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O passado proto-histórico de Almeirim: breve contextualização

07-09-2013

Em Almeirim, comprovou-se a presença humana desde a época Paleolítica. As recolhas feitas em 1982, na zona hoje denominada de Benfica do Ribatejo, confirmam precisamente esta ocupação, bem como a existência de outros vestígios do Mesolítico, Epipaleolítico (relativo à Idade do Ferro), Neolítico e Romano. Todavia, as diversas acções de lavra empreendidas ao longo dos tempos foram tornando esses testemunhos cada vez mais raros.

O local arqueológico mais relevante para o Paleolítico Superior no Concelho situa-se na freguesia de Raposa, no qual foram encontrados materiais, nomeadamente líticos, que depois de analisados confirmaram esta ocupação. Da mesma forma, o sítio da Barreira Branca ou o Ribeiro de Vale de Peixe corroboraram este princípio, através de acampamentos, justificados pela geografia do Concelho que não proporcionava a estes povos a possibilidade de encontrarem abrigo entre formações rochosas, sendo a sua ocupação considerada temporária (Silva, 2007: 19). Em 1982, abriu-se a importante descoberta da estação arqueológica da Azeitada e com ela revelou-se um espólio que deu a certeza, após investigação, da passagem de indivíduos do Mesolítico, Epipaleolítico, Neolítico e Romano - a villa romana da Azeitada surgiu no contexto da romanização da margem esquerda do Tejo (Quinteira, 1998: 151-183; Silva, 2007: 22). A estação arqueológica de Alto dos Cacos, tratada num recente estudo (Pimenta e Henriques, 2012), confirmou vestígios anteriores relativos ao Paleolítico Inferior, pois reconheceram-se entre o material ali recolhido “as indústrias líticas Acheulenses sobre seixos de quartzito.” (Pimenta e Henriques, 2012: 23). Ainda neste sítio, a passagem de indivíduos do Calcolítico é “atestada por diversos elementos de pedra polida, machados e enxós em anfibolite, elementos de mós manuais, artefactos em sílex, assim como pela presença de cerâmica manual.” (Pimenta e Henriques, 2012: 25). A ocupação na Idade do Bronze do Alto dos Cacos não pôde ser provada, todavia, segundo estes autores,

 

“(…) tendo em conta a área de dispersão de materiais à superfície, aferida a partir dos recentes e exaustivos trabalhos de prospecção que aí podemos desenvolver, é possível supor uma considerável área ocupada de cerca de 2 hectares.(…) O conjunto cerâmico é dominado por cerâmicas manuais com tipologias do Bronze Final da Estremadura. Na análise das cerâmicas de produção manual, predominam os grandes contentores de armazenamento de colo alto e lábio simples, que deveriam servir para guardar os excedentes agrícolas e as taças carenadas com acabamento cuidado (…) estes apresentam bons paralelos em níveis da Idade do Bronze Final, na área de Alpiarça (Marques, 1972; Kalb e Höck, 1985), assim como outras estações contemporâneas do Vale do Tejo como o povoado da Tapada da Ajuda em Lisboa (Cardoso, 2004). (…) Peças similares são conhecidas na Meseta Espanhola nos grandes Oppida da Idade do Bronze de Las Cogotas (Zapatero e Sanchís, 1995: 213) (…) não podemos deixar de sublinhar que ele se insere numa malha de povoamento algo densa, devendo situar-se na esfera de influência do grande oppidum de Alto do Castelo, verdadeiro lugar central do povoamento em inícios do primeiro milénio a. C. na margem esquerda do Tejo.” (Pimenta e Henriques, 2012: 29-30)

No sentido de comprovar a presença das comunidades da Idade do Ferro no Vale do Tejo, retomámos o estudo sobre o Alto dos Cacos. Assim, salientou-se que a presença destes povos nesta zona encontrou-se também referenciada a partir de finais do século IX a.C. (Arruda, 2005). As influências destas comunidades notaram-se sobretudo ao nível do conjunto de materiais encontrados, que denunciaram uma marca orientalizante, identificando-se

 

“(…) ânforas de importação, provenientes da área do estreito de Gibraltar, do Tipo 10.1.2.1. de Ramon Torres (1995) (….) Identificam-se igualmente grandes contentores de armazenamento de tipologia oriental, os designados Phitoi, decorados com pintura em bandas paralelas de tom vermelho e negro. A análise (…) permite aferir a sua importação (…) possivelmente da área de Cádis” (Pimenta e Henriques, 2012: 36)

A referência de que efectivamente o sítio de Alto dos Cacos terá sido sistematicamente ocupado, sendo em consequência um antigo povoado pré-romano, enfatizou-se, precisamente, pela existência de um vasto espólio (artefactos líticos, numismáticos, cerâmica campaniense, lucernas,) descoberto in situ em 1981, reflexo de profundas transformações sofridas ao longo dos tempos (Pimenta e Henriques, 2012: 43-44).

Biface
Pré-história.

Nº Inventário: 79

Museu Municipal de Almeirim.

Milheiro*, Marta (2013) Contributos para uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus – o caso do Museu Municipal de Almeirim (trabalho de Projecto para obtenção do grau de Mestre em Museologia).

*Licenciada em História da Arte e Mestre em Museologia pela FCSH - Universidade Nova de Lisboa.

 

 

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