26-09-2014
Barack Obama reconheceu a responsabilidade do país no tema e disse ser preciso responder aos cidadãos que estão nas ruas protestando; empresas também assinaram acordo.
Como resultado da Cimeira do Clima, realizada em Nova York, 32 governos, além de grandes corporações e representantes da sociedade civil, se comprometeram, na terça-feira (23/09), a reduzir para metade a devastação das florestas em 2020 e a detê-las totalmente até 2030. Também foi firmado o comprometimento de recuperar mais de 350 milhões de hectares de terras degradadas, superfície similar em tamanho à Índia, como parte da luta contra o aquecimento global.
Os mais de 120 chefes de Estado e de governo de todo o mundo também reafirmaram o compromisso de reduzir as emissões de gás carbónico e criar alternativas financeiras para ajudar países a tomarem medidas ambientalmente menos prejudiciais. No total, os compromissos mobilizarão mais de 200 mil milhões de dólares antes do final de 2015, segundo informações da ONU.
Adoptando palavras de ordem de activistas que se manifestaram pelas ruas de Nova York no último dois dias, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que "não se pode ter um plano B, porque não temos um planeta B", e ressaltou: "não podemos negociar com a Mãe Natureza. Ela não espera. Portanto, somos nós que temos que nos adaptar a ela".
Entre os 32 países signatários da Declaração de Nova York estão Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Chile, Colômbia, México, Costa Rica, República Dominicana e Peru. O Brasil não figura como signatário e, como justificativa, argumentou que não fez parte das negociações sobre o texto.
Medidas
Entre as medidas de carácter financeiro, a França, que acolherá a próxima Cimeira de chefes de Estado sobre mudanças climáticas, prometeu destinar mil milhões de dólares para o chamado Fundo Verde. A Noruega destinará 500 milhões de dólares anuais até 2020 a políticas contra o aquecimento.
Na mesma linha, a União Europeia doará 3 mil milhões de euros nos próximos sete anos para que os países subdesenvolvidos actuem contra a mudança climática. Os EUA, por sua vez, se comprometeram a levar em conta os efeitos da mudança climática em todos seus programas e investimentos para o desenvolvimento em outras regiões do mundo.
O presidente do Peru, Ollanta Humala, ressaltou na sua intervenção a importância de coordenar a aplicação das medidas assinadas hoje. "Apostar só em soluções nacionais e não de carácter mundial é não olhar o caminho", disse. Ele disse ainda que países como o Peru e as Filipinas pagam o alto custo por furacões e tufões que são cada vez mais violentos e obrigam os governos a investirem na reconstrução um orçamento equivalente a 4% do PIB.
A Cimeira do Clima procura dar um impulso político para acelerar as negociações sobre as mudanças climáticas, a fim de adoptar um acordo global vinculativo em Paris no ano que vem.
Compromisso
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu o protagonismo do país que governa na degradação ambiental. "Reconhecemos o nosso papel na hora de criar este problema [as mudanças climáticas] e aceitamos a nossa responsabilidade para combatê-lo. Mas só podemos ter sucesso se todos os países se envolverem neste esforço. Não pode haver excepções".
Barack Obama também fez referência às manifestações de Nova York. "Os alarmes continuam soando, os nossos cidadãos continuam protestando, não podemos fingir que não os escutamos. Temos que dar uma resposta para suas reivindicações", acrescentou.
O mandatário divulgou em Junho um plano para reduzir em 30% as emissões de carbono das centrais termoeléctricas dos EUA até 2030. Os republicanos, a indústria de carvão e a Câmara de Comércio americana são contra.
Há cinco anos, os EUA anunciaram que reduziriam as emissões de carbono em 17% para 2020, em relação aos níveis de 2005. Hoje, Obama garantiu que seu país cumprirá esse objectivo e que no ano que vem estabelecerá uma nova meta para continuar com as reduções.
Adoptando um tom mais crítico, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, criticou a falta de vontade dos países ricos para lutar contra as mudanças climáticas e questionou "as soluções capitalistas" propostas por eles para resolver o problema.
"Alguém pode crer (...) que as grandes multinacionais se podem transformar, de um dia para o outro, em protagonistas da salvação do planeta?", perguntou Maduro. "Desde a nossa América, levantamos nosso protesto e indignação contra esses modelos que agora tratam de chamar de economia verde", ressaltou. Para ele, a mudança climática é uma consequência fundamental da "crise de um modelo de civilização capitalista".
Vanessa Martina Silva
Fonte: Ópera Mundi