública, existem locais apropriados para o efeito o que está a ocorrer é mais “circo”.

Não contentes com isto uma Diretora de Informação de um canal de informação televisivo produz a informação que o sangue, de um dos candidatos ao Município de Lisboa, é comunista, com esta meus caros senti-me no tempo da outra senhora em que se dizia que o sangue que corria nas vais de algumas pessoas era fascista.

Tudo o que vos acabo de escrever é muito mau e foi por este motivo que eu ontem ao ver que a televisão ia dar o jogo de futebol entre o Chile e Portugal me apressei a ligar a um amigo e dizer-lhe que já se podia ver televisão, pelo menos durante 90 minutos, que hoje sabemos que foi mais.

Mas não deixei de pensar que esta era a forma de estar no tempo de Salazar e Caetano e a questão fica foi para isto que se deu o 25 de abril de 1974? De imediato pensei até onde é que nos empurraram, cada vez mais penso que o sonho de abril se mantém vivo apenas em algumas cabeças que têm a capacidade de sonhar e que possuem as suas utopias. Acho mesmo que chegámos a um estado pior do que o do 25 de abril de 1974, porque a liberdade está condicionada como devem constatar, os direitos mais elementares consignados na Constituição da República Portuguesa são postos em causa, o neoliberalismo radical está instalado de armas e bagagens, cada vez temos mais pobres, a classe média desapareceu, estamos apenas com dois extremos os pobres e os ricos, estes últimos cada vez mais opulentos e os pobres cada vez mais pobres e fragilizados a todos os níveis, a meu ver chegámos a uma situação de rutura que se vai protelando de forma lenta e agonizante ao longo dos dias que passam, há pessoas a morrer à fome.

Não fiz menção aos episódios que a imprensa e os canais de televisão tentam dissecar e dão protagonismo aos supostos mails que os diferentes clubes, onde o Sport Lisboa e Benfica é o principal visado, são muitas as atoardas, factos poucos, mas é o que vos escrevi armaram o circo e há que alimentá-lo seja à custa do que for, meus caros estamos numa era em que vale tudo e onde o respeito, a educação a cidadania são palavras que apenas residem e habitam na mente de alguns nossos concidadãos.

Ao que isto chegou, mas a questão fica onde é que isto vai parar?

Empurram-nos para uma situação em que tentam colocar umas pessoas contra as outras e as coisas não têm que ser necessariamente assim, mas foi este o clima que instalaram na sociedade portuguesa e nós deixámos, alguns de nós resistiu e continuam a resistir outros deixaram-se ir porque era o mais fácil e cómodo, com esta atitude o bem-estar do País não ficou salvaguardado, antes pelo contrário construiu-se um País desprovido de quaisquer valores ou princípios

Lisboa, 29 de junho de 2019

Henrique Pratas

 

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