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"Invasão da Rússia destruiu muitas crenças de longa data na política externa da Alemanha"

29-04-2022 - Leonídio Paulo Ferreira

"Guerra contra a Ucrânia: um ponto de viragem para a Europa?" é o título do debate esta quarta-feira às 19.00 no auditório do Goethe-Institut em Lisboa. Investigador político e economista da Stiftung Wissenschaft und Politik (Berlim), Janis Kluge é um dos participantes, juntamente com a investigadora ucraniana Ljudmyla Melnyk, do Institut für Europäische Politik (Berlim), Mónica Dias, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, e Ana Santos Pinto, ex-secretária de Estado da Defesa e professora universitária.

Esta guerra na Ucrânia é um teste para a coesão da NATO e da UE?

Tanto a NATO quanto a UE agiram em uníssono desde o início da guerra. Inicialmente, a invasão da Rússia fortaleceu a coesão de ambas as instituições e do Ocidente de forma mais ampla. No caso da NATO, a guerra pode até levar a novos membros, já que Finlândia e Suécia estão a pesar prós e contras para entrar na aliança. As medidas tomadas para apoiar os militares da Ucrânia, mas também as sanções contra a Rússia, foram estreitamente coordenadas. No entanto, será mais difícil chegar a acordo sobre novas sanções e desafiar a coesão da UE. As rodadas iniciais de sanções foram mais fáceis, porque os custos para os membros da UE foram menores. Agora, as relações energéticas são quase tudo o que resta para sancionar, e alguns Estados-membros com profundas dependências estão a tentar retardar o processo.

Como vê a decisão alemã de investir muito mais em defesa após a invasão russa da Ucrânia?

A Alemanha investiu pouco nas suas forças armadas durante grande parte dos últimos trinta anos. A defesa não era uma questão premente, porque não havia ameaça percetível ao país. Ter um exército forte era visto como algo anacrónico e agressivo. O investimento anunciado de 100 mil milhões de euros parece muito e é um passo político significativo. No entanto, pode não ser suficiente para cobrir o subinvestimento dos últimos anos.

Quão justa é a crítica do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ao homólogo alemão Frank-Walter Steinmeier sobre a sua complacência em relação à Rússia quando foi ministro dos Negócios Estrangeiros da chanceler Angela Merkel?

A invasão da Rússia destruiu muitas crenças de longa data na política externa da Alemanha. Estamos apenas a começar um processo de reflexão sobre como as nossas perceções podem ter sido tão erradas. Embora as críticas se tenham concentrado Steinmeier, ele certamente não é o único responsável. No entanto, Steinmeier tornou-se o símbolo da cautela equivocada da Alemanha para não irritar a Rússia. Há um histórico de decisões e declarações questionáveis ​que dizem respeito à Ucrânia em particular. Portanto, a crítica é justa, mas Steinmeier não deve ser destacado. A mesma crítica pode ser feita contra a própria Merkel e muitos dos seus ministros.

A Alemanha está preparada para um longo conflito entre o Ocidente e a Rússia? Em termos de energia e competitividade económica?

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a Alemanha não estava preparada. As medidas tomadas desde então são bastante radicais para os padrões alemães. Sobre o ministro da Economia, Robert Habeck, há uma pressão séria para não importar mais energia russa, embora Berlim insista que isso deve ser feito ao longo do tempo, e há dúvidas sobre quão forte o compromisso será. Mas a Alemanha pode ser bastante competitiva economicamente sem a energia russa. No longo prazo, algumas indústrias que dependem de combustível fóssil barato podem encolher na Alemanha, mas esse era o plano de qualquer maneira no contexto da transformação energética do país. E essas indústrias são muito menos a espinha dorsal da economia da Alemanha, como muitas vezes se acredita.

Em 1999, na guerra da NATO contra a Sérvia, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha era dos Verdes. Agora, nesta disputa com a Rússia, a diplomacia está novamente sob controle verde. De pacifista a intervencionista, é essa a história desse partido? Ou é sobre intervencionismo humanitário?

Os Verdes mostraram um pragmatismo notável e parecem ser o partido que melhor se adapta à nova realidade. O partido é mais jovem do que os outros partidos tradicionais do Bundestag e produziu políticos com pensamento mais independente, evitando o emaranhado de redes de lobby. Também não caiu em armadilhas ideológicas, como, por exemplo, a Ostpolitik do SPD. Finalmente, os Verdes não estavam no poder há 16 anos. É mais fácil para os políticos verdes separarem-se dos erros do passado.

Fonte: DN.pt

 

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