22-11-2013
No ano em que a União Africana celebra 50 anos, África é festejada como grande promessa para os investidores: em muitos dos seus países, a economia deverá crescer 7% este ano. Mas o boom é apenas parte da realidade.
Dois em cada três africanos têm um telemóvel ou um smartphone. O poder de compra no continente sobe e os mercados crescem. Há cada vez mais bilionários africanos. “África vai de vento em popa”, conclui o jornalista queniano, Anver Versi. O director do African Business Magazine, publicado na capital britânica, Londres, acredita que existem “boas razões para considerar África o mais importante mercado de crescimento dos próximos 50 anos”.
O continente possui não só matérias-primas como também recursos humanos, daí que este seja actualmente “o sítio mais atractivo para investimentos”, diz o especialista em economia. “Os chineses já o reconheceram há uma dúzia de anos. Chegou a altura para as empresas alemãs e europeias acordarem também".
Exportação: o que alimenta e o que enfraquece o crescimento africano
Segundo o Banco Mundial, entre 2013 e 2015, a economia da África subsaariana crescerá, em média, 5% ao ano. O crescimento global médio nesse período não passará dos 3%. Contudo, as elevadas taxas de crescimento per se não justificam a euforia, diz Robert Kappel, pesquisador alemão do instituto GIGA, da cidade de Hamburgo, e autor de um estudo sobre as perspectivas de desenvolvimento de 42 países da África a sul do Saará. A maioria destes países, diz, vai ter resultados negativos em comparação com a média internacional.
"O crescimento resulta exclusivamente da forte procura de matérias-primas e produtos agrários nos últimos anos” o que, lembra Kappel, “levou também a um aumento dos preços”. Tal significa que a exportação “alimenta o crescimento africano e é, ao mesmo tempo, a sua maior fraqueza", conclui.
O continente depende do comércio externo, advertem ainda o Fundo Monetário Internacional, FMI, e o Banco Mundial. Na Conferência Internacional de Economia, realizada recentemente na Cidade do Cabo, África do Sul, o ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, exigiu dos países industrializadas normas mais rigorosas no comércio de matérias-primas com África.
“África vai bem”
Segundo Strive Masiyiwa, fundador da empresa de telecomunicações "Econet Wireless", que tem filiais em 17 países do mundo, “África vai bem”. O empresário zimbabueano acredita que se tenham feito “grandes progressos”, sobretudo nos últimos vinte anos, “mas se quisermos ter mais crescimento e trabalho para os jovens”, adverte, “a riqueza tem de ser mais bem repartida, há que acelerar as reformas e temos de nos tornar mais transparentes e menos burocráticos".
Os países africanos hoje considerados exemplares, como Cabo Verde, as Ilhas Maurícias, as Seychelles, o Botsuana, o Gana e a África do Sul, já procederam a essas reformas, diz Robert Kappel. Contudo, um quarto dos países africanos é, de acordo com o investigador, “muito frágil”, sendo “constantemente abalado por golpes militares e sem qualquer dinâmica económica positiva”.
DW.DE