As damas ofendidas
31-01-2014 - Francisco Pereira
Uns dos ícones incompreensíveis desta nossa sociedade são as “damas ofendidas”. Ontem criticavam ferozmente o pacóvio, hoje defendem-no. Ontem apontavam-lhe os vícios, verdadeiros e ou inventados, hoje santificam-lhe as acções.
Le roi est mort, vive le roi! Dirá Carlos VII de França após o falecimento do seu pai o rei Carlos VI em 1422 e assim tem sido quase sempre, mas em Portugal temos o condão de apagar a memória, de passar uma esponja pelas acções más, exultando e santificando os defuntos reais e políticos, é vulgar ouvir dizer sobre alguém que faleceu e que era um bandalho, “… coitado até não era má pessoa…”
É esta coisa muito portuguesa de doirar a pílula que transtorna ao ponto de nos fazer saltar fora de nós. Que porra! Esta gente não tem memória, com mil escafandros esventrados! Que triste carneirada é esta? Ora é o nosso povinho, que efectivamente é extremamente falho de memória, não será inteiramente desmiolado mas o uso que faz do cérebro é muito pouco, não vá dar-se o caso de o gastar.
Estas lucubrações trazem-me à memória o que o jornal oficial de França dizia sobre Napoleão quando este em Março 1815 se escapuliu da Ilha de Elba e desembarcou com um punhado de seguidores na costa francesa, então a dia 9 de Março de 1815 as manchetes do jornal “Le Moniteur” diziam o seguinte; “O Monstro escapou do local para onde fora banido” uns dias depois a 18 do mesmo mês; “ O Usurpador aventurou-se e está a 3 dias de marcha de Paris” finalmente a 22 de Março o título enorme anunciava o seguinte “ Ontem à noite Sua majestade Imperial entrou no Palácio das Tulherias, que grande alegria sentimos todos”.
Por cá faz-se o contrário, enquanto o monstro tinha poder, mordia-se pela calada, poucos éramos os que falávamos contra, criticavam-se os excessos em surdina, apontavam-se os abusos de poder, o nepotismo a corrupção a falta de carácter pessoal e moral, hoje ficam todos mortificados porque tiraram aquela fotografia ou aquele vídeo de um qualquer sítio institucional, tenham santa paciência. Não há pachorra para damas ofendidas, e cretinices da mesma igualha.
Francisco Pereira
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