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Almeirim – Breve contextualização (continuação)

13-09-2013

A época romana

Seguindo a lógica da sistemática ocupação de Alto dos Cacos e considerando que a sua ocupação terá tido o seu auge no século I a.C., (Pimenta e Henriques, 2012: 43) tão ou mais importante foi, sem dúvida, de salientar a presença romana na estação arqueológica de Vale de Tijolos, não por nela existirem algum tipo de edificações mas antes pelo achamento à superfície de tegulae e de later(1), bem como outros materiais de construção.

No território que é hoje Almeirim, terão permanecido acampamentos militares, pela sua localização estratégica, que se enquadrava numa importante via de passagem entre Mérida e Lisboa, que por sua vez acompanhava o rio, facilitador da mobilidade e comunicação. Tendo chegado à península em 219 a. C., o povo romano permaneceu em território peninsular durante séculos. Sabemos também que durante a primeira campanha militar romana o governador Décimo Júnio Bruto estabeleceu junto à cidade de Scallabis a sede da sua actividade, no Vale do Tejo, fortificou Olisipo, pretendendo tirar partido da via fluvial, no abastecimento dos seus exércitos. É importante salientar que esta fixação das fortificações no Vale do Tejo foi determinante no entendimento da extensão do domínio romano (Fabião, 1992: 217).

Assim, a estação arqueológica do Alto dos Cacos entende-se como um contributo fundamental na confirmação da romanização do Vale do Tejo, marcada por uma dinâmica militar. Os diversos materiais recolhidos, no início dos anos oitenta do século passado, assemelharam-se a outros de

 
“(…) produção itálica (…) datados entre o final da República e o reinado de Augusto. Este conjunto encontra estreitos paralelos em contextos habitacionais bem datados da antiga urbe de Scallabis (Arruda e Sousa, 2003). Entre os materiais provenientes de Alto dos Cacos, destaca-se uma extensa e diversificada colecção de ânforas, balizadas entre o século I a.C. e a primeira metade do século I d.C.” (Pimenta e Henriques, 2012:49)

A hipótese de que este local terá sido um acampamento militar pode ser justificado pelo facto de estar localizado de forma estratégica numa zona de ocupação pré-romana e romana. Sendo que a área descoberta dista cerca de 1,5 km de Almeirim, Scallabis Praesidium Iulium, seria o núcleo militar que presidia àquela dependência (Alarcão [et al.], 1990: 349). A importância do Concelho é evidenciada, assim, pela via que ligava Augusta Emerita (Mérida) a Olisipo, sendo aqui a maior e mais evidente referência à passagem de povos romanos. (Fabião, 1992: 256).

O facto de terem permanecido em território concelhio, tropas que corroboravam os desejos de conquista, incrementou as alterações estruturais que foram sentidas a diversos níveis e perpetuadas, ainda que sob outras formas, até à actualidade. Designadamente no período entre 125 e 80 a.C., entre as Campanhas de Décimo Júnio Bruto e o período de guerra com Sertório, o enorme fluxo da circulação de moeda é confirmado pelo achamento de alguns “tesouros” como lhes chama Alarcão, na região entre Idanha-a-Velha e Santarém. (Alarcão [et al.], 1990: 438). Também no concelho de Almeirim foram, em meados do século passado, encontrados diversos exemplares numismáticos, nomeadamente denários romanos. Todo o espólio que compõe a herança romana deixada no território nacional estão sistematicamente tratadas em bibliografia de referência que agora aqui não nos importa aprofundar.(2) A rede viária e o estabelecimento de civitates e oppidum foram marcantes na organização moderna do território, da mesma forma que se definiram termos como colonia e municipium. Muitas são as influências históricas no âmbito da organização social e administrativa, das técnicas comerciais e agrícolas ou mesmo no surgimento de um novo tipo de sociedade, porém pensamos ter sido importante cingirmo-nos às que poderiam ser materializadas na história do Concelho, particularizando tanto quanto possível esta experiência romana para o território que é hoje o concelho de Almeirim.(3)

A complexa dinâmica do poder político do mundo antigo caracteriza-se por um constante atrofiamento das estruturas, pelo que relacionámos o fim da supremacia romana com um significativo desenvolvimento das cidades, que irá ser de certa forma uma das razões da decomposição do mundo romano. Da sua influência, apenas reconheceremos muito mais tarde.(4)

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(1) Trata-se de revestimentos de cobertura de edifícios e de solos de ocupação.

(2 )Vd . Alarcão [et al.], 1990.

(3) Vd . Mattoso [et al.], 1992: 203-280.

(4) Vd. Mattoso [et al.], 1992: 323-337.

Ânfora

Período romano

Nº Inventário: 1206

Museu Municipal de Almeirim

Milheiro*, Marta (2013) Contributos para uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus – o caso do Museu Municipal de Almeirim (trabalho de Projecto para obtenção do grau de Mestre em Museologia).

*Licenciada em História da Arte e Mestre em Museologia pela FCSH - Universidade Nova de Lisboa.

 

 

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