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Uma economia sustentável para o mundo árabe
Autor: Mahmoud Mohieldin

09-06-2017

WASHINGTON, DC – Nas últimas décadas, milhões de pessoas no mundo árabe foram retiradas da pobreza extrema. Mas esta evolução está agora em risco de abrandamento, ou mesmo de inversão, devido a um círculo vicioso de falhanço económico e desordem violenta. Para evitar esse desfecho, os países árabes devem acelerar a construção de uma economia mais sustentável, baseada numa maior criatividade e vitalidade do sector privado, em serviços públicos melhorados, e na criação de bens públicos regionais e globais.

O primeiro passo rumo a este objectivo consiste em reconhecer a escala e a natureza dos potenciais obstáculos ao êxito. Os países árabes enfrentam hoje um lento crescimento do PIB global e fortes constrangimentos fiscais. As disparidades no acesso à educação, à formação, e aos cuidados de saúde (em parte, reflexo dos referidos constrangimentos fiscais) acentuam as já crescentes desigualdades.

Como temos testemunhado na região, estas circunstâncias podem alimentar a polarização política e o conflito violento, com correspondência no desalojamento, na perda de vidas, na destruição de infra-estruturas, e em custos económicos enormes. Embora o desenvolvimento económico não garanta a paz, os fracassos no desenvolvimento contribuem frequentemente para o extremismo e para a violência, à medida que a ira popular se combina com a perda da legitimidade institucional. A existência de conflitos próximos, que podem ter repercussões desestabilizadoras, aumenta o risco de agitação.

A inovação tecnológica pode fazer parte da solução para as economias árabes; mas a perturbação de mercados e modos de vida que lhe está associada coloca os seus próprios desafios. De difícil gestão são também os riscos colocados pelas alterações climáticas e pelas pandemias, que transcendem as fronteiras, e que por essa razão não podem ser abordados por nenhum país isoladamente.

Não será fácil vencer estes desafios. A chave para o êxito estará na cooperação inteligente: entre o sector público e o sector privado, entre o governo e a sociedade civil, entre países, e entre países e organizações internacionais.

Uma destas organizações internacionais é o World Bank Group, que interage com os países no sentido de ajudar a proteger os mais pobres e vulneráveis, melhorar a resistência aos choques migratórios e de refugiados, e garantir uma distribuição inclusiva e responsável de serviços. Também trabalhamos para fortalecer o sector privado, para que possa criar empregos e oportunidades para jovens em todo o mundo árabe. E promovemos outros tipos de cooperação, especialmente a cooperação em bens públicos partilhados, e em sectores como a educação, água, energia, e alterações climáticas.

Um objectivo principal da cooperação deve ser a angariação de fundos. A ajuda pública ao desenvolvimento (APD), que no ano passado se ficou pelos 142 mil milhões de USD, nunca será suficiente para suprir as extraordinárias necessidades de financiamento da região, mesmo que combinada com recursos governamentais. Contextualizando, a APD para 2015 ascendeu apenas a um terço das despesas anuais com saúde na Alemanha.

O braço comercial das Nações Unidas, a UNCTAD, estima que, para cumprir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o mundo teria de colmatar anualmente um défice de 2,5 biliões USD. Para conseguirmos isto, devemos usar mecanismos inovadores para alavancar e mobilizar fundos globais, especialmente provenientes do sector privado.

Felizmente, o sector privado tem biliões de dólares que pode aplicar no esforço de construção de uma economia mais sustentável e, especificamente, para atingir os ODS. Mas precisa de encorajamento, que o o World Bank Group tem tentado proporcionar, usando financiamento em condições preferenciais, garantias de investimento, e investimentos congruentes. Também envidámos esforços no sentido de encorajar países a melhorarem o ambiente político e regulamentar para o desenvolvimento e o crescimento, transformando-se assim em destinos mais atraentes para os recursos do sector privado.

Mas é preciso fazer mais para encorajar o sector privado a investir no desenvolvimento sustentável. Para começar, as empresas precisam de um propósito. Como salienta um relatório recente da Deloitte, as empresas devem ser capazes de enunciar um propósito claro e que esteja ligado a um objectivo mais amplo, do ponto de vista social, ambiental ou mesmo económico. Esse propósito pode funcionar como uma bússola para o negócio, influenciando os seus valores e a sua cultura organizacional, e orientando o comportamento individual e colectivo das entidades interessadas.

Evidentemente, não será apenas um sentido de propósito que levará o sector privado a transferir o investimento para a sustentabilidade. A Comissão para o Desenvolvimento Empresarial Sustentável (CDES) relatou que os investimentos nos ODS proporcionam bons dividendos, que incluem novas oportunidades, enormes ganhos de eficiência, incentivos à inovação, e melhorias reputacionais.

Uma vez que as empresas reconheçam estes benefícios e decidam adoptar uma abordagem baseada numa missão, precisam de ajuda para a monitorização e divulgação de resultados. Mais especificamente, precisam de um enquadramento transparente, que lhes permita partilharem mais facilmente informações sobre a evolução no sentido dos seus objectivos económicos, sociais, e ambientais de longo prazo. Estão a ser envidados esforços para criar um enquadramento desse tipo, mas ainda é preciso fazer muito mais para que sejam criados os incentivos adequados à participação das empresas.

As fileiras das empresas que apoiam a transição para uma economia sustentável estão a crescer. Mas, para concluir essa transição, especialmente nos países árabes, será necessário que intervenham muitas mais empresas e outras entidades do sector privado. Naturalmente, o seu empenho deve ser reflectido por e reforçado com compromissos governamentais, de instituições multilaterais, e da sociedade civil.

O caminho a percorrer está repleto de dificuldades, mas o mundo árabe ultrapassou no passado desafios igualmente intimidantes. Agora como nunca, a região possui as pessoas, os recursos, e a oportunidade para prosperar.

Mahmoud Mohieldin

Mahmoud Mohieldin é o vice-presidente sénior do Banco Mundial para o Grupo Agenda de Desenvolvimento de 2030, Relações das Nações Unidas e Parcerias, e é ex-ministro do investimento do Egito.

 

 

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