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A importância de um Arquivo, mas para todos!

04-04-2014 - Soraia Simões*

Julgo ser consensual que os arquivos fonográficos assumiram um papel fulcral no incentivo dos estudos sistemáticos de música popular, sobretudo não europeia, no âmbito de universidades na Europa especialmente as correspondentes a países de língua germânica no início do século XX. Esses arquivos passaram a representar para a música não escrita, no domínio das manifestações orais por exemplo, o mesmo que os arquivos compostos por manuscritos representaram para a investigação ou pesquisa sobre a música erudita a partir do século XIX.

Do ponto de vista histórico, várias abordagens em campos actuantes da música (antropologia, direito, educação, entre outros) desde o início do século XX procuraram, sob perspectivas várias, salientar a importância da música em contextos significativos: temáticos, no domínio da tradição oral, dos direitos autorais, no relacionamento entre as abordagens científicas e as humanísticas ou no intercâmbio da alteridade manifestada pelos processos sociais que a envolvem, tendo em conta o seu papel em vários aspectos da vida em sociedade, sejam eles simbólicos, éticos, políticos ou económicos.

Hoje quando se passa pelo assunto: necessidade em ter um arquivo sonoro em Portugal, sejam os documentos que o preencherão: sonoros, sonoro-musicais, fonográficos, sonoro-digitais, ou tudo em conjunto, dá-me a entender que se fala sem saber ou sem ter em conta que um dos principais factores que impossibilitaram, no seio da música popular, a sua escrita prendeu-se com a dificuldade em interpretar os seus significados, que fizeram com que o uso de meta-linguagens e de um domínio circunscrito aos próprios músicos criasse uma barreira para a maioria da sociedade.

A tentativa de concretização de objectivos públicos não pode nem descurar as áreas de conhecimento referidas, nem se perder, nesse seu objectivo, com uma terminologia carregada de calão cultural e científico apenas. Tem, tudo isto, que resultar de um contacto permanente com a criação musical e os indivíduos (seja como parte activa no processo seja como observador, a espaços, participante) e um compromisso com a produção de textos contextualizantes perceptíveis a todos, para que o desenvolvimento das suas discussões ou reflexões, a salvaguarda e disposição desses documentos para estudiosos ou apenas curiosos, contenham a transcrição de registos gravados em tempo real dos autores e envolvidos em cada um dos campos que se aborda.

A oralidade permite que a sociedade no geral, em particular os leitores que dela fazem parte, se sintam ouvintes e o estudo partilhado no texto permite através da inclusão desses dados recorrentes do terreno: o jargão, a metáfora, a gíria musical-cultural, a linguagem particular daquele espaço ou tempo, o derrotar de uma série de obstáculos que a retórica só académica preserva. Não deixando, pelo contrário aliás, de manter os conteúdos sociais e culturais mais profundos de cada campo (ou tema) abordado.

*Estudos de Música Popular, Presidente Associação Mural Sonoro

 

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