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A economia diabética
Autor: Paul Krugman

06-05-2016

As coisas estão terríveis aqui em Portugal, mas não tão terríveis quanto estavam há dois anos. O mesmo pode ser dito sobre a economia europeia como um todo. E essa, imagino, é a boa notícia.

A má notícia é que, passados oito anos de uma crise financeira que deveria supostamente ter sido temporária, a fraqueza económica persiste, e não há sinal de que esteja a ser curada. E isso é algo que deveria preocupar a todos, na Europa e mais além.

Primeiro, o lado positivo: a zona do euro, grupo de 19 países que adoptaram uma moeda comum, registou crescimento decente no primeiro trimestre. De facto, foi a das raras ocasiões em que a área registou crescimento superior ao dos Estados Unidos.

A economia da Europa está, enfim, ligeiramente maior do que era antes da crise financeira, e o desemprego caiu de mais de 12% em 2013 para pouco acima de 10%.

Mas é revelador que esses dados sejam considerados boas notícias. Queixamo-nos, com razão, sobre o ritmo lento da recuperação dos Estados Unidos, mas a economia norte-americana já está 10% maior do que era antes da crise, e o nosso desemprego voltou a ficar abaixo de 5%.

E, como eu disse, não existem sinais de que o desempenho deficiente da economia europeia esteja por melhorar. Vamos considerar o que os mercados financeiros estão dizendo.

Quando as taxas de juros de longo prazo sobre activos de alta segurança são muito baixas, isso é indicador de que os investidores não veem recuperação forte no horizonte. Bem, os títulos de cinco anos do Tesouro alemão no momento estão rendendo 0,3% negativos; de facto, os rendimentos são negativos para todos os títulos que vencem em até oito anos.

O que deveríamos pensar sobre essas taxas de juros incrivelmente baixas? Recentemente, Narayana Kocherlakota, antigo presidente do Federal Reserve Bank de Minneapolis, ofereceu uma analogia brilhante.

Respondendo a críticos da política monetária relaxada que denunciam os juros baixos como "artificiais" —"porque as economias não deveriam precisar manter juros tão baixos "—, ele sugeriu que deveríamos comparar as taxas baixas de juros às injecções de insulina que os diabéticos precisam tomar.

Essas injeções não são parte de um estilo de vida comum, e podem ter efeitos colaterais desfavoráveis, mas são necessárias para administrar os sintomas de uma doença crónica.

No caso da Europa, a doença crónica é a fraqueza persistente no consumo, o que dá à economia do continente um viés deflacionário duradouro mesmo quando, como agora, ela passa por alguns meses relativamente positivos. A insulina do dinheiro a baixo custo ajuda a combater essa doença, ainda que não ofereça uma cura.

Mas embora as injeções monetárias tenham ajudado a minorar as dores europeias —causa calafrios imaginar o quanto as coisas poderiam ter ido mal sem a liderança de Mario Draghi, o presidente do BCE (Banco Central Europeu)—, elas não produziram coisa alguma que se pareça com uma cura. Em particular, a despeito dos esforços do BCE, a inflação subjacente na Europa parece emperrada bem abaixo da meta oficial de 2%.

Enquanto isso, o desemprego na Europa, o que certamente inclui o local em que me encontro atualmente, continua em um patamar que causa grandes danos humanos, sociais e políticos.

É notável que a Espanha, que hoje em dia vem sendo alardeada como história de sucesso, continue a ter desemprego de inacreditáveis 45% entre seus jovens.

E não existe nada em reserva para enfrentar um novo choque. Suponha que a Grécia passe por nova crise, ou que os cidadãos britânicos votem por tirar o país da União Europeia, ou que a economia chinesa caia despenhadeiro abaixo, ou qualquer outra coisa. O que as autoridades económicas europeias poderiam fazer ou fariam para compensar o golpe? Ninguém parece ter a menor a ideia.

O facto é que não é difícil ver o que a Europa deveria estar fazendo para ajudar a curar essa doença crónica. Os argumentos em favor de maior gasto público, especialmente na Alemanha mas também na França, que vive uma situação fiscal muito melhor do que seus líderes parecem perceber, são esmagadores.

Há grandes necessidades não atendidas na infraestrutura, e os investidores estão basicamente implorando que os governos aceitem seu dinheiro. Eu já mencionei que a taxa de juros reais para 10 anos, a taxa sobre títulos protegidos contra a inflação, é de menos 0,8%?

E existem bons motivos para acreditar que gastar mais nos países centrais da Europa teria grandes benefícios para as nações periféricas.

Mas fazer a coisa certa parece politicamente impossível. Longe de demonstrar qualquer disposição de mudar de rumo, os políticos alemães não param de criticar o BCE, a única grande instituição europeia que parece ter alguma ideia sobre o que está acontecendo.

Podemos expressar a situação da seguinte maneira: visitar a Europa pode fazer com que um norte-americano se sinta bem quanto ao seu país.

Sim, um de nossos dois grandes partidos está a ponto de indicar um perigoso fanfarrão para disputar a presidência, mas é evidente há algum tempo que o Partido Republicano está em processo de enlouquecer, e não parece provável que seu candidato chegue de facto à Casa Branca.

Enquanto isso, a situação política e económica mais ampla dos Estados Unidos oferece amplos motivos de esperança, algo que parece muito escasso na Europa.

Eu adoraria ver a Europa emergir desse período mau. O mundo precisa de mais democracias vibrantes! Mas no momento, parece difícil avistar quaisquer sinais positivos.

Paul Krugman

Prémio Nobel de Economia (2008), é um dos mais renomados economistas da atualidade. É autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às Segundas-Feiras no The New York Times.

 

 

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