| Um país na solidão dos atormentados
17-03-2017 - Isabel Lucas
A Forma das Ruínas junta autobiografia e política num relato sensível e cru da condição de se nascer colombiano no tempo do narcotráfico.
No dia 15 de Outubro de 1914, o general liberal Rafael Uribe Uribe era assassinado em Bogotá. Mais de três décadas depois, a 9 de Abril de 1948, Jorge Eliecer Gaitán, candidato a presidência da Colômbia, também um liberal, morria, vitima de disparos numa rua da mesma cidade. Como seria a história da Colômbia sem estes assassinatos? A pergunta tornou-se uma obsessão para o escritor Juan Gabriel Vásquez que a transformou no ponto de partida de um romance tão íntimo quanto político no qual cruza a sua história pessoal com a do país onde nasceu há 44 anos e de onde fugiu em 1996, era um jovem adulto incapaz de tolerar a violência gerada pelo narcotráfico. Anos depois, conclui: “Não, não se foge da violência colombiana e eu deveria ter tido noção disso. Ninguém foge, mas menos ainda as pessoas da minha geração, a que nasceu com o narcotráfico e chegou à vida adulta quando o país naufragava no sangue da guerra que lhe declarou Pablo Escobar.”
A Forma das Ruínas é o quinto romance (se excluirmos os dois primeiros que o autor quis rejeitar) de Juan Gabriel Vásquez, talvez o escritor mais celebrado da actual literatura colombiana, alguém que sem renegar a tradição do realismo mágico quis romper com esse legado para se fixar na narrativa crua da violência e do medo, da política e das relações pessoais no seu país. Livros como O Barulho das Coisas ao Cair (Alfaguara 2012) e As Reputações (2015) afirmaram a solidez de uma escrita com contágios universais, sobretudo das literaturas europeias e norte-americanas, mas onde a voz de Vásquez foi capaz de encontrar a sua singularidade. Aqui não é diferente.
Em 2005, ao regressar a Colômbia para um período de férias quando estava a viver em Barcelona, Juan Gabriel Vásquez e a sua mulher Mariana —no livro identificada por M —são surpreendidos com o nascimento prematuro das suas filhas gémeas, o que faz com que a estada se prolongue e Vásquez se envolva numa obsessão que começou por não ser a sua, mas a de Carlos Carballo, que ele viu ser preso ao levar uma fixação ao extremo. A história desse homem e a rede de episódios e de pormenores que a alimentou acabaram por tomar conta também da cabeça do protagonista/autor: o enigma da morte de Jorge Elicier Gaitán e uma hipotética ligação com o assassinato de John Kennedy. “Sim, admirei a intensidade da mentira, ou melhor, a intensidade do desejo que justificara ou criara a mentira.”
A Forma das Ruínas
Autoria:Juan Gabriel Vasquez
(Trad. Vasco Gato)
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