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EVITAR A PRÓXIMA CRISE DE FOME EM ÁFRICA
Autor: Stephanie Hanson, Whitney Mcferron

29-12-2017

Nova Iorque — Após registar uma diminuição durante mais de uma década, o número de pessoas com fome no mundo está a aumentar novamente. Este ano foi marcado pela pior crise global de alimentos desde a II Guerra Mundial, com o Sul do Sudão, o Iémen, a Somália e a Nigéria afectados pela fome ou à beira da fome. Só nestes quatro países, mais de 20 milhões de pessoas enfrentam uma insegurança alimentar grave, e as Nações Unidas estimam que é necessário um montante de 1,8 mil milhões de dólares em ajuda humanitária imediata.

A instabilidade política e os conflitos contribuíram grandemente para esta insegurança alimentar, mas a insuficiente produção de alimentos pode igualmente ter contribuído par aumentar a tensão e agravar a fome. Na África Subsariana, onde estão localizados três dos quatro países à beira da fome, o rendimento das colheitas há muito que regista um atraso em relação ao resto do mundo, devido a factores como a má qualidade das sementes e dos fertilizantes.

Investir na agricultura é uma das formas mais eficazes de pôr termo à fome e melhorar a estabilidade política. Só na África Subsariana há 50 milhões de pequenos agricultores, que sustentam muitos outros milhões. Os países do continente que investiram fortemente no desenvolvimento agrícola e os pequenos agricultores têm conseguido evitar a fome.

Veja-se o exemplo da Etiópia, que enfrentou uma das situações de fome da história em meados da década de 1980. Um número estimado de um milhão de pessoas morreram durante essa crise, que foi originada por uma combinação de conflitos e seca, e a recuperação do país levou muitos anos.

Hoje, a Etiópia é um país pacífico, mas as condições de seca voltaram a fazer sentir-se. Em 2016, o país sofreu a época vegetativa mais seca em 50 anos. No entanto, a Etiópia, não enfrentou uma crise de fome no ano passado. É certo que havia pessoas com fome, mas evitou-se uma situação catastrófica. A Oxfam atribui este resultado ao facto de o governo estar mais bem preparado para proporcionar alimentos e água a milhões de pessoas. Além disso, o país melhorou muito a sua infra-estrutura agrícola, e os novos sistemas de irrigação e de água potável possibilitam às zonas rurais um fácil acesso a fontes de água limpa e segura.

Durante mais de uma década, o governo etíope considerou o desenvolvimento agrícola com uma prioridade máxima. Em 2010, criou a Agência de Transformação Agrícola da Etiópia, uma entidade pública dedicada a aumentar a produtividade do sector agrícola. De acordo com o autor britânico e investigador Alex de Waal "A política cria a fome e a política pode detê-la." A Etiópia prova esta afirmação. Embora ainda se verifiquem contribuições nacionais e internacionais durante os esforços de auxílio humanitário, foram os investimentos de longo prazo da Etiópia que aumentaram a resistência do país.

O aumento dos investimentos agrícolas estratégicos, por parte de doadores africanos ou de fontes internacionais, poderia ajudar outros países da região a colher benefícios semelhantes. As alterações climáticas tornam estes investimentos ainda mais urgentes, uma vez que os fenómenos climáticos extremos - inundações e secas — estão a tornar-se cada vez mais comuns em toda a África Subsaariana.

Porém, mesmo sem apoio por parte do governo, os agricultores podem dar pequenos passos economicamente eficazes no imediato para atenuar os choques climáticos. Ao utilizarem técnicas agrícolas inteligentes como as sementes resistentes à seca, as culturas intercalares, a compostagem e a diversificação de culturas, os agricultores podem diminuir os efeitos das condições meteorológicas extremas a custos muito baixos.

As árvores são uma das ferramentas mais eficazes para combater as alterações climáticas, para além de fazerem sentido do ponto de vista económico para os pequenos agricultores. Um agricultor que investe 2 dólares em brotos pode obter um lucro de mais de 80 dólares em dez anos, quando algumas das árvores cultivadas puderem ser abatidas e vendidas. As árvores também beneficiam o ambiente durante o seu crescimento, absorvendo carbono, melhorando a saúde do solo e evitando a erosão.

Os agricultores que têm uma base de activos compostos por árvores, animais ou numerário obtido com a venda dos excedentes de produção têm mais condições para resistir aos choques meteorológicos. Além disso, conforme a nossa organização está a demonstrar em seis países africanos, os agricultores podem construir a sua base de activos com formação e apoio financeiro. É por isso que consideramos que os governos africanos e os doadores bilaterais deviam intensificar os seus investimentos em programas que permitam aos agricultores obter as competências necessárias para produzir culturas de longo prazo, especialmente árvores, de forma sustentável. As práticas de baixo custo — como a cultura em filas, a monda adequada e a aplicação de fertilizantes em micro-doses — são também métodos com resultados comprovados em termos do aumento da produção vegetal.

Tendo em conta a previsão de intensificação dos efeitos das alterações climáticas nos próximos anos, os pequenos agricultores de África devem preparar-se agora para um futuro mais turbulento. Os EUA são historicamente o maior doador mundial para programas de segurança alimentar global, mas o futuro deste papel de liderança sob a presidência de Donald Trump é incerto. Embora as iniciativas de segurança alimentar global gozem de apoio bipartidário no Congresso dos EUA, a proposta de orçamento para a ajuda externa da administração Trump recomenda cortes de financiamento substanciais para estes programas.

Tendo em conta estas medidas dos EUA, os governos africanos e europeus, as fundações, os doadores institucionais, e os profissionais devem estar prontos para ajudar os agricultores africanos a criar resiliência a longo prazo. Investir na agricultura é a maneira mais eficiente de melhorar a segurança alimentar em África, assegurando que as pessoas que estão na linha da frente da luta contra as alterações climáticas possam manter economias prósperas e sustentáveis, ambientes saudáveis.

A África Subsariana só poderá abordar as causas subjacentes da fome através de um planeamento cuidadoso e seguindo o exemplo de países como a Etiópia. Embora a segurança alimentar seja um problema de resolução complexa, a prevenção de futuras crises de fome não tem forçosamente de o ser também.

Stephanie Hanson

Stephanie Hanson é vice-presidente sénior de políticas e parcerias no One Acre Fund

 

Whitney Mcferron

Whitney McFerron é escritora e editora do One Acre Fund.

 

 

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