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EUA: Wall Street matou os empreendedores
Autor:

15-05-2015

Embora Wall Street não seja a única culpada pelo declínio do empreendedorismo nos EUA, é sem dúvida dos maiores culpados.

O número de novas empresas criadas nos EUA caiu a um ponto tão baixo que perde até para a Hungria. Mas, porque entra em conflito com a imagem amplamente divulgada de autoconfiança dos norte-americanos, é facto ao qual a imprensa-empresa comercial oligopolista absolutamente não dá a atenção que o facto merece.

Caindo fora dos negócios

A primeira notícia apareceu em  Gallup  semana passada . Aqui a sessão chave:
 
Os EUA estão agora, não em 1º, não em 2º, não em 3º lugar,  mas no 12º lugar entre as nações desenvolvidas em termos de novos empreendimentos por ano . Hungria, Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia, Suécia e Itália, dentre outros, têm número maior de novas empresas, em um ano, que os EUA.

Os EUA perdem em número de novas empresas per capita, e esse é hoje o problema económico mais grave que os EUA enfrentam. Mas o “fenómeno” é tratado como segredo! Não se lê nenhuma referência na imprensa-empresa comercial, nem se ouvem políticos ou “especialistas” que digam que, pela primeira vez em 35 anos, morrem mais empresas nos EUA, do que nascem.

Até 2008, o número de novas empresas superava o número de falências comerciais em cerca de 100 mil/ano. Nos últimos seis anos, esse número repentinamente reverteu, e há hoje 70 mil empresas que fecham por ano, a mais do que o número de novas empresas.

Essa mudança é criticamente importante, porque pequenas e médias empresas são criadoras de novos empregos. Grandes corporações, tomadas em geral, estão em liquidação já há mais de uma década, economizando no número de empregados e “enxugando” sem parar por já bem mais de uma década. Pode-se ver esse comportamento na regularidade com que a imprensa de negócios publica sobre exercícios de redução de postos de trabalho como se fossem meros exercícios de redução de custos, não como o que são: sinal de o quanto profundamente as empresas e empresários não se interessam em investir nos seus trabalhadores e respectivos futuros.
 
Observaram que a variação nos números acompanha exactamente o andamento da crise? Não é por acaso. Embora a correlação não seja prova de causa e efeito, não é difícil perceber várias forças causais.
 
O artigo de Gallup insiste muito na mitologia do empreendedorismo dos norte-americanos, como se estivessem perdendo alguma espécie de valor ou de atributo louvável de carácter, como alguma velha virtude romana; insiste também na importância da “inovação”.
 
O problema é que essa ideia “cultural” baseia-se, ainda, em empresas que nascem baseadas em capital abundante, muitas vezes venture-capital. Pior que isso: não só jornalistas, mas também especialistas académicos fixaram-se em jovens empresas apoiadas por venture-capital – quando, na verdade, essas empresas não passaram de 1% do total de novas empresas em praticamente todos os anos, e só chegam a 25% das mais bem-sucedidas empresas de alto crescimento listadas por Inc. Magazine 500.
 
Assim sendo, dado que se sabe praticamente nada, o que, afinal, se sabe sob a tão mal estudada maioria das empresas iniciantes, que são o verdadeiro motor do emprego nos EUA? Como estão elas hoje?
 
Em seu  The Origin and Evolution of New Businesses , estudo definitivo sobre o tema, Amar Bhide descobriu que o caminho mais comum seguido por empresários bem-sucedidos, foi que trabalharam para grandes indústrias e perceberam um nicho do mercado que não era bem atendido.  Na ampla maioria de casos, esses novos negócios eram criados com poupança familiar, dinheiro emprestado de amigos, parentes e cartões de crédito.

A origem e evolução de novos negócios
Assim, se se pensa um pouco sobre o que está acontecendo nos EUA e no mundo empresarial em geral, vê-se facilmente o quanto o impacto da crise e seus desdobramentos estão obrigando todos que tenham cérebro capaz de operar a ter muita cautela no momento de abrir sua porta própria.

Primeiro , recessão clássica significa recuperação lenta e fraca, como todos vimos muito bem nos EUA.

O fato de que os EUA foram muito generosos e condescendentes com Wall Street cobrou altíssimo preço da Rua do Comércio, por todo o país – e de todos os pequenos negócios, principalmente. Só recentemente pequenos comerciantes exibiram algum ainda tímido sinal de optimismo quanto ao futuro e novas contratações. Mas ainda assim há áreas que ainda não dão nenhum sinal de melhoria, como a venda de varejo, um dos alvos mais populares para novas empresas.

Segundo , muita gente exauriu as próprias poupanças durante a crise, seja porque perdeu o emprego, seja porque sofreu redução nas horas de trabalho. E os idosos que ainda tenham alguma poupança têm pela frente ambiente de juros baixos e perspectiva de ganhos de capital pouco confiáveis. Embora haja quem reaja a isso com “ousadia”, muita gente responde dedicando-se a poupar ainda mais (no caso de não terem perdido o emprego), temerosos de qualquer risco. Em geral, quando as vacas andam gordas, muitos investidores são mais tolerantes em relação a assumir riscos do que em tempos incertos de vacas magras. O que implica dizer que a via de procurar amigos e família para obter financiamento para novo negócio já não é o que antigamente foi.

Terceiro , as empresas de cartões de crédito cortaram linhas de crédito durante a crise, atingindo muitos projectos de novos empreendimentos que dependiam de crédito sazonal. E duas importantes empresas de cartões de crédito que emprestavam para pequenos negócios saíram do mercado ou cortaram ofertas. Advanta faliu; e American Express, que costumava oferecer várias linhas de crédito para pequenos negócios, eliminou alguns de seus produtos e tornou-se mais selectiva com o crédito que oferece pelos cartões comerciais.

Há mais um desenvolvimento que é de mais longo prazo e foi exacerbado pela crise – os empregos temporários. É difícil ganhar insight sobre o comportamento dos consumidores, e o que teria boa chance como concorrente ou complementar de uma indústria, se você não fica tempo suficiente numa empresa, para compreender os processos e operações. Relacionado também a isso, muitas empresas obrigam os trabalhadores a assinar contratos muito restritos de não concorrência, como condição para ter o emprego, o que torna ainda mais difícil para o trabalhador não apenas encontrar empregos, mas também criar empreendimentos próprios.

Portanto, embora Wall Street não seja a única culpada pelo declínio do empreendedorismo nos EUA, é sem dúvida dos maiores culpados. E eis por que é importante não ceder no esforço para obrigar o hipertrofiado sector das finanças a diminuir de tamanho.
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Yves Smith  passou mais de 25 anos na indústria de serviços financeiros e actualmente dirige Aurora Advisors, uma empresa de consultoria sediada em New York, especializada em consultoria de finanças corporativas e serviços financeiros. Sua experiência inclui trabalho na Goldman Sachs (em finanças corporativas), McKinsey & Co. e Sumitomo Bank (como chefe de fusões e aquisições). Yves já escreveu para várias publicações nos EUA e na Austrália, incluindo The New York Times, The Christian Science Monitor, Slate, The Review Conference Board, Institutional Investor, The Daily Deal e da Australian Financial Review. É graduada no Harvard College e Harvard Business School. Anima o blog  Naked Capitalism desde 2006. 

Fonte: Naked Capitalism

 

 

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