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O meio ambiente como bem de luxo
Autor: PAULO R. HADDAD

22-08-2014

Constata-se, em geral, que a preocupação com as questões ambientais (poluição, mudança climática, extinção das espécies animais e vegetais, etc.) só ganha prioridade em períodos de prosperidade recorrente. Governantes, dirigentes de empresas e os próprios cidadãos de um país só incorporam essas questões nas suas agendas e em seus processos de planeamento estratégico a partir de um determinado patamar do seu rendimento, da sua receita operacional ou de sua riqueza acumulada. A partir desse patamar, passam a considerar com maior critério os trade-offs ou as escolhas conflituais entre os objetivos do crescimento e da estabilidade de suas instituições, de um lado, e os da preservação e restauração do meio ambiente ou dos ecossistemas, do outro lado.

Bens de luxo são bens cuja procura pelos consumidores aumenta mais do que proporcionalmente ao aumento do seu rendimento. Na fase de prosperidade, sua procura cresce; na fase de retração, sua procura decresce. A essencialidade de um bem a merecer alocação de recursos escassos que tem usos alternativos é definida a partir da escala de preferências individuais dos cidadãos ou a partir das estruturas ideológicas ou doutrinárias de dirigentes públicos ou privados responsáveis pela formulação e pela execução de seus planos e projetos estratégicos.

Desde o início da atual crise económica global, estima-se que as vendas de bens de luxo tenham caído de 10% a 15% no mundo, e de forma mais acelerada nos EUA, onde cerca de 1/3 de todos os bens de luxo são vendidos. Da mesma forma, é possível caracterizar o tratamento do meio ambiente como um bem de luxo nas políticas públicas, nas decisões empresariais e nos orçamentos familiares, à medida que sua prioridade é descartada em períodos de crise económica.

As pessoas estão dispostas a apoiar e a realizar maiores gastos na qualidade do meio ambiente quando estão mais prósperas. Em níveis de rendimento per capita menores, a satisfação das necessidades básicas de alimentação e de habitação ganha prioridade. Quando cresce a rendimento per capita, essas necessidades básicas são cada vez mais satisfeitas e os cidadãos passam a gastar mais em "bens de luxo" tais como nas melhorias dos ecossistemas em que vivem. Da mesma forma, num contexto de crise, quando a economia desacelera, é comum ver-se descartar os bens de luxo da sua estrutura de procura, e tende a haver menos comprometimento com parcelas dos orçamentos públicos e privados com a qualidade do meio ambiente.

Isso ocorre porque, para o pensamento económico tradicional, o meio ambiente é simplesmente uma externalidade, onde os efeitos não intencionais da decisão de produzir ou de consumir de um agente económico causam perdas ou benefícios de bem-estar a terceiros, não compensados e usualmente excluídos dos cálculos económicos dos agentes. Uma típica falha do mercado que tem de ser corrigida por intervenções exógenas das políticas públicas.

Numa visão económica contemporânea, estamos vivendo uma experiência de capitalismo natural em que o meio ambiente não é apenas um fator de produção menos importante, mas um envoltório contendo, provisionando e sustentando a economia. Sistemas empresariais mal concebidos ou mal estruturados, crescimento demográfico acelerado e padrões de consumo perdulários são apontados como causas primárias da perda do capital natural. O elemento diferenciador do capitalismo natural é a hipótese de que se está criando uma nova revolução industrial a partir dos aumentos radicais na produtividade dos recursos naturais.

Em tempos de crise e sem compreender os novos processos do progresso económico futuro, governos desarticularão políticas públicas ambientais em andamento; empresas tratarão os impactos ambientais de seus projetos de capital como peças de enfeite em seus relatórios de marketing social; e os cidadãos resistirão às atitudes transformadoras de uma nova pedagogia ambientalista.

PAULO R. HADDAD

 

 

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