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Nelson Mandela: Os 100 anos do pai da nação arco-íris

20-07-2018 - Ricardo Alexandre e José Guerreiro

Pode não parecer pela grafia, mas Mandela rima com Liberdade. A TSF conta-lhe como foi a vida de um homem extraordinário.

Nelson Mandela nasceu há cem anos. Mudou um país e marcou o mundo. Da etnia Xhosa, Mandela pertencia à família real de Mvezo. Estudou Direito em Fort Hare, começou a dedicar-se à advocacia em Joanesburgo, onde foi preso em Agosto de 1962. Tinha entrado para o ANC 20 anos antes.

Vestido com um casaco, boné na cabeça e óculos escuro, Nelson Mandela é preso juntamente com o amigo Cecil Williams, durante uma operação policial na estrada, em Cedara, localidade nas imediações de Howick, na província do KwaZulu-Natal. O jovem advogado é acusado de incitar trabalhadores negros a fazerem greve, realizada em finais de maio do ano anterior 1961 e de tentar sair do país sem passaporte.

Era o tempo em que Mandela já defendia o fim do apartheid e deixava no ar a ameaça do recurso à luta armada, como o fez na entrevista a Brian Widlake, da ITV: "Há muita gente que pensa que é escusado e sem sentido continuarmos a falar de paz e não-violência, contra um governo cuja única resposta são ataques selvagens sobre pessoas desarmadas e indefesas. Penso que chegou o tempo de considerarmos, à luz da nossa experiência, se os métodos que temos usado até aqui, são adequados". Em Agosto de 1962 foi preso. Era apenas o início de 27 anos e meio de privação de liberdade.

Comparecem no Palácio da Justiça em Pretória, a 9 de Outubro de 1963 Mandela e outros dez réus. No julgamento que ficaria conhecido como o Processo de Rivónia, Mandela e companheiros são acusados de 222 crimes de sabotagem. O Estado alega que o propósito dos réus era provocar o caos, desordem e tumulto na batalha contra o Homem branco neste país.

A 3 de dezembro Mandela e os outros nove réus declaram-se inocentes. Em março do ano seguinte o Estado dá por concluída a acusação.

É do julgamento de Rivónia, a 20 de abril de 1964, um dos mais famosos discursos de Madiba.

Vestido impecavelmente com um fato azul, perante um tribunal cheio, Mandela começa a defender-se, fala durante quatro horas e termina com a célebre frase de que está disposto a morrer por uma África do Sul não racista e democrática:  "Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu enalteci o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e alcançar. Mas, se necessário for, é um ideal pelo qual estou preparado para   morrer" .

Quando Mandela terminou, fez-se silêncio... como recorda quem lá esteve: "Houve um silêncio de morte, mesmo o juiz ficou em silêncio sem saber o que dizer." Em Junho de 1964, o juiz Quartus de Wet condena Nelson Mandela e outros sete militantes do ANC a prisão perpétua..Os réus esperavam ser condenados à morte, por isso desataram a rir, recorda Ahmed Kahtrada, camarada de Mandela: "Nós rimos. Virámo-nos uns para os outros e rimos, porque estávamos à espera de ser enforcados."

No dia seguinte, estavam a caminho de avião para a prisão em Robben Island, onde Mandela iria passar quase dezoito anos de cativeiro numa cela minúscula:  "Tentámos aceitar a realidade de que de facto poderíamos ter de passar muitos anos na prisão" , afirmou Mandela anos depois de ser libertado,  "mas acreditámos de forma muito forte que não morreríamos na cadeia. Voltaríamos" .

Já presidente da África do Sul, Mandela visitaria a cela onde tinha passado 17 anos de vida antes de ser transferido para a Prisão de Segurança Máxima de Pollsmoore na cidade do Cabo:
"Uma das coisas que para mim é difícil compreender é por que passámos tanto tempo aqui. Houve momentos de alegria, mas claro que houve momentos dolorosos porque o regime do apartheid era especialista em pressionar e perseguir as pessoas psicologicamente".

Robben Island, a prisão que ia mudar o homem que nunca quis ser santo, assumindo-se como alguém que errava mas com o objetivo de fazer melhor aos outros, como afirmou nessa visita à reportagem da BBC:
"Sabe, o facto de poder sentar e estar só e pensar, deu-nos uma oportunidade maravilhosa para nos nos transformarmos e mudar o nosso comportamento. Senti-me bastante envergonhado porque me tinha ocupado muito com a política e com a lei, e esqueci muita gente que foi muito gentil comigo quando cheguei a Joanesburgo. Disse: se alguma vez tiver a oportunidade de sair daqui, como sempre achei que sairia não importava quanto tempo demorasse, vou tentar corrigir as minhas falhas".

Nelson Mandela foi libertado dois dias depois de ser levado da prisão, de madrugada, para um encontro com o então presidente Frederick de Klerk. Era 11 de Fevereiro de 1990, 16h22, quando Mandela saiu da prisão de Viktor Verster, na Cidade do Cabo, de mãos dadas com a então mulher, Winnie Mandela.

Da varanda da Câmara Municipal, perante o caos que se instalava na cidade com confrontos entre a polícia e militantes do ANC, fala à multidão. A África do Sul estava a mudar! O apartheid perto do fim. Mas muito sangue iria correr num país sem tempo para enxugar lágrimas.Na Primavera de 1993, a África do Sul está à beira de uma guerra civil. A 10 de abril um extremista branco mata Chris Hani, líder dos comunistas sul-africanos, um dos homens mais populares do país.

Hani tinha sido membro do braço armado do ANC. Para Mandela era como um filho. A morte de Chris Hani, deixou a África do Sul no limiar de uma guerra civil.

O célebre jornalista John Carlin, autor do livro que deu origem ao filme Invictus, que tem estado nos últimos dias em Lisboa, no âmbito das celebrações do centenário de Mandela, organizadas pelo Instituto Padre António Vieira e dirigidas por Rui Marques, estava na África do Sul como correspondente nessa altura. Recordou, numa sessão a que assistiu a TSF, como foi decisiva a intervenção de Mandela num discurso na televisão na noite do homicídio do segundo homem mais popular do pais.

O governo branco do apartheid tardava em marcar a data para as primeiras eleições livres e multipartidárias, mas foi nesse momento após a morte de Chris Hani que, na opinião de Carlin, antes mesmo de o ser, Mandela já era presidente da África do Sul:
"Aqueles que estávamos na África do Sul na altura, pensámos que era o limiar do precipício, um pesadelo, o último pesadelo de uma guerra civil racial. Eu vi como as pessoas na township de Boksburg estavam furiosas como o diabo! Mandela teve de fazer esse discurso em direto na rádio e televisão nessa noite. E é nesse momento que se torna presidente da África do Sul! Não havia nada que De Klerk pudesse fazer! Mesmo antes de ser eleito: a partir daí ele já é o presidente da África do Sul."

Em 1993 Nelson Mandela e o ainda chefe de estado Frederick de Klerk recebem o Nobel da Paz e as primeiras eleições realizam-se a 27 de abril de 1994. A tomada de posse foi a 10 de maio.

Nelson Mandela pelo olhar do jornalista que bem o conheceu, John Carlin:

John Carlin Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

 

"Eu penso que é muito muito importante para compreender Nelson Mandela não colocar ênfase principal nas suas qualidades morais como se de um santo se tratasse; na sua capacidade de perdoar e em tudo isso. Mandela foi, acima de tudo, um animal político. Um líder político fora-de-série, provavelmente o melhor desde Abraham Lincoln."

"Estou confiante de que nenhum dos presentes aqui hoje me acusará de egoísmo se eu pedir para passar mais tempo, enquanto estou de boa saúde, com a minha família, os meus amigos e também comigo próprio".

Mandela deixou a presidência da África do Sul em 1999, deixou a vida política em 2004 e morreu a 5 de dezembro de 2013. Tinha 95 anos. As duas últimas mulheres, Winnie Mandela e Graça Machel, estavam lado a lado a confortarem-se mutuamente durante às cerimónias fúnebres em Kunu, no regresso a casa do corpo de Madiba, o pai da nação arco-íris que tanto lutou para ajudar a construir. Um sonho ainda e sempre em construção.

Fonte: TSF

 

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