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Museu Comissão Berardo
Fogo Fátuo é a crónica semanal de Rui Cruz para a Comunidade Cultura e Arte

17-05-2019 - Rui Cruz

Rui Cruz é humorista, stand up comedian e um génio (palavras dele). Escreve coisas que vê e sente e tenta com isso cultivar o pedantismo intelectual que é tão bem visto na comunidade artística.

Muitas coisas se passaram nos últimos dias. O Conan Osiris não passou à final da Eurovisão em Israel, claramente boicotado por ter ido para lá cantar com falsetes árabes; discute-se a cor das passadeiras, mas o pessoal continua a não parar nelas; o Game of Thrones está mais parecido com um casamento moderno do que com uma série de TV: 5 anos sólidos seguidos por 3 já em decadência e um final polémico; os bilhetes para o Louis CK no Maxime foram mais rápido do que ele se vem nos camarins… Tudo a acontecer! Mas mesmo assim, nada bateu, quer em graça, quer em mediatismo, as 5 horas de Comissão Parlamentar de Inquérito com Joe Berardo.

Confesso que sou um fã de comissões parlamentares. Primeiro porque me fazem lembrar a minha avó: tal como todos os ouvidos, ela também tem Alzheimer. Segundo… porque é aqui que se prova que Darwin tinha razão, só mesmo a evolução pode explicar o facto das mulheres serem tão melhores do que os homens nestes inquéritos. São os milhares de anos de técnicas de interrogatório, os milhares de anos de “porque é que tens batom na gola da camisa, Carlos António? De quem é este número de telefone, Carlos António? É que nem te atrevas a fazer-te de esquecido, Carlos António…”.

Mas se eu já gostava de Comissões Parlamentares de Inquérito, esta foi o “Sgt. Peppers (…)” delas todas. Há tanto para apreciar… desde o advogado do Berardo, que lhe deu mais cotoveladas em 5 horas do que o Beto Acosta em toda a carreira, passando pelo “eu, pessoalmente, não tenho dívidas” que o Joe atira com a candura de um Vale e Azevedo, até à homenagem ao surrealismo de Buñuel na curta-metragem “Como Cidadão Tentei Ajudar os Bancos”. Maravilha! Museu Colecção Berardo? Pfff… Museu da Comissão Berardo, isso sim fazia-me sair de casa. No entanto, apesar de toda a cara de pau, desfaçatez e bizarria das declarações do comendador, o que mais gostei na Comissão de Inquérito foi a maneira como tanta gente se sentiu ofendida com o Berardo, mas só com ele, que no meio disto tudo, até acaba por ser o menos culpado.

Vamos lá ver, o Berardo, apesar de ter apenas uma garagem, é um milionário. Estavam à espera de quê, que ele pagasse dívidas? E com o que é dele? Também acreditam nos signos ou são parvos só nestas coisas? Meus queridos, os ricos não pagam contas! Aliás, a única diferença entre ricos e pobres é essa, as dívidas. Os pobres pagam as suas. Ele fez o que um gajo de negócios faz: viu uma oportunidade, aproveitou-a e quando correu mal deixou os prejuízos para alguém pagar. Quem fez a maior borrada foi a CGD e o grupo de pessoas que, para tomarem de assalto o BCP, lhe emprestaram dinheiro para comprar acções do banco aceitando como garantia essas mesmas acções e o Banco de Portugal, que em tudo o que meta fiscalização tem olho, mas de José Cid. E aquele olho que ele perdeu no acidente. E estas instituições são públicas! Isto sim, é que me irrita! Porque é que se eu quero fazer um empréstimo de 10 mil euros para fazer obras em casa tenho de ter fiadores e dar garantias bancárias e um milionário (que ainda por cima foi aliciado para aceitar o empréstimo, pois não foi ele que o foi procurar) consegue empréstimos de milhões de um banco público com garantias virtuais? Como é que aceitamos narrativas populistas que dizem que minorias estão a viver à conta do estado com subsídios e que isso esgota os recursos públicos enquanto 1000 milhões da Caixa são “emprestados” a um milionário (fora os outros milhões a outros milionários) para dar um jeito a uns amigos? Como é que vêm falar da fuga ao fisco da classe média e pequeno comércio e no peso que isso tem nos cofres do estado e depois abrem voluntariamente buracos destes sem acompanhamento arqueológico? E porque é que um banco público acha aconselhável emprestar milhões para investir numa coisa tão volúvel como acções de um banco privado numa altura em que a economia estava tão estável quanto o humor de um adolescente?

São estas as perguntas que gostava de ver respondidas. Ia dizer que podia ser mesmo o Carlos Costa a responder, mas eu preferia que fosse alguém que percebesse do assunto. Ou se calhar alguém que não o percebesse tanto.

Fonte: Comunidade Cultura e Arte

 

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