Espanhóis arrasam capacidade de Portugal no combate aos incêndios
23-06-2017 - SV
A tragédia de Pedrógão Grande está a pôr em causa o dispositivo português de combate aos incêndios, e de Espanha chegam críticas arrasadoras. Fala-se em “inoperância” e numa “preocupante ausência de meios”, considerando-se que Portugal “não está preparado para fazer frente ao fogo”.
Num artigo intitulado “ A inoperância de Portugal na luta contra os incêndios”, estas críticas espanholas surgem no jornal El Mundo que nota que “não é aceitável que, em pleno Século XXI, num país da União Europeia, um incêndio florestal origine um número de vítimas mortais tão elevado”.
Um dado ainda mais inaceitável considerando “os antecedentes dos últimos anos”, lembra o diário espanhol, concluindo que o "terrível episódio” de Pedrógão Grande mostra que “Portugal não está preparado para fazer frente ao fogo” .
O El Mundo lembra que se trata da “tragédia com mais mortes, em apenas um fogo, em quase um quarto de Século em todo o mundo”, o que revela “a inoperância e alarmante falta de recursos do Estado luso para fazer frente aos incêndios florestais”, conclui.
Estamos a falar de “um flagelo que, todos os anos, chicoteia com especial virulência” Portugal, “sem que se tenham adoptado medidas proporcionais para o combater”, realça ainda o jornal, notando que as autoridades lusas foram “completamente esmagadas” pelas circunstâncias de calor extremo e ventos fortes.
Para o diário é evidente que o efectivo colocado em operação foi “claramente insuficiente para controlar, delimitar e, finalmente, extinguir um incêndio de proporções tão devastadoras”.
E o país também “ não levou a cabo os melhores trabalhos preventivos , nem tão pouco dispõe de um dispositivo óptimo para controlar” os fogos, considera o El Mundo, referindo a “ineficácia das equipas” e uma “preocupante ausência de meios” .
“A crise e o resgate económico diminuíram consideravelmente a capacidade de investimento do Executivo luso”, considera ainda o jornal, realçando porém, que isso não pode justificar a “desatenção” para com uma “ameaça tão grave e preocupante como é a dos incêndios”.
Falha no sistema de comunicações
Entretanto, o Jornal de Notícias adianta que as antenas que suportam o sistema de comunicação para as situações de emergência falharam. O secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, já admitiu esta lacuna que pode ter comprometido severamente uma resposta mais rápida ao incêndio.
O JN nota que “várias antenas” do sistema de rádio de informações que ajudam a coordenar todas as forças da Protecção Civil “não resistiram ao incêndio” e arderam , e “não havia recursos imediatos nas comunicações para colmatar o vazio, tanto mais que a rede de telemóvel também estava gravemente afectada”, aponta o diário.
Governo já pediu explicações
Jorge Gomes adiantou, no especial “Prós e Contras” da RTP sobre o incêndio em Pedrógao Grande, que o Governo vai investigar as circunstâncias em que ocorreu a tragédia.
O primeiro-ministro António Costa já fez “um despacho em que exige esclarecimentos ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera para saber as condições atmosféricas e climáticas naquele dia”.
O governante “pôs como exigência saber se houve falha de comunicações do Estado” e também pediu esclarecimentos sobre “o encerramento ou não da estrada nacional onde se deu o fatídico caso”, apontou ainda o Secretário de Estado na RTP. Jorge Gomes também prometeu que o Executivo não vai permitir que “a culpa morra solteira”.
Plano contra incêndios não é avaliado há 4 anos
Entretanto, o jornal Público aponta que o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, que deveria ser avaliado de dois em dois anos, está há quatro anos sem qualquer avaliação.
O diário refere que o último relatório de supervisão do Plano respeita a 2011/2012 e que nem este foi divulgado publicamente. O Ministério da Agricultura garantiu que seria tornado público ainda hoje.
Por outro lado, há várias propostas do Governo para a floresta que estão paradas “há dois meses na comissão de Agricultura” , avança também o Público.
O jornal refere, nomeadamente, propostas sobre o cadastro florestal, o Banco Nacional de terras, os benefícios fiscais para a gestão florestal, o regime jurídico da arborização e rearborização e o Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.
“Nem o Governo, nem a Assembleia da República estão a dar celeridade” à questão, conclui o Público, lembrando que “o prazo de 60 dias para a discussão” destes diplomas termina nesta quarta-feira, 21 de Junho.
Fonte: Zap
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