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A Globalização torna-se Digital
Autor: Martin Neil Baily & James Manyika

08-07-2016

WASHINGTON, DC – Os eleitores Americanos estão irritados. Mas embora os efeitos nocivos da globalização estejam no topo da sua lista de queixas, ninguém fica bem servido quando os assuntos económicos complexos são reduzidos a chavões, como tem sido feito até agora na campanha presidencial.

É injusto desprezar as preocupações com a globalização como se estas fossem infundadas. A América merece um debate honesto sobre os seus efeitos. Contudo, para que se chegue a soluções construtivas todas as partes deverão reconhecer algumas verdades inconvenientes, e reconhecer que a globalização já não é o mesmo fenómeno de há 20 anos atrás.

Os proteccionistas não são capazes de ver como a abalada base industrial dos Estados Unidos pode ser compatível com o princípio de que a globalização impulsiona o crescimento. Mas as provas que confirmam esse princípio são demasiado substanciais para serem ignoradas.

Uma  investigação recente do McKinsey Global Institute (MGI) faz eco das descobertas de outros académicos: os fluxos globais de mercadorias, o investimento directo estrangeiro, e a informação aumentaram o PIB global em cerca de 10%, quando comparado com o que teria acontecido se esses fluxos nunca tivessem existido. O valor extra proporcionado pela globalização ascendeu a 7,8 bilhões de dólares, só em 2014.

E, no entanto, as fábricas encerradas que pontilham o “Cinturão da Ferrugem” do Midwest Americano são reais. Mesmo enquanto a globalização produz crescimento agregado, também produz vencedores e perdedores. A exposição de indústrias locais à competição internacional impulsiona a eficiência e a inovação, mas a destruição criativa resultante exerce um peso substancial sobre as famílias e as comunidades.

Tanto os economistas como os responsáveis políticos são culpados de mascarar estas consequências distributivas. O que se pensa é que os países que se dediquem ao comércio livre encontrarão novos canais para o crescimento no longo prazo, e os trabalhadores que percam os seus empregos numa indústria irão encontrar emprego noutra.

Contudo, no mundo real, este processo é confuso e demorado. Os trabalhadores numa indústria em recessão poderão precisar de competências completamente novas para encontrar empregos noutros sectores, e poderão ter de pegar nas suas famílias e desenraizar-se para perseguir essas oportunidades. Foi necessária a reacção negativa popular contra o comércio livre para que os legisladores e os meios de comunicação reconhecessem a extensão desta perturbação.

Essa reacção negativa não deveria ter constituído surpresa. As políticas laborais e os sistemas de formação tradicionais não têm respondido do mesmo modo à necessidade de lidar com as mudanças em grande escala causadas pelas forças gémeas da globalização e da automação. Os EUA precisam de propostas concretas para apoiar os trabalhadores apanhados por transições estruturais, e de disponibilidade para considerarem novas abordagens, como o seguro de salários.

Contrariamente à retórica da campanha, o proteccionismo simples teria efeitos nocivos sobre os consumidores. Um estudo do Conselho de Assessores Económicos do Presidente dos EUA descobriu que mais de um quarto do poder de compra da classe média Americana deriva do comércio. Em qualquer caso, a imposição de tarifas sobre os bens estrangeiros não trará de volta os empregos perdidos na indústria.

Chegou o momento de alterar os parâmetros do debate e de reconhecer que a globalização se transformou num animal completamente diferente: o comércio global de mercadorias estagnou por uma série de razões, nomeadamente uma queda no preço das matérias-primas, a indolência em muitas das maiores economias, e uma tendência para produzir os bens mais perto do ponto de consumo. Os fluxos transfronteiriços de informação, em contraste, cresceram por um factor de 45 durante a última década, e geram hoje um maior impacto económico do que os fluxos dos bens manufacturados tradicionais.

A digitalização está a mudar tudo: a natureza dos bens que mudam de mãos, o universo de fornecedores e clientes potenciais, o método de entrega, e o capital e escala necessários para operar de forma global. Também significa que a globalização já não é do domínio exclusivo das empresas Fortune 500.

As empresas que interagem com as suas operações, fornecedores, e clientes no exterior, são responsáveis por uma grande e crescente parte do tráfego global da Internet, Metade dos serviços negociados do mundo já é digitalizada, e 12% do comércio global de bens é realizado através do comércio electrónico internacional. As plataformas de comércio electrónico como o Alibaba, a Amazon, e o eBay estão a transformar milhões de pequenas empresas em exportadores. Isto representa uma enorme oportunidade por explorar para os EUA, onde menos de 1% das empresas exportam  – uma porção muito inferior à de qualquer outra economia avançada.

Apesar de toda a retórica anti-comércio, é vital que os Americanos compreendam que a maior parte dos clientes mundiais estão no estrangeiro. As economias emergentes de crescimento rápido serão as maiores fontes de crescimento do consumo nos anos vindouros.

Este seria o pior momento possível para criar barreiras. A nova paisagem digital ainda está a tomar forma, e os países têm uma oportunidade para redefinir as suas vantagens comparativas. Os EUA poderão ter perdido terreno enquanto o mundo procurava custos laborais reduzidos; mas operam a partir de uma posição de força num mundo definido pela globalização digital.

Existe valor real no movimento ininterrupto da inovação, informação, bens, serviços, e sim, pessoas. À medida que os EUA lutam para impulsionar a sua economia, não se podem dar ao luxo de se isolarem de uma importante fonte de crescimento.

Os responsáveis políticos dos EUA deveriam adoptar uma perspectiva diferenciada e lúcida da globalização, que abordasse os seus inconvenientes de uma forma mais eficaz, não só quando se trata de perder empregos internamente, mas também quando se trata dos padrões laborais e ambientais dos seus parceiros comerciais. Acima de tudo, os EUA precisam de deixar de tentar repetir o passado, e de começar a concentrar-se no modo de competir na próxima era da globalização.

* Martin Neil Baily é Director da Cadeira de Desenvolvimento Político Económico e Senior Fellow e Director de negócio da Iniciativa de Política Pública do Instituto Brookings.

Traduzido do inglês por António Chagas

 

 

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