As mulheres, os costumes e a política antes do 25 de Abril
04-04-2014 - Isabel do Carmo
No que diz respeito aos costumes e à moral sexual, as regras eram transversais à sociedade, fosse qual fosse a ideologia, a religião ou a não-religião.
As diferenças eram entre o Norte e o Sul, entre o meio urbano e o meio rural.
A mulher tinha que ser preservada para o casamento, como em qualquer sociedade patriarcal, com os seus atributos, entre eles a virgindade. Para além da virgindade, o risco de gravidez e de ser “mãe solteira”, sinal evidente da falta de “honra”.
Os abortos secretos salvavam a honra, tal como os “casamentos à pressa”, com o namorado que “foi obrigado a casar”.
Depois de casar, quando as mulheres eram trabalhadoras ou camponesas, saíam para o espaço público. Quando eram “domésticas” porque “não precisavam de trabalhar”, ficavam reduzidas ao espaço privado, mesmo que fosse pobre. Essa geração de mulheres são as que hoje têm dificuldade em andar sozinhas na rua, desorientam-se, caiem sem motivo. Sabe-se hoje em investigação que as quedas na rua são mais frequentes nas mulheres, sem se perceber a causa. É uma geração de mulheres que se comportam como animais de cativeiro a quem abriram a porta.
Quanto à participação na política passaram de um pico de actividade durante o período republicano e o Conselho Nacional das Mulheres para uma dupla sombra, a do Estado Novo e a do “companheiro”.
O Estado Novo estabeleceu ideologicamente o papel da mulher, mãe e esposa. As estruturas políticas passaram-na à categoria de “companheira”, uma espécie do amigo mais fiel do homem. E assim atravessou na sombra, com heroicidade, os anos da ditadura, com assomos de independência nos últimos anos. E uma explosão à luz do dia no 25 de Abril de 74.
Rubra
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