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DOSSIERS
 
COMBATE AO DESMATAMENTO NO TERRENO
Autor: Pedro Frizo

21-01-2022

A preservação da biodiversidade é uma parte fundamental da agenda climática global, mas as organizações que trabalham nesse domínio geralmente carecem de financiamento e apoio institucional. A mudança estrutural é necessária para fornecer a esses grupos a estabilidade e a autoridade de que precisam para evitar mais danos aos sistemas naturais cruciais.

A protecção e conservação da biomassa, principalmente das florestas tropicais húmidas, é fundamental para atingir as metas climáticas, principalmente em países com cobertura florestal abundante. No entanto, os dados de monitoramento mais recentes mostram um desmatamento significativo em muitas dessas áreas, incluindo a mais extensa do mundo.

Em Outubro de 2021, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil relatou o maior nível de perda de floresta  na Amazónia registado naquele mês desde que o monitoramento começou há cinco anos. E o problema não se limita à Amazónia. A segunda maior floresta tropical do mundo, a Bacia do Rio Congo, perdeu mais de 15 milhões de hectares, ou 8% de sua cobertura original, entre 2001 e 2020.

Objectivos globais para promover a biodiversidade, como os acordados na  recente Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), são fundamentais para aumentar a consciencialização sobre a perda de ecossistemas e garantir a responsabilização em nível internacional. Mas muito do trabalho real de conservação necessariamente deve ser realizado localmente.

Permitir que as pessoas nessas regiões de biodiversidade coexistam com seu ambiente é essencial para garantir a sobrevivência das biomassa florestais. Mas ganhar a vida com as florestas não é uma tarefa simples. Actividades como mineração e extracção de madeira são mais lucrativas – pelo menos no curto prazo – do que, digamos, manejo florestal, agricultura sustentável e ecoturismo.

Uma pesquisa recente da dinâmica do uso da terra  na Amazónia brasileira, realizada ao longo de dois anos, oferece alguns insights sobre como governos e atores não governamentais podem promover a conservação florestal em nível local. Para começar, entender as necessidades e preocupações dos moradores é fundamental. Organizações da sociedade civil que trabalham na Amazónia, por exemplo, aprenderam que a estabilidade económica é uma das principais preocupações dos agricultores rurais. Com esse conhecimento, as ONGs introduziram novas práticas agrícolas baseadas na ciência mais recente. Isso permitiu que actividades como a pecuária e a produção de café coexistissem com a recuperação de florestas.

Outros programas implantados nesse período ensinaram aos pequenos agricultores rurais técnicas de manejo florestal e como replantar espécies nativas. Agentes de extensão que trabalham com as ONGs forneceram assistência técnica aos agricultores e montaram unidades de demonstração para ajudar os moradores a entender os benefícios dos novos métodos. A promoção entusiástica das técnicas e a comprovação de que elas melhoraram a produção foram factores decisivos para estimular os agricultores locais a adoptá-las e se engajar em actividades florestais sustentáveis.

Além de introduzir práticas agrícolas amigas da floresta, organizações da sociedade civil na Amazónia trabalham com cooperativas de pequenos produtores para integrar comunidades remotas em mercados maiores. Essas redes permitem que os agricultores ganhem dinheiro com as florestas sem prejudicá-las. Mas essa infra-estrutura é frágil. De acordo com dados recolhidos pelo Conexsus, a renda anual das cooperativas sustentáveis ​​na Amazónia brasileira gerada para seus associados  em 2019 ficou abaixo da metade do salário mínimo do Brasil naquele ano. Esses baixos retornos tornam difícil atrair os agricultores para longe de actividades mais lucrativas, mas menos sustentáveis.

Para adoptar a silvicultura sustentável, os moradores das comunidades rurais devem vê-la como uma fonte confiável de renda estável. As instituições governamentais podem reduzir a incerteza económica por meio de legislação e incentivos.

Infelizmente, mudanças políticas recentes limitam a viabilidade da silvicultura sustentável no Brasil. O enfraquecimento gradual dos órgãos nacionais  responsáveis ​​pelo controle e monitoramento do uso da terra é uma das principais causas do recente aumento do desmatamento na Bacia Amazónica, e a política de crédito rural do Brasil também pouco contribui para apoiar iniciativas económicas ambientalmente sustentáveis. Em 2019 e 2020, apenas 3% dos desembolsos realizados por instituições financeiras na região amazónica foram direccionados para actividades sustentáveis; a maior parte do restante foi para indústrias conhecidas por prejudicar o ecossistema local, como a produção de soja e a pecuária em larga escala.

As organizações lideradas pela comunidade são fundamentais para promover a silvicultura sustentável, mas sua capacidade de efectuar mudanças é limitada devido à falta de capital. Actividades como ensinar técnicas mais sustentáveis ​​aos agricultores rurais, criar mercados que incentivem o investimento em produtos florestais e desenvolver formas de integrar as comunidades da amazónia em cadeias de valor são demoradas e caras.

A preservação da floresta depende de vários factores interligados. A legislação para apoiar os esforços de conservação e mais financiamento para iniciativas como as mencionadas aqui ajudarão a promover o trabalho positivo para o meio ambiente. Mas sem mudanças estruturais em nível nacional e local para permitir que os residentes rurais ganhem a vida com actividades florestais sustentáveis, a destruição dos biomassa florestal mais importantes da Terra continuará.

PEDRO FRIZO

Pedro Frizo, membro editorial do Ceiri News , é economista e associado do Instituto Conexões Sustentáveis ​​- Conexsus, uma ONG focada no desenvolvimento de empreendimentos rurais e florestais que conservem biomassa no Brasil.

 

 

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