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As consequências económicas da guerra comercial de Trump
Autor: Barry Eichengreen

20-07-2018

A falsa e presunçosa guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, acaba de se tornar real. As taxas sobre o aço e o alumínio que a administração de Trump impôs no início de junho foram importantes sobretudo pelo seu valor simbólico e não pelo seu verdadeiro impacto económico. Embora os impostos significassem que os EUA já não obedeciam às regras do sistema de comércio mundial, eles apenas atingiram 45 mil milhões de dólares de importações, menos do que 0,25% do PIB numa economia americana de 18,5 biliões de dólares.

Contudo, no dia 6 de julho, uma taxa adicional de 25% sobre 34 mil milhões de exportações chinesas entrou em vigor e a China retaliou contra um volume equivalente de exportações americanas. Um Trump enraivecido ordenou ao responsável comercial dos EUA que elaborasse uma lista de bens adicionais chineses, com um valor superior a 400 mil milhões de dólares, que pudessem ser tributados e a China, novamente, jurou retaliar. Trump também ameaçou aplicar taxas sobre o valor de 350 mil milhões de dólares de veículos automóveis e peças importados. Se o fizer, a União Europeia e outros poderão retaliar contra um valor idêntico de exportações americanas.

Agora estamos a falar de dinheiro real: perto de um bilião de dólares de importações americanas e um montante equivalente de vendas de exportação americana e investimentos estrangeiros.

O mistério é o porquê de as consequências económicas e financeiras desta escalada terem sido tão limitadas. A economia dos EUA tem estado a “cantarolar”. O Índice dos Gestores de Compras   aumentou novamente em junho. A Wall Street oscilou, mas nada que se compare à sua   acentuada reação negativa   à Taxa Smoot-Hawley de 1930. Os mercados emergentes foram afetados por retiradas de capitais e enfraquecimento cambial, mas isto é mais uma consequência da subida das taxas de juro da Reserva Federal do que de quaisquer comunicados provenientes da Casa Branca.

Há três explicações possíveis. A primeira é que os gestores de compras e investidores das bolsas de valores podem estar a apostar que a sensatez, no entanto, prevalecerá. Podem ter esperança de que as ameaças de Trump não passem de um alarido ou que as objeções da Câmara de Comércio dos EUA e de outros grupos empresariais acabarão por ficar registadas.

Mas isto ignora o facto de o discurso de Trump sobre a taxa ser violentamente popular entre os que compõem a sua base. Uma pesquisa recente   constatou que 66% dos eleitores republicanos apoiaram as taxas que Trump ameaçou contra a China. Na corrida de Trump à Casa Branca, em 2016, ele fez uma promessa protecionista de que nunca mais permitiria que outros países se “aproveitassem”   dos EUA. Quem votou nele tem esperança que a cumpra, e ele sabe isso.

A segunda é que os mercados podem estar a apostar que Trump tem razão quando diz que as guerras comerciais são fáceis de vencer. Os outros países que dependem das exportações para os EUA podem chegar à conclusão de que é melhor para eles se recuarem. No início de julho, a Comissão Europeia estava alegadamente a   contemplar um acordo de redução de impostospara fazer face à acusação de Trump de que a taxa tributária que a UE aplica aos carros americanos é quatro vezes superior à taxa tributária que os EUA aplicam aos carros familiares europeus.

Mas a China não demonstra ter vontade de se curvar perante a pressão dos EUA. O Canadá, o mais bem-educado dos países, também está relutante em ser intimidado; retaliou com taxas de 25% sobre 12 mil milhões de dólares de bens dos EUA. E a UE só irá ponderar concessões se os EUA oferecerem algo em troca – como a eliminação das suas taxas proibitivas sobre camionetas e carrinhas importadas –e só se outros exportadores, como o Japão e a Coreia do Sul também alinharem.

A terceira poderá ser o facto de os efeitos macroeconómicos até da panóplia completa de impostos dos EUA, juntamente com a retaliação estrangeira, serem   relativamente pequenos. Os principais modelos da economia dos EUA, em particular, implicam que um aumento de 10% no custo de bens importados levará a um aumento único na inflação de no máximo 0,7%.

Isto é simplesmente a lei das frações iteradas no trabalho. As importações são 15% do PIB dos EUA. Multipliquem 0,15 por 0,10 (hipotética taxa aduaneira) e ficam com 1,5%. Se permitirem alguma substituição de bens importados mais caros, o número cai abaixo do 1%. E se o crescimento diminuir devido ao custo elevado dos suprimentos intermédios importados, a Fed pode compensar com um aumento das taxas de juro mais lento. Os bancos centrais estrangeiros podem fazer o mesmo.

Ainda assim é preocupante, uma vez que os modelos económicos padrão são notoriamente maus na captação dos efeitos macroeconómicos da incerteza, que as guerras comerciais criam com uma vingança Os planos de investimento são feitos antecipadamente e por isso podem levar, digamos, um ano para que o impacto dessa incerteza se materialize - como foi o caso no Reino Unido após o referendo Brexit de 2016. A tributação de suprimentos intermédios prejudicará a eficácia, enquanto a transferência de recursos de setores dinâmicos de alta tecnologia a favor da produção antiga reduzirá o crescimento da produtividade, com mais implicações negativas para o investimento. E estes são resultados que a Fed não pode compensar facilmente.

Então, para aqueles que verificam que as consequências económicas e financeiras da guerra comercial de Trump têm sido surpreendentemente pequenas, a melhor resposta é: aguardem pelos próximos capítulos.

Barry Eichengreen

Barry Eichengreen is Professor of Economics at the University of California, Berkeley, and a former senior policy adviser at the International Monetary Fund. His latest book is The Populist Temptation: Economic Grievance and Political Reaction in the Modern Era.

 

 

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