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CONTRIBUTOS PARA UMA CANDIDATURA À REDE PORTUGUESA DE MUSEUS: O CASO DO MUSEU MUNICIPAL DE ALMEIRIM: CONSIDERAÇÕES FINAIS

06-06-2014

Considera-se o museu uma instituição com um tipo de organização específica, centrando muito a sua actividade nas colecções nela integradas. Numa sociedade cada vez mais competitiva, os museus deverão oferecer aos públicos, cada vez mais exigentes, novos modelos de apresentação dos seus projectos culturais, bem como encontrar novas formas de gestão que os tornem sustentáveis (Hooper-Greenhill, 1993: 55-60).

Para além de considerarmos os museus como elementos fundamentais de preservação do património, salientamos também o museu como instrumento transmissor de informação, que assume diversas formas segundo os seus objectivos. Nesta lógica de heterogeneidade de formas de comunicação e de desempenho das funções museológicas, considerámos ter existido desde cedo e durante longos anos, no cenário museológico nacional, uma falta de articulação e de avaliação dessas diversas práticas, muitas das vezes com finalidades muito próximas.

A nossa experiência profissional ligada ao projecto do Museu Municipal de Almeirim e a nossa proposta em abordar este estudo de caso numa perspectiva de integração na Rede Portuguesa de Museus, fez-nos iniciar um estudo histórico e teórico sobre o mesmo, que fomos desenvolvendo ao longo de todo o trabalho.

Em nossa opinião, a Rede deu o seu maior contributo na definição de parâmetros comuns no propósito de uma gestão integrada de rede. Esta gestão ajuda a que exista por um lado, uma melhoria qualitativa e uma maior participação das instituições culturais nos projectos por vezes comuns, quer pela transversalidade de objectivos, quer pelas tipologias de colecções, etc., e por outro, uma aproximação do colectivo às instituições, num reflexo óbvio da sociedade em constante mutação, que obriga à aplicação das práticas museológicas associadas à nova museologia. Isto concorre para um projecto global, com princípios e estratégias definidos e para uma execução pluralista das práticas museológicas. Segundo a comunidade que constrói a própria rede, são estabelecidos diversos modelos de gestão, segundo as características de cada unidade.

A realidade museológica actual, de escassez de recursos, de contenção financeira e de dificuldades na gestão dos museus, que afectam o desempenho das instituições museológicas, faz com que pensemos cada vez mais na constituição de sistemas em rede, mais dinâmicos. Estes sistemas devem representar para as instituições museológicas uma linha de ajuda, de cooperação e articulação entre serviços de um mesmo território ou de uma mesma tutela. Defendemos a constituição de redes que sustentam outras redes, no sentido de serem o suporte daquilo a que os museus se propõem. A título de exemplo, podemos referir a Rede de Museus do Algarve, que vem funcionando como um sistema de entreajuda, de reflexão acerca das necessidades dos museus de um determinado território. Assim, este sistema promove uma rede entre diversas unidades que falam entre si, que se autonomizam dentro de um circuito, mas que se complementam do ponto de vista dos percursos turísticos que constituem. Para além disto, a promoção do debate, da troca de ideias, conduz a que haja já uma reflexão de como deveria funcionar uma verdadeira cooperação entre estas diversas unidades, funcionando não de forma vertical, em que existe uma entidade certificadora, que regula, orienta, coordena, mas antes uma rede em que todos os museus estejam ao mesmo nível, se entreajudem.

No seio dos museus territorialmente dispersos, existe cada vez mais a ideia de que se deverão desenvolver redes de museus do mesmo território, de forma a descentralizar os recursos, operacionalizando-os. A propósito deste tipo de redes de museus, é importante referir, que existe já uma iniciativa do Fórum Ribatejo[1] e da Associação Portuguesa de Museologia, no sentido de se começar a esboçar um sistema de cooperação deste género para os museus do Ribatejo, no âmbito do Ano Internacional da Museologia. O 1.º Encontro de Museus do Ribatejo, no qual o Museu Municipal de Almeirim participou, teve a sua primeira sessão no dia 14 de Maio de 2012 no Município de Abrantes e os principais objectivos foram: conhecer os museus do Ribatejo; reflectir sobre a problemática dos museus deste território; definir formas de cooperação entre os diferentes museus e explorar formas de rentabilizar a acção dos museus. Ao avaliarmos as vantagens de constituir uma rede de museus do Ribatejo, fica evidente que estas seriam de algum valor, nomeadamente para os museus municipais, que são a sua maioria neste território.

No caso de Almeirim, o Museu pretende atractivo, polivalente, activo e acima de tudo reconhecido na articulação dos seus objectivos com a sua função social, pois só assim se justifica a sua existência e só desta forma conseguirá despertar questões e contribuir para o enriquecimento cultural e social da comunidade em que está envolvido com o estabelecimento de sinergias.

Foi na ambição de o tornar sustentável e sustentado, que elaborámos este trabalho de projecto, no sentido de testar as próprias capacidades do Museu em ir superando aquilo que à partida poderia parecer intransponível. As propostas apresentadas residiram na ambição de eficácia do Museu que almeja ser uma referência no panorama dos museus da região, traçando propostas que proporcionam a criação de outras formas de colaboração, que muitas vezes, extravasam as paredes do Museu/tutela, utilizando para isso uma proposta de integração na Rede Portuguesa de Museus.

Porém, no caso de Almeirim, para além da definição de parcerias, defendemos uma maior flexibilização da gestão nos serviços da tutela, nomeadamente no que se relaciona com os recursos humanos. A nossa experiência no terreno tem-nos revelado que no modelo de museus municipais, as mais-valias ao nível dos recursos são imensas, pela existência prévia de quadros de pessoal com áreas de actuação muito variadas, bem como pela proximidade dos serviços que observamos notória no caso de Almeirim.

Para além do funcionamento em rede que propomos para a tutela e que deverá ser posto ao serviço do museu, salientamos que a lógica comunitária em que esta tipologia de museu se insere que pode e deve alimentar um crescente envolvimento da comunidade, em que ela própria potencia o papel social do museu, passando também a ser um suporte e uma justificação para a actividade museológica

[1] Plataforma constituída por diversos agentes culturais, nomeadamente, professores, directores de museus, associações de defesa do património, associações culturais, técnicos culturais e investigadores que pretende divulgar e promover a cultura ribatejana.

Milheiro*, Marta (2013) Contributos para uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus – o caso do Museu Municipal de Almeirim (trabalho de Projecto para obtenção do grau de Mestre em Museologia).

*Licenciada em História da Arte e Mestre em Museologia pela FCSH - Universidade Nova de Lisboa.

 

 

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