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Inventário e limpeza dos objectos

27-12-2013

Seguidamente à acção de mudança do acervo e do seu depósito nas instalações do Centro Coordenador de Transportes Terrestres procedeu-se ao seu inventário. Esta fase dos procedimentos colocou sérias questões relativamente à documentação deste acervo, pois não existiam livros de registo ou fichas de inventário dos objectos.

Nesta altura, iniciámos a nossa colaboração no âmbito deste projecto, desenvolvendo a parte de inventário das colecções e limpeza superficial dos objectos. A falta de informação relativa à proveniência dos mesmos mostrou-se desde logo um problema. A descrição dos mesmos foi feita de acordo com o trabalho de investigação encetado por nós, tendo como fontes mais relevantes a bibliografia anteriormente citada sobre o Museu Etnográfico da Casa do Povo de Almeirim e a informação recolhida junto de agricultores do concelho, que nos ajudaram na identificação de algumas alfaias agrícolas. Relativamente aos restantes objectos, a sua identificação não se mostrou difícil, pelo facto de serem objectos de tipologia comum, de uso quotidiano, ainda que com algumas especificidades terminológicas que ultrapassámos com alguma investigação no domínio da etnografia. A cada objecto foi atribuído um número de inventário a que correspondeu uma ficha, constituindo-se um arquivo em suporte papel e suporte informático.

Intenções do novo projecto museológico

Ainda que tenhamos vindo a definir o Museu Municipal de Almeirim como um projecto novo e tendo em linha de conta o seu historial, consideramos ser isto um equívoco. O rigor com que estudámos a sua génese e a relação que estabelecemos com o movimento da Nova Museologia, leva-nos antes a assumi-lo como uma actualização do Museu primitivo, fundamentando a nossa perspectiva na necessidade de reformulação das unidades museológicas:

“A crítica do museu, portanto, é necessária sempre que vá acompanhada de um desejo de reforma de todos aqueles elementos que se tornaram obsoletos. (…) Hoje não poderia ser de outra maneira e, por isso, os museus têm de estar dispostos a analisar e detectar quais os problemas fundamentais aos quais devem fazer frente se pretendem dinamizar-se e renovar- se.” (Hernández, 2006: 208)[1]

A vontade de conceber um novo espaço para acolher o acervo, que correspondesse às novas abordagens museológicas, impeliu o Vereador da Cultura a encetar contactos com técnicos na área da museologia que pudessem dar continuidade a este desígnio.

A proximidadegeográfica como concelho do Cartaxo e o exemplo do Museu Rural e do Vinho[2] agilizou esse processo. Através dos contactos disponibilizados por aquela entidade museológica, chegou-se ao museólogo António Nabais, responsável pela reprogramação daquele Museu e a partir desse momento, sob as suas orientações, definiram-se formalmente as intenções de criar um Museu Municipal em Almeirim, procedendo-se à encomenda do programa preliminar, cuja importância é reforçada por alguns autores, nomeadamente Francisca Hernàndez (1998) quando diz:

“A experiência tem demonstrado que a definição de um programa, antes de realizar qualquer intervenção museológica, é de grande eficácia, tanto quando aplicado a projectos importantes, como a outros simples e de menor complexidade, uma vez que permite assegurar uma assistência técnica e prática que começa desde a definição dos objectivos até ao efectivo funcionamento do museu.” (p. 119)[3]

O conceito desta unidade museológica fundamentou-se nos objectivos gerais de um museu regional, na comunidade local, no património museológico e na contextualização histórico/social dos objectos, seguindo, ao mesmo tempo, os princípios teóricos e práticos da ciência museológica, de modo a garantir com rigor a função científica e didáctica de uma instituição deste tipo, a criar em Almeirim. A sua situação geográfica favoreceu à instalação de uma unidade museológica que ajudasse a descobrir e a conhecer melhor o Concelho. O Museu Municipal de Almeirim concebido para ser um espaço de conhecimento e de experimentações, seria simultaneamente um centro de recursos culturais, técnicos e científicos.

Justificou-se para Almeirim um museu de síntese do território do município que pudesse garantir a preservação e valorização de memórias, saberes, técnicas e objectos para dar continuidade e desenvolver uma cultura e/ou culturas que dão identidade ao Ribatejo.

Ao organizar-se o Museu Municipal de Almeirim pretendeu-se, por um lado, preservar e divulgar o património cultural móvel (herdado do antigo Museu Etnográfico da Casa do Povo de Almeirim) e as memórias, por outro; promover a divulgação; a formação e a produção artística em áreas técnico-profissionais que estiveram na base da criação de uma cultura local/regional. Ao mesmo tempo, pretendeu-se que este equipamento cultural fosse mais um pólo de interesse turístico, destinado a uma região ainda bastante carente deste tipo de ofertas para um público forasteiro – o turista – que cada vez mais procura estes produtos culturais.

[1] Tradução da autora. No original “La crítica del museo, por tanto, es necessaria sempre que vaya acompanhada de un deseo de reforma de todos aquellos elementos que se han quedado absoletos. (…) Hoy no podría ser de outra y, por eso, los museos han de estar dispuestos a analizar e detectar cuáles son los problemas fundamentales a los que han de hacer frente si pretenden dinamizarse y renovarse.” (Hernández, 2006:208)

[2] O Museu Rural e do Vinho do Cartaxo, instalado na Quinta das Pratas, foi inaugurado a 23 de Novembro de 1985, afirmando-se como o primeiro museu dedicado ao vinho Portugal.

[3] Tradução da autora. No original “ La experiencia ha demostrado que la definición de un programa, antes de realizar cualquier intervención museológica, es de gran eficácia tanto cuando se aplica a proyectos importantes, como a otros sencillos y de menor complejidad, puesto que permite assegurar una asistencia técnica y práctica que comienza desde la definición de los objetivos hasta la puesta en funcionameiento del museo.” (Hernández,1998:119)

Limpeza superficial de poeiras em objecto cerâmico.

© Marta Milheiro (2011)

Milheiro*, Marta (2013) Contributos para uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus – o caso do Museu Municipal de Almeirim (trabalho de Projecto para obtenção do grau de Mestre em Museologia).

*Licenciada em História da Arte e Mestre em Museologia pela FCSH - Universidade Nova de Lisboa.

 

 

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