Edição online quinzenal
 
Quinta-feira 28 de Março de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 
DOSSIERS
 
MINIRREDES PARA O CRESCIMENTO RURAL
Autor: Jessica Stephens, Sidhartha Vermani

06-07-2018

Mais de 300 milhões de pessoas na Índia não têm acesso à eletricidade, enquanto na África Subsariana, o dobro desse número de pessoas vive sem energia elétrica. Com uma previsão de crescimento populacional que deverá ultrapassar as taxas de ligação, é previsível um agravamento da “pobreza energética”.

Durante décadas, as comunidades rurais das economias fronteiriças esperaram em vão pela chegada da eletricidade fornecida pelo governo. Mas hoje, as novas tecnologias –conjugadas com painéis solares mais baratos, baterias melhores e sistemas de pagamento móveis –estão a mudar o modo como a energia é produzida e distribuída. Com as chamadas “minirredes” –serviços de energia elétrica localizados e mais pequenos –os produtores independentes podem eletrificar comunidades remotas de forma mais rápida e barata do que as empresas de energia tradicionais. O desafio é convencer políticos, financiadores e interesses particulares da importância da descentralização.

Combater a eletrificação rural com minirredes não é uma ideia nova; comunidades, desde os EUA até ao Cambodja, utilizam este método há muito tempo para transformarem infraestruturas locais em redes regionais ou nacionais. E para as comunidades carentes de energia, as minirredes são uma potencial mudança da situação. De acordo com a Agência Internacional de Energia, as soluções descentralizadas, como as minirredes, são a opção mais económica para distribuir eletricidade a mais de 70% dos que não têm ligação, desde que os projetos possam atrair novas fontes de capital. Com 300 mil milhões de dólares em investimentos e políticas de apoio, refere a AIE, as minirredes poderiam servir 450 milhões de pessoas, até 2030.

É claro que as minirredes não se destinam a funcionar isoladamente por perpetuidade; elas conseguem o melhor desempenho quando alimentam energia em redes de distribuição maiores. Mas até chegarem redes maiores, as áreas rurais dos países em desenvolvimento podem, e devem, prosseguir sozinhas.

Simplificando, em comparação com as soluções com redes principais, as minirredes são mais fáceis de montar e de implementar em comunidades de difícil acesso, e fornecem eletricidade de forma mais fiável. Ao distribuírem energia em clínicas de saúde, escolas e empresas locais, inclusive na indústria agrícola, estas redes ajudariam a criar economias locais mais vibrantes e prósperas. Em zonas sem luz elétrica, que são vulneráveis às alterações climáticas, aos desastres naturais e à migração económica, as minirredes são muitas vezes a única opção.

Infelizmente, apesar destas vantagens, a energia das minirredes na Índia e na África Subsariana continua subutilizada. Por exemplo, a Smart Power India, com o apoio da Fundação Rockefeller, ajudou a fabricar mais de 140 (e continua a aumentar) minirredes privadas em todo o país, representando o maior conjunto de capacidade de geração local em qualquer lugar da Índia. E, ainda assim, isto é apenas uma ínfima fração do número de sistemas de minirredes (estimado entre os 100 mil e os 200 mil, só em África) necessário para satisfazer a procura prevista ao longo dos próximos anos.

As comunidades africanas enfrentam carências idênticas. Em abril, a primeira organização de comércio do setor, a Associação Africana de Promotores de Minirredes, foi criada para estimular o crescimento de minirredes no Quénia e na Tanzânia, e eventualmente em toda a África Subsariana. Até 2020, espera-se que o número de ligações a minirredes de energias renováveis nestes dois países passe das 12 mil para mais de 145 mil. De qualquer modo, tendo em conta as enormes necessidades energéticas de África, estes ganhos são modestos. Na Nigéria, por exemplo, 80 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade e outras 60 milhões gastam 13 mil milhões de dólares, anualmente, para pôr a funcionar geradores a diesel poluentes, os quais poderiam ser substituídos por minirredes. Muitos outros países africanos deparam-se com questões similares relacionadas com a energia.

A boa notícia é que o financiamento para as minirredes – incluindo as que são alimentadas por energia solar, hidroelétrica, eólica ou uma mistura de energias renováveis com diesel –está lentamente a aumentar. Na Índia, duas promotoras de minirredes, a Husk Power Systems e a OMC Power, garantiram recentemente um total de 30 milhões de dólares em novos investimentos, enquanto a Yoma Micro Power arrecadou 28 milhões de dólares. Enquanto isso, em África, o Banco Mundial emprestou à Nigéria 350 milhões de dólares para a eletrificação rural, enquanto se espera que a Aliança Solar Internacional assegure uma linha de crédito de dois mil milhões de dólares da Índia, para apoiar projetos em África, incluindo minirredes. Estes compromissos surgiram depois de o Deutsche Bank ter anunciado um fundo de 3,5 mil milhões de dólares, em 2016, para ajudar a financiar projetos de energia sustentável em África, inclusive 10 500 sistemas de minirredes solares.

É provável que financiamentos adicionais sejam futuramente garantidos, à medida em que os projetos e modelos empresariais de minirredes vão amadurecendo. Uma inovação promissora é um “serviço num sistema de caixas” –uma solução modular e escalável de minirredes, que está atualmente a ser testada no terreno, na Índia e noutros lugares.

Contudo, e apesar destes desenvolvimentos positivos, todo o potencial das minirredes para estabelecer as bases de um desenvolvimento económico rural não será realizado enquanto os políticos, reguladores e profissionais de desenvolvimento internacional não adotarem as redes descentralizadas como soluções viáveis, complementares e interoperáveis para a pobreza energética, em vez de fontes de concorrência das empresas de energia tradicionais.

Embora um número crescente de governantes esteja a adotar políticas relacionadas com as minirredes, a maioria ainda não consegue integrar a geração e a distribuição localizadas nos planeamentos nacionais de eletrificação. Na Índia, por exemplo, a proposta de uma política para minirredes arrastou-se durante dois anos, enquanto na África Subsariana, as boas intenções descarrilam frequentemente devido a burocracias e a pressões provenientes de grandes empresas de energia. As minirredes rurais são muitas vezes obrigadas a funcionar sem o apoio financeiro que as grandes companhias recebem regularmente, apesar de fornecerem um serviço equivalente ou melhor.

Para ligar a eletricidade na Índia, em África e além, os pequenos produtores de energia precisam de ter acesso ao capital e do apoio de políticas que sejam imparciais e justas. Mas, mais do que qualquer outra coisa, eles necessitam de ter a oportunidade de colocar as suas tecnologias em ação. O mundo já sabe como fornecer eletricidade às comunidades rurais; está nas mãos dos políticos ligar o interruptor.

Jessica Stephens

Jessica Stephens é coordenadora global da Associação de Desenvolvedores de Mini-redes da África (AMDA).

Sidhartha Vermani

Sidhartha Vermani é diretor sénior da Smart Power India (SPI).

 

 

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome