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COLOCAR UM PREÇO NAS FLORESTAS TROPICAIS
Autor: Lorenzo Bernasconi

17-11-2017

NOVA IORQUE - No início de outubro, pouco tempo depois de o furacão Maria ter atingido Porto Rico, o CEO da Tesla, Elon Musk, publicou no Twitter que a sua empresa poderia, dada a oportunidade, reconstruir a rede elétrica da ilha através do uso de energia solar. Ao surgir no meio de tanto sofrimento humano, foi uma afirmação ousada. Mas do ponto de vista tecnológico, o momento foi perfeito. No final de outubro, foram instalados painéis solares e baterias de alta capacidade no Hospital del Niño, em San Juan, e projetos adicionais estão em funcionamento

Este tipo de resposta a um desastre natural –substituir uma rede elétrica alimentada com energia fóssil por energias renováveis –deve ser aplaudido. Mas não importa o quão limpas e eficientes podem ser as fontes de energia renovável, elas nunca irão atenuar na totalidade os efeitos climáticos que estão a fazer mais furacões como o Maria chegarem a terra.

Há outra forma de o fazer e é muito mais barata do que a que Musk propôs.

Porto Rico acolhe uma das ferramentas mais eficazes e baratas disponíveis no combate às alterações climáticas: as florestas tropicais. No extremo oriental da ilha, os quase 29 mil acres [11,74 ha] daFloresta Nacional El Yunque são um dos sistemas mais importantes das Caraíbas para capturar e armazenar carbono.

O furacão Maria também destruiu a floresta. Mas os CEO da tecnologia não twittaram sobre a recuperação desse recurso, porque, neste momento, eles não veem nenhum modelo de negócios viável para salvar árvores.

Mas e se esse modelo existisse? E se houvesse formas de fazer as florestas vivas valerem mais do que as mortas?

Os líderes mundiais analisam esta questão há anos. E, nas conversações da ONU sobre o clima, surgiu uma solução inovadora: uma iniciativa chamada Redução de Emissões por Desflorestação e Degradação das Florestas (REDD+). A ideia é simples: com os incentivos adequados, as pessoas, os governos e as indústrias irão preservar e recuperar as florestas tropicais, em vez de fazê-las desaparecer. Em troca, o mundo fica com mais reservatórios de carbono para absorver os gases com efeito de estufa.

O REDD+, que tem estado presente sob várias formas há quase uma década, fornece uma estrutura de pagamento para os esforços de preservação e recuperação. Ao colocar-se um valor económico sobre as florestas pelo papel que desempenham na captura e no armazenamento de carbono em grande escala, o REDD+ permite que as árvores existentes possam competir com utilizações lucrativas de terras – tais como a exploração madeireira ou a agricultura –que resultam em desflorestação.

O primeiro programa REDD+ em larga escala, um acordo entre a Noruega e o Brasil, foi iniciado em 2008. A Noruega concordou fornecer mil milhões de dólares, em “pagamentos baseados no desempenho”, ao Brasil por proteger eficazmente as suas florestas tropicais. O dinheiro da Noruega foi libertado em parcelas, à medida que o Brasil conservava as suas florestas. Os resultados foram impressionantes: o Brasil reduziu a taxa média de desflorestação da Amazónia em mais de 60% na última década, absorvendo cerca de 3,6 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono, mais do que qualquer outro país fez. E a Noruega conseguiu ajudar a diminuir as emissões globais de dióxido de carbono.

Mas, apesar do sucesso da parceria piloto, hoje o programa REDD+ carece urgentemente de capital. Em muitos aspetos, a solução é semelhante à proposta solar de Musk em Porto Rico. Só que desta vez, a inovação não é técnica, mas sim financeira.

A criação de um mercado para créditos REDD+ criaria oportunidades de investimento na preservação da floresta tropical por empresas e indústrias altamente poluentes. Com um quadro político adequado, os créditos REDD+ poderiam ser oferecidos através de mercados existentes em conformidade – tais como os mercados de crédito de carbono na Califórnia ou Coreia do Sul –desbloqueando milhares de milhões de dólares em capital adicional para os esforços de reflorestação.

O desenvolvimento desse quadro também permitiria ao REDD+ tornar-se parte de futuros sistemas de aplicação, como aquele que está a ser desenvolvido pela indústria de aviação global para limitar as emissões, ou o mercado que permite o carbono que a China planeia lançar ainda este ano. A integração nestes mercados poderia também explorar novas fontes de financiamento para a conservação e reflorestação das florestas e, em simultâneo, iria possibilitar intermediários financeiros, tais como oFundo de Aceleração REDD+, para ligarem diretamente os projetos REDD+ ao setor privado.

Atualmente, a maioria destes planos é de caráter aspiracional. O REDD+ é meramente um conjunto de orientações e um mercado de crédito florestal exigirá normas e padrões para governar o modo como os subsídios de proteção e reflorestação são atribuídos aos compradores e integrados no mercado atual. Os líderes mundiais que se reúnem esta semana na conferência da ONU sobre as alterações climáticas em Bonn, Alemanha, podem ajudar estes esforços ao continuarem a apoiar o desenvolvimento de mecanismos contabilísticos eficazes e transparentes para os projetos REDD+.

Um atraso acarreta perigos. Durante os dois anos que se seguiram à adoção do Acordo climático de Paris, a desflorestação aumentou bruscamente na Indonésia e em partes da Amazónia, onde muitas das grandes e vitais florestas tropicais do mundo se encontram. De acordo com a organização Union of Concerned Scientists, a desflorestação tropical é responsável por três mil milhões de toneladas de CO 2 atmosférico adicional.

Nenhuma tecnologia é tão eficaz em armazenar carbono como as florestas tropicais, e salvá-las e recuperá-las oferece uma das formas mais baratas em grande escala de redução de emissões ou captura, proporcionando simultaneamente uma série de outros benefícios ambientais e sociais. Para tirar partido desta barreira crucial contra o aquecimento do planeta, mais árvores devem continuar de pé. Para aqueles de nós que acreditam que um mercado de crédito florestal poderia fornecer meios essenciais para proteger o nosso planeta, então o nosso momento Musk chegou. Devemos ser igualmente ousados.

Lorenzo Bernasconi

Lorenzo Bernasconi é Associado Sénior e Director da Fundação Rockefeller.

 

 

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